participado como peça central do debate sobre os rumos da educação brasileira. Por meio de
um manifesto “Mais uma vez mais convocados...” o CRPE de São Paulo iniciava a luta pelo
ensino público universal, obrigatório, laico e gratuito, ideia já esboçada no “Manifesto dos
Pioneiros”, mas que se tornava premente graças ao empenho e engenhosidade política de Anísio
Teixeira (BONTEMPI, 2020). Na ocasião, havia se cristalizado, por parte da Igreja e de
empresários, o projeto de privatização do ensino, desobrigando o Estado dessa reponsabilidade,
em nome da liberdade de ensino, conforme reiterava o deputado Carlos Lacerda. A defesa do
ensino público se fazia então sensível, unindo intelectuais de amplo espectro político, de liberais
históricos ligados ao jornal “O Estado de São Paulo” até escritores católicos, lideranças
socialistas, líderes sindicais, deputados de diferentes partidos políticos.
A Campanha em defesa da Escola Pública, como foi chamada, proporcionou a
oportunidade de intelectuais encontrarem um denominador comum e, na arena pública,
desenvolver atuação intensa, por meio de palestras, viagens, debates, conferências, publicação
de artigos etc. Logo, as discussões que acompanharam a tramitação das leis de Diretrizes e
Bases de 1961 se ampliaram e aglutinaram ao redor de seus temas diferentes visões, abrangendo
nomes como Florestan Fernandes, Fernando de Azevedo, Almeida Júnior, Anísio Teixeira,
Nelson Werneck Sodré, Cesar Lattes, Ruy Coelho, Fernando Henrique Cardoso, Sérgio
Buarque de Holanda, Darci Ribeiro, Laerte Ramos de Carvalho, João Eduardo Villalobos,
Roque Spencer Maciel de Barros, Maria Amélia Americano Domingues de Castro José Arthur
Gianotti, Ruth Cardoso, Oracy Nogueira, Cecilia Meireles, Celso Beiseguel, José Mário Pires
Azanha, Perseu Abramo, Caio Prado Júnior e muitos outros (AZANHA, 1999). Foram as
lembranças dessa campanha, junto com as memórias de formação na antiga Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, que o golpe de 1964 e o AI 5, aumentando ao máximo a voltagem
ideológica, colocaram em curto-circuito, estilhaçando em posições radicais o que antes traduzia
certa continuidade política de inspiração iluminista.
Na época mais dura da repressão, algumas questões não podiam ser pensadas com a
necessária cautela. O mundo se dividia claramente entre esquerda e direita, embora já se
soubesse que podiam existir esquerdistas mesquinhos e direitistas capazes de grandeza. Na
ditadura era preciso manter posições categóricas, e mesmo a crítica a posições extremistas de
esquerda se tornava paradoxal quando militantes de esquerda eram presos e assassinados. Não
era visível para mim, nessa época, diferenças entre o que os professores Laerte Ramos de
Carvalho e Roque Spencer Maciel de Barros pensavam. Achava que tinham as mesmas
posições, tanto por suas posições, quanto pelo fato de coincidirem em manifestar abertamente
seu anticomunismo. Fundamentavam suas opiniões em aula recomendando os romances de