O vegetarianismo, ou seja, a ausência da carne (por carne entende-se também
peixe, aves e ovos) na dieta habitual da maioria dos habitantes da Terra, é
antiquíssima norma de vida, recomendada pelas mais seguidas religiões e
correntes filosóficas. Buda, Lao Tsé, Pitágoras, Platão, Diógenes, Sócrates,
Epícteto, Epicuro, Ovídio, Plutarco, Tertuliano, São João, Crisóstomo, São
Clemente de Alexandria, Leonardo da Vince, São Francisco de Assis,
Cervantes, Spinoza, Descartes, Darwin, Voltaire, Rousseau, Tolstói, Elisée
Réclus, Ruskin, Lázaro Luíz Zamenhof, Thoreau, Albert Shweitzer, Albert
Einstein, Jean Rostand G. Bernard Shaw, Han Ryner, E. Armand, Maria
Lacerda de Moura, Annie Besant, Leadbeater, Krishnamúrti, José Oiticica,
Alex Carrel etc., etc., tantos dos mais notáveis homens de todos os tempos,
foram ou são vegetarianos. Entre os cristãos, contam-se, além de outros, os
Adventistas do Sétimo Dia, que desenvolvem em todo mundo fecunda
atividade a favor do vegetarianismo, e as ordens monásticas católicas
Trapistas, Cartuxos e Cameldulenses. (NEVES, 1980, p. 214)
Roberto das Neves, também vegetariano, demonstrou nesta obra a relação do
vegetarianismo com as práticas libertárias e a busca por uma vida no campo ligada às
comunidades libertárias agrícolas, grupos que procuravam afastar-se dos centros urbanos e
praticar uma produção de alimentos autossustentável, além de afastar-se das guerras e da
industrialização. Se o veganismo é recente na história das relações interespécies, o mesmo não
podemos dizer do vegetarianismo como vimos na citação acima.
Em sua obra A política sexual da carne: a relação entre carnivorismo e a dominância
masculina, Carol Adams (2012) identifica mulheres vegetarianas ligadas às reivindicações
feministas. Segundo ela, no século XIX muitas mulheres tornaram-se vegetarianas e
escreveram sobre a necessária libertação delas mesmas e das outras espécies. Mulheres como:
Agnes Ryan (1878–1954 – EUA); Annie Wood Besant (1847, Inglaterra – 1933, Índia); Clara
Barton (1821-1912 – EUA); Elizabeth Cady Stanton (1815-1902 – EUA); Lou Andreas-
Salomé (1861, Rússia – 1937, Alemanha) e Matilda Joslyn Gage (1826-1898 – EUA) foram
precursoras da alimentação sem carne e da luta contra o uso de animais na ciência e na
indústria, sobretudo na luta antivivisseccionista.
Ao ler a obra de Maria Lacerda ([1931] 2020; 1932), é possível analisar a sua visão
sobre o uso dos animais na ciência e na indústria. Nessa obra ela critica o modelo de
apropriação do conhecimento tecnológico e científico pelo capitalismo, principalmente por
favorecer o enriquecimento de poucos em detrimento de uma multidão operária mal
remunerada. Seguindo a perspectiva anarquista ela percebe a tecnologia e a ciência como
potencialmente emancipadoras, porém, apegadas ao modelo capitalista, que sacrifica a vida em
nome do progresso social, político e econômico de uma minoria da elite política e da