superar as adversidades postas pela natureza, preferiam competir e destruir aos outros. As
crianças apresentaram dificuldade em compreender conceitos como soldado, exército, guerra,
o porquê de jovens perderem seus anos de formação, “aprendendo a arte de matar seus
semelhantes e a arte de obedecer seus iguais” (RYNER, 2014, p. 216).
Na aula seguinte, Makima utiliza um Manual de Morale Civique para falar sobre de que
se tratava uma eleição. As crianças acharam engraçada e incompreensível a noção do voto.
Também ficam intrigadas que Jaques, que “não parece tão estúpido”, tenha cumprido sua
“obrigação cívica”. Perguntam se ele tinha sido treinado para matar outras pessoas e se tinha
ido à uma guerra. Jacques responde que sim, tinha participado de uma guerra desimportante
contra “selvagens”. Questionado sobre o que significava este termo, ele responde que eram
pessoas “mais fracas e menos malvadas que os franceses” (RYNER, 2014, p. 222). As crianças,
espantadas, perguntam se eles eram mortos para serem punidos por serem mais fracos e
moderados, ao que ele, enfaticamente, responde “Eles são mortos de forma a civilizá-los!”
(RYNER, 2014, p. 222). Uma das crianças, uma menina chamada Telos, diz que não estava
entendendo nada e Jaques, didaticamente, explica que os selvagens eram como crianças
desobedientes que precisavam ser corrigidas. Ao colocar o questionamento na voz de uma
menina, Ryner chama a atenção para a importância da coeducação igualitária, princípio
educacional defendido pelos libertários (LENOIR, 2015).
Telos, novamente, questiona se, para obedecer, as pessoas têm que ser ordenadas a
fazerem algo, ao que Jaques responde afirmativamente. Telos replica, “mas é mau comandar.
E se uma pessoa louca comanda é mau obedecer. Explique para mim porquê crianças e pessoas
fracas devem obedecer” (RYNER, 2014, p. 223). Na falta de resposta, Jaques afirma que Telos
o estava aborrecendo e se estivesse na França teria puxado suas orelhas. Telos contesta que
Jacques não está na França e pede uma explicação racional. Na falta de maiores argumentos,
Telos conclui que “Jacques é muito estúpido. Será necessário educá-lo, Makima” (RYNER,
2014, p. 223). O diálogo expõe a visão autoritária de educação adotada por Jaques, de caráter
impositivo e punitivo, voltada para a docilização e disciplinarização do indivíduo. Telos, por
sua vez, expressa a visão anarquista de que a educação baseada na razão, no livre exame e no
espírito crítico “seria fatal à autoridade” (MAHÉ apud LENOIR; GAMBART, 2018, p. 69).
Na aula seguinte, o livro estudado passou a ser o catecismo publicado pela Diocese de
Paris. As crianças ficam estupefatas e gargalham com ideias que consideram incongruentes,
como quando o catecismo afirma que “há três pessoas, cada uma delas é Deus, e, contudo, há
somente um Deus” (RYNER, 2014, p. 227), ou que uma virgem teve um filho. Quando Jacques
reage acusando Makima de ser desrespeitoso para com suas crenças e mistérios, Makima