física. Meu pai costumava me dizer como era divertido ser ao mesmo tempo estudante e
assistente (ou monitor). Mas a dinâmica da ciência fez com que ele não completasse seu
diploma: em 1956, a Universidade de Pádua ofereceu-lhe uma bolsa de estudos de um ano para
desenvolver câmaras de bolhas. Então foi para a Itália. Para refinar este retrato, deve-se notar
que Jean (então perfeitamente trilíngue, falando além de alemão, francês e português sem
qualquer sotaque) aprendeu italiano, que ele dominou rapida e perfeitamente. Ele criou
amizades com outros físicos italianos, incluindo jovens que lhe permaneceram fiéis até sua
morte. Quando o ano em Pádua terminou, o retorno a São Paulo teria sido natural. Mas o Centro
Francês de Pesquisas Atômicas (CEA) ofereceu-lhe um cargo em Saclay, nos arredores de
Paris, para continuar sua pesquisa.
Este período foi um ou “o” das grandes colaborações internacionais, intercâmbios com
times nos EUA (o SLAC em Stanford fez-lhe uma proposta que ele recusou), Batavia perto de
Chicago, Serpoukhov na URSS, e especialmente o CERN que se tornaria o maior laboratório
de partículas elementares do mundo. Todos esses pesquisadores, competindo, é claro,
constituíram também uma comunidade de cientistas amigos, criativos, e para aqueles que tive
a chance de conhecer, curiosos, originais e alegres.
Era natural que meu pai fosse contratado pelo CERN, em um desses cargo de prestígio
de físicos permanentes. Além de um salário gratificante, havia um ambiente de físicos,
engenheiros, técnicos do mais alto nível, que meu pai muitas vezes elogiava.
Uma característica, certamente ligada às suas próprias qualidades, mas que também testemunha
um mundo desaparecido, é que meu pai nunca, em toda a sua carreira, teve que se candidatar a
qualquer posição que fosse. Como ele gostava de lembrar, ele nunca escreveu um Curriculum
Vitae em sua vida.
Depois de cinco anos em uma posição considerada como auge da carreira de um físico,
ele tomou uma decisão - não única, mas muito rara - de pedir demissão. Para ele, que era um
emigrante, e imigrante, sua gratidão - e ternura - pelo Brasil era imensa. Ao longo de seus anos
na Europa, ele pensara em voltar muitas vezes. As turbulências políticas e os sucessivos golpes
no Brasil adiaram seu retorno até o final de 1974.
DE PARTÍCULAS ELEMENTARES A ENERGIA NOVA E RENOVÁVEL: O
SEGUNDO RETORNO AO BRASIL
Jean Meyer queria voltar "para casa", pelo menos para este país, do qual ele se sentia
tão próximo. As ofertas eram inúmeras, mas ele teve a ideia de um projeto inovador e visionário,