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A FACULDADE DE EDUCAÇÃO PELA CLIVAGEM DOS LIVROS: BIBLIOTECA
DO LIVRO DIDÁTICO E BIBLIOTECA PAULO BOURROUL
Circe Bittencourt
Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, Brasil
circe@usp.br
Carolina Mostaro Neves da Silva
Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, Brasil
carolmostaro@yahoo.com.br
Carlota Boto
Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, Brasil
reisboto@usp.br
RESUMO
Este artigo propõe-se a reconstituir a trajetória de dois acervos reservados da Biblioteca da
Faculdade de Educação da USP: a Biblioteca do Livro Didático (BLD) e a Biblioteca Paulo
Bourroul. A Biblioteca do Livro Didático constituiu-se a partir dos anos finais de 1980, quando
ocorreu na Faculdade de Educação da USP a organização de um acervo de livros didáticos
vinculado a projetos de pesquisa sobre a hisria de livros, currículos e disciplinas escolares. A
constituição inicial da biblioteca deu-se em meados dos anos 90 e foi formada por acervos
particulares de pesquisadores, em especial da professora Circe Bittencourt, que sempre teve o
livro didático como objeto central de sua pesquisa. A Biblioteca Paulo Bourroul chegou à
Faculdade de Educação no final da década de 1970, quando a instituição (FEUSP) recebeu da
Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia a doação de parte do acervo constitdo ao longo
de um século de história da formação docente em São Paulo. Composto por aproximadamente
6.500 títulos, em 8.000 volumes, publicados entre o início do século XVII e meados do XX,
esse acervo se tornou uma dascoleções especiais” que integram a Biblioteca da FEUSP, o que
deu à Faculdade a possibilidade de guarda e conservação de um conjunto de obras raras, que
perpassam diferentes momentos históricos, áreas do conhecimento e tendências literárias,
principalmente de impressos escolares destinados à formação do magistério.
Palavras-chave: Biblioteca da Faculdade de Educação da USP. Biblioteca do Livro Didático
(BLD). Biblioteca Paulo Bourroul.
INTRODUÇÃO
A história da Faculdade de Educação da USP inscreve-se também na trajetória de suas
bibliotecas. O que se procurará fazer aqui é o relato de dois fundos específicos que constam de
seu acervo, os quais são respectivamente a Biblioteca do Livro Didático e a Biblioteca Paulo
Bourroul. Conhecer um pouco a história desses dois acervos significa compreender mais
diretamente como se deu e como se a constituição de um repertório do conhecimento
pedagógico, que passa simultaneamente por obras de cariz didático e por obras de referência
no campo da Pedagogia. A maneira pela qual o saber educativo se constituiu traz a marca e os
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vestígios da documentação inscrita em ambas as bibliotecas, sobre as quais se passará a
comentar a seguir.
HISTÓRIA DE UMA BIBLIOTECA DE LIVROS DIDÁTICOS
A partir dos anos finais de 1980 teve início na Faculdade de Educação da USP a
organização de um acervo de livros didáticos vinculado a projetos de pesquisa sobre a história
de livros, currículos e disciplinas escolares. A constituição inicial da Biblioteca do Livro
Didático (BLD) se efetivou entre 1994-98 por acervos originários de pesquisadores que tinham
esse tipo de livro como objeto central de investigação ou que o utilizavam como fonte de
estudos e para cursos de formação de práticas docente. Para muitos pesquisadores era evidente
as dificuldades em localizar em bibliotecas as obras didáticas produzidas para cursos
secundários e primários, que, por vezes, eram facilmente descartadas ou consideradas, de forma
genérica, como vulgatas, analisadas meramente como veículo de inculcação ideológica.
As décadas de 1980 e 90, no entanto, proporcionaram novas problemáticas educacionais
decorrentes da expansão dos sistemas escolares para o conjunto da população e de escolas, com
seus professores, diretores, administradores e alunos e suas famílias. Para entender as escolas
e seu público, era necessário analisar diversos documentos sobre a vida e o cotidiano
educacional. Muitas dessas preocupações estavam, neste mesmo período, sendo debatidas e
novos documentos estavam sendo resgatados por pesquisadores que se organizavam no Centro
de Memória da FEUSP em um contexto de debates sobre os novos procedimentos
metodológicos no campo educacional, em especial no campo da história da educação. Novos
objetos de pesquisa exigiam novas fontes e, dentre elas, o livro didático foi sendo compreendido
sob novas perspectivas, como apresentou o historiador francês Alain Choppin na Conferência
de Abertura do Colóquio Internacional Livro do Didático: Educação e História, realizado na
FEUSP em 2007.
As pesquisas na FEUSP vinculadas às especificidades dos livros didáticos
demonstravam que esses impressos possuíam características diferenciadas em relação aos
demais, quanto à sua produção, formas de circulação e consumo, condição que passou a exigir
medidas para preservá-los em espaços especiais. Por ser um tipo de impresso produzido em
larga escala, mas de consumo delimitado pelo sistema educacional e por suas mudanças
curriculares, os livros escolares tinham uma vida útil relativamente “curta” e tendiam a tornar-
se obras sem necessidade de preservação em bibliotecas. A constituição da Biblioteca do Livro
Didático na FEUSP esteve, assim, relacionada a tais questões, articulando-se ao crescente
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campo das pesquisas que tinham neste objeto educativo seu principal foco de investigação,
conforme revelou o historiador francês Alain Choppin em suas últimas pesquisas (CHOPPIN,
A., 2007, 2008).
Por ser o livro didático um documento pouco preservado, a organização de um acervo
didático mais completo tornou-se uma necessidade, no caso brasileiro. Acrescentava-se ainda
o problema da sua dispersão em um terririo caracterizado por poticas públicas educacionais
descentralizadas, o que dificultava o acesso por parte dos interessados em estudar esse tipo de
impresso. Sob tais condições, a organização da biblioteca passou a exigir procedimentos
especiais de aquisição, armazenamento, preservação e disponibilização do acervo para
estudantes e pesquisadores.
Um primeiro aspecto a ser destacado para a organização de um acervo de obras didáticas
é o volume de livros, tanto de títulos quanto de edições. Esta característica se articula a formas
de preservação de um material em constante mutação, que passou a ser utilizado em escolas
europeias a partir da Renascença e se difundiu no decorrer dos séculos XIX e XX com a
ampliação da escolarização, inclusive na recém-criada nação brasileira. Desde então, a vida
educacional do mundo ocidental tem sido acompanhada por esse personagem impresso: o livro
didático. O livro didático, para além de ser um roteiro sobre o que deverá ser ensinado para
alunos de variadas faixas etárias, é muito mais do que isso: é uma forma de ensinar os
professores sobre o quê e como os diversos conteúdos deveriam ser ensinados (Bittencourt,
1993). O livro didático representa, de forma evidente, um dos principais elementos constitutivos
da cultura escolar pelos seus usos ou pela maneira como ele dialoga com as práticas docentes e
a vida dos estudantes. O estudo do livro e da leitura escolar tem se constituído, nesta dimensão
histórica, em objeto privilegiado para se conhecer os processos educativos a partir do final do
século XVIII e como fonte básica para se reconstituir as práticas intrínsecas à cultura escolar
dos séculos XIX ao XXI.
Importante salientar que, por se tratar de um livro integrante da vida cultural de milhares
de alunos e professores, o livro escolar também se tornou uma importante mercadoria no mundo
das editoras, envolvendo outros sujeitos além de educadores e políticos. Editores, técnicos de
fabricação e livreiros sempre m feito parte desta história e realizam interferências no processo
de sua produção e circulação. A dimensão econômica de sua produção e circulação fez com que
editores se vinculassem às poticas educacionais na medida em que a educação escolar se
estendia para uma escolarização de “massas” e tornava-se, cada vez mais um produto rentável.
Estas dimensões do livro didático fizeram com que ele se tornasse objeto de interesse crescente
de pesquisadores, principalmente no âmbito dos historiadores envolvidos com a educação em
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suas problemáticas sociais, ecomicas e poticas O historiador Alain Choppin, ao fazer um
balanço sobre o crescimento das pesquisas sobre a história do livro didático nos finais do século
XX e início do XXI, constatou o vigor e a maturidade de pesquisas científicas, em escala
internacional, ocasionadas pelos avanços da história do livro, mas também pelas “incertezas
sobre o futuro do impresso e, mais particularmente sobre o papel que desempenharão, no futuro,
junto às novas tecnologias educativas” ( CHOPPIN, 2007, p.?).
A etapa inicial da organização da Biblioteca do Livro Didático na FEUSP, no início da
década de 1990, integrou o subprojeto Literatura escolar e memória escolar brasileira, sob
coordenação da professora Circe Bittencourt, e que era desenvolvido junto ao Centro de
Memória da Faculdade de Educação da USP, o qual na ocasião fazia parte do projeto geral
Impressos, Leituras e Instituições Escolares no Brasil”, coordenado pela professora Marta
Chagas de Carvalho. Posteriormente, o volume crescente de obras da BLD adquiridas
majoritariamente por campanhas de doações tanto de professores da universidade quanto das
editoras e livreiros, fez com que se tornasse um dos acervos especiais da Biblioteca da
Faculdade de Educação da USP. Importante destacar que sua organização e atendimento ao
público tem exigido uma formação específica por parte de bibliotecários. Trata-se de um acervo
que tem se constituído com base na concepção sobre as especificidades da obra didática, sendo
fundamental considerar suas diferentes funções e modo de integração no processo de ensino e
aprendizagem. E, a pergunta que sempre pesquisadores e bibliotecários fazem é: afinal o que
é um livro didático?
Para a organização da BLD foi adotado o conceito do historiador Richaudeau (1986)
pelo qual livros escolares (ou livros didáticos) são todas as obras cuja intenção original,
manifestada pelo autor ou pelo editor, é explicitamente o uso pedagógico. Nesta concepção se
inserem, além dos livros didáticos mais comuns utilizados em escolas públicas e particulares,
também denominados de compêndios ou manuais escolares, as obras conhecidas como
paradidáticas, coletâneas de literatura produzidas e editadas especialmente para uso escolar e,
ainda, atlas dicionários e enciclopédias editados para uso pedagógico. Assim temos como
categorias didáticas/escolares, as obras elaboradas de acordo com uma progressão sistemática
baseadas em currículos assim como obras de consulta e de refencia utilizadas no processo
educacional, sob diversos suportes de comunicação. Considerando a intenção do autor ou editor
na publicação da obra, inclui-se como livro didático, obras que, embora inicialmente não
tenham sido concebidas tendo em vista o público escolar, adquiriram status pedagógico, com
adequações de vocabulário e uso constante em sala de aula. É o caso de obras clássicas da
literatura, tais como romances de José de Alencar ou poemas épicos, como os Lusíadas de Luís
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de Camões que possuem edições adaptadas e organizadas especialmente para o público escolar.
Mais recentemente fazem parte do acervo da BLD livros produzidos para e pelas escolas
indígenas, assim como obras para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), cuja história de
produção, circulação e consumo são bastante diferenciadas dos demais livros didáticos.
A BLD, dentro de uma formulação mais geral, tem como pressuposto a inclusão em seu
acervo de todas obras que “podem ser repartidas em função de sua integração ao processo de
aprendizagem em duas grandes categorias: as obras que representam uma progressão
sistemática, de um lado, e as obras de consulta e de referência, de outro lado.” (RICHAUDEAU,
1986, p. 51).
A organização da BLD caracterizou-se pelo constante diálogo com pesquisadores de
diferentes universidades, por grupos de pesquisas ligados a processos de alfabetização, às
especificidades disciplinares, à história das editoras e às políticas públicas de produção e
avaliação, dentre outros temas. O acervo das obras escolares da BLD tem sido organizado e
ampliado a partir de pesquisas articuladas à história dos currículos e disciplinas escolares,
história das práticas de leitura e métodos de ensino e história da formação de professores
secundários e primários. Nesta perspectiva, a BLD abarca um conjunto de livros usados que
possuem um valor diferenciado em relação aos livros recebidos diretamente das editoras e ainda
“virgens” de usuários. Assim, vários exemplares da mesma obra que se diferenciam por
fornecerem informações de usos, pelos traços deixados pelos alunos, suas anotações e rabiscos,
respostas de questionários, etc.
As pesquisas sobre a relação entre Estado e o mercado do livro têm se avolumado no
Brasil e servem como referências importantes sobre um novo momento da história do livro
didático brasileiro decorrente do Programa Nacional do Livro Didático o PNLD. Essas obras
estão sendo incorporadas à BLD juntamente com a documentação determinante de sua
produção, tais como Guias para os professores, LDB e demais textos legislativos federais e
estaduais. Assim, foi acrescida à BLD uma série de impressos: legislação, catálogos de editores,
programas curriculares, além de teses e monografias sobre as diferentes temáticas relacionadas
aos livros escolares dos diferentes níveis de escolarização.
A organização da BLD obedece, portanto, a conceitos e categorias próprias da produção
didática e tem sido determinante para a classificação das obras e formas de disponibilização
para pesquisadores. Nesta perspectiva é importante destacar a preocupação dos responsáveis
pela BLD em disponibilizar o acervo para a pesquisa em escala nacional e internacional por
intermédio de um Banco de Dados.
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Segundo levantamento de Alain Choppin e Paul Aubin (2007), a elaboração de sites
construídos em diversos países ao longo das últimas décadas evidenciou a importância da
organização de inventários de fontes e documentos para pesquisa, pela Internet tanto em escala
nacional como internacional. Nessa perspectiva, a Biblioteca do Livro Didático foi organizada,
desde sua origem em 1994, articulada a um Banco de Dados constituído com o propósito de
referenciar e localizar livros didáticos brasileiros existentes em diferentes bibliotecas nacionais
e também internacionais, especialmente na Bibliotque National de France (BNF) e em
bibliotecas portuguesas. O projeto do Banco de Dados do Livro Didático Brasileiro teve apoio
inicial proporcionado pelo Convênio Internacional entre a Universidade de São Paulo e o
Institut National de Recherche Pédagogique da França (INRP), firmado em 1994 e se integrou
à rede Emmanuelle, banco de dados de obras escolares francesas. O Banco de Dados
Emmanuelle, criado por Alain Choppin, pesquisador do INRP, foi escolhido como referencial
por ser instrumento de pesquisa elaborado e alimentado por pesquisadores franceses e de outros
países que viabilizava uma consulta ampliada sobre livros didáticos em perspectiva histórica e
pela possibilidade de trabalhos de cooperação internacional. Os campos que comem o
Emmanuelle foram adaptados para a situação brasileira e caracterizam-se por ampliar a natureza
bibliográfica do documento ao incluir as especificidades do livro didático quanto ao processo
de sua produção e circulação. Posteriormente, com a ampliação de pesquisas sobre a história
do livro didático no Brasil foram sendo estabelecidos contatos com vários pesquisadores de
outras universidades nacionais, destacando os da PUC/São Paulo que resultou da elaboração de
um projeto interinstitucional com a finalidade de dar continuidade ao Banco de Dados. O Banco
de Dados brasileiro recebeu o nome LIVRES (Livros Escolares) e obteve financiamento da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) com o Projeto Temático:
Educação e Memória: organização de acervos livros didáticos que vigorou entre 2003 a 2007,
tendo como coordenadores Circe Bittencourt (FEUSP), Kazumi Munakata (Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo-PUCSP) e Carlota Boto (FEUSP).
O Projeto Temático contou com uma equipe de pesquisadores de várias instituições e
especialistas de diferentes áreas curriculares: professores, pós-graduandos de doutorado e
mestrado, bibliotecários, alunos bolsistas de Iniciação Científica, técnicos de informática da
Universidade de São Paulo (USP), da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),
Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal Fluminense, Universidade
Federal da Paraíba, dentre outras. Os intercâmbios com pesquisadores de várias instituições e
especialidades foi fundamental para o desenvolvimento da coleta dos dados em diferentes
bibliotecas, iniciando pelo acervo de bibliotecas da USP para em seguida se estender para às
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demais: Biblioteca Municipal de São Paulo, Mário de Andrade, Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro, além de bibliotecas escolares, como o acervo do NUDOM do Colégio Pedro II (Rio de
Janeiro), da Escola Normal Caetano de Campos de São Paulo e de outras escolas da capital e
interior paulista. Foi refeito o convênio com o Banco de Dados Emmanuelle junto ao INRP e
intensificada a rede de contato com outros países, em particular com pesquisadores do projeto
MANES da Espanha, que integra pesquisas de universidades de países latino-americanos
México, Cuba, Colômbia, Chile, Argentina) e do projeto EDISCO, Banco de Dados sediado na
Universidade de Turim, Itália.
A rede de intercâmbios e convênios favoreceu o aperfeiçoamento do Banco de Dados e
possibilitou o desenvolvimento de pesquisas e realização de estudos comparados e participação
e organização de encontros internacionais
1
.
Desde 2016, o Banco de Dados LIVRES integra o Projeto International Textbook
Catalogue que desenvolve intercâmbio internacional sistematizado para atualização técnica e
preservação das obras por intermédio da digitalização, projeto sob a iniciativa do Georg Eckert
Institut for International Textbook Reacheach de Braunsweig, da Alemanha. O objetivo é
constituir uma rede global de acervos de livros escolares: MANES (Espanha), EDISCO (Itália),
GEI (Alemanha), LIVRES (Brasil) sob princípios de difusão em escala internacional das
próprias obras e de ferramentas para ampliação de pesquisas articuladas sob princípios das
Humanidades Digitais. Nesse último caso, do Georg Eckert Institut (GEI), foi estabelecido um
acordo de cooperação com a Faculdade de Educação da USP para criação e desenvolvimento
do Global Textbook Resource Center (GLOTREC). As formas concretas de cooperação
abrangem a elaboração conjunta de standars unificados, integração das bases de dados entre os
livros escolares digitalizados em textos completos de acordo com procedimentos de
biblioteconomia e informática estabelecidos.
A continuidade da organização da BLD e a do Banco de Dados LIVRES se insere,
atualmente, junto ao Projeto Arquivos digitais e bibliotecas: história do livro e da leitura, um
dos eixos do Projeto Temático da FAPESP Saberes em Fronteira: por uma história transnacional
da educação (1810) coordenado pelas professoras Diana Vidal e Carlota Boto da Faculdade de
Educação da USP.
A BLD, cujo acervo corresponde a aproximadamente 23.000 obras e 1.200 documentos
e o Banco de Dados LIVRES integram, desta forma, um projeto amplo sobre a história do livro
1
O projeto EMMANUELLE está disponível em: http://bdd.inrp.fr:8080/Emma/EmaWelcome.html
e o projeto MANES está disponível em: http://www.uned.es/manesvirtual/portalmanes.html
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didático e das edições escolares a partir de 1810, quando teve início pela Impressão Régia a
circulação das primeiras obras produzidas no Rio de Janeiro, aos dias atuais em que circulam
milhares de títulos e formatos nas mais diversas escolas brasileiras.
A BIBLIOTECA PAULO BOURROUL E A CIRCULAÇÃO TRANSNACIONAL DOS
SABERES PEDAGÓGICOS
No final da década de 1970, a Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
(FEUSP) recebeu da Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia a doação de parte do acervo
da “Biblioteca Paulo Bourroul”, constituído ao longo de um culo de história da formação
docente em São Paulo. Composto por aproximadamente 6.500 títulos, em 8.000 volumes,
publicados entre o início do século XVII e meados do XX, esse acervo se tornou uma das
coleções especiais” que integram a Biblioteca da FEUSP, o que deu à Faculdade a
possibilidade de guarda e conservação de um conjunto de obras raras, que perpassam diferentes
momentos históricos, áreas do conhecimento e tendências literárias, principalmente de
impressos escolares destinados à formação do magistério.
Encontramos a origem da “Biblioteca Paulo Bourroul na antiga Escola Normal da
capital paulista, em 1874, quando a instituição foi reaberta com a previsão de que teria uma
biblioteca “destinada especialmente ao uso de professores e alunos, formada de livros dos
melhores e mais recentes escritores das diversas matérias do ensino(REGULAMENTO, 1874,
p. 1)
2
. Suas primeiras obras foram adquiridas no início 1875 e se destinavam ao ensino de
Língua Portuguesa, Língua Francesa, Aritmética e Pedagogia. Na época, o professor Paulo do
Valle recebeu a quantia de 428$000 para a aquisição de livros, o que lhe possibilitou comprar
algumas dezenas de volumes. Na famosa “Casa Garraux”, Valle adquiriu, por exemplo, a
primeira edição da obra de Auguste de Saint-Hilaire, Voyage dans les provinces de Saint-Paul
et de Sainte-Catherine (1851), que ainda hoje consta no acervo da FEUSP. O professor também
comprou o Curso Prático de Pedagogia (1874), de Daligaut, que marcou a formação de muitos
normalistas brasileiros na década de 1870 e foi adotado como o comndio que norteava as
aulas de Pedagogia e Metodologia na Escola Normal de São Paulo (SILVA; PEREZ, 2014).
Naquele momento, apesar de não contar com um espaço específico para a organização
e consulta das obras, a Escola Normal começou a constituir seu acervo bibliográfico por meio
de compras e doações, como foi o caso dos 40 exemplares da Gramática de Língua Francesa,
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A primeira experiência de instalação de uma escola normal em São Paulo ocorreu entre 1846 e 1867. Não foram
localizados indícios de que tenha havido compra de livros para a escola nesse período.
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de Abílio Cesar Borges, recebidos em abril de 1875. Em 1878, com o fechamento da Escola
Normal da Capital, seus livros teriam sido entregues à Inspetoria Geral da Instrução Pública,
conforme indica JoEustáquio de e Benevides, quando, como diretor da escola que havia
sido reaberta em 1880, solicitou a incorporação desses livros à biblioteca da instituição.
Nos anos de 1880, o acervo bibliográfico da Escola Normal cresceu e se diversificou
consideravelmente, acompanhando a ampliação do currículo da escola, que nesse momento
englobava física, química, biologia, história, geografia, além das línguas portuguesa e francesa,
da aritmética, da pedagogia e da doutrina cristã. A primeira compra de livros ocorreu, no
entanto, quase três anos após o reinício das atividades da Escola Normal. O responsável por
essa compra foi Paulo Bourroul (1855-1942), médico francês que atuava como diretor interino
e professor da cadeira de Física, Química e Francês na escola.
Ao solicitar uma licença para viajar à França, no final de 1882, Bourroul foi incumbido
por Francisco Brandão, presidente da província, da compra “dos aparelhos necessários para o
ensino da sica e da química na Escola Normal, das obras pedagógicas para a biblioteca da
mesma Escola e do estudo da organização de um museu pedagógico” (BOURROUL, 1882, p.
1). Segundo Francisco Brandão (1882, p.1), a escola ressentia-se “da falta de uma biblioteca
apropriada, o possuindo mesmo livro algum de pedagogia”, o que o levava a destinar “a
quantia de um conto de réis”, para que fossem adquiridas “as melhores e mais modernas obras
de pedagogia que convenha possuir a mesma Escola, começando-se assim a construir a sua
biblioteca”. Essa inciativa, conforme Marta Carvalho (2007, p. 20), pode ser considerada como
uma das poucas e tímidas providências destinadas a dotar a Província de o Paulo de uma
instituição de formação de professores compatível com as transformações culturais que o
progresso material em curso começava a desencadear”.
Paulo Bourroul realizou com sucesso a tarefa que lhe foi atribuída, e da França
despachou para o Brasil 13 caixas, contendo livros, mapas, materiais para lições de coisas e
muitos itens para o laboratório de física e química. Meloni e Alcântra (2019, p. 14) destacam a
variedade dos objetos comprados na França e destinados “a um laboratório escolar de uma
escola normal, ou seja, que o tinha como finalidade principal a formação no campo das
ciências, mas a formação de professores primários”. Para a biblioteca, foram comprados mais
de 120 títulos, que abarcavam álgebra, geografia, história, física, química, botânica, zoologia,
pedagogia e instrução pública, indicando uma diversidade de conteúdos maior do estava
previsto no currículo da escola. Os livros do renomado historiador Victor Duruy, Histoire
Grecque, Histoire Romaine, Histoire du Moyen-âge e Histoire de France, editados entre 1879
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e 1882, que estão no acervo da FEUSP, provavelmente, são exemplares adquiridos por Bourroul
em sua viagem à França.
Nessa compra, as obras destinadas ao ensino de Pedagogia e Metodologia correspondem
a mais da metade dos títulos, como apontou Pestana (2011). Tomando por base as definões
do catálogo de obras pedagógicas francesas, publicado pelo Ministério da Instrução Pública da
França, em 1880, é possível identificar nesse conjunto obras de doutrina ou teoria, em que “a
ciência pedagógica é tratada por seus princípios gerais”, como as de Spencer, De l’éducation
intellectuelle, morale et physique, e de Rousseau, Émile ou de l’éducation, cujas edições de
1878 e 1882 estão disponíveis para consulta na Biblioteca da FEUSP; e obras de pedagogia
prática, “em que a educação é tomada mais em seus detalhes do que em generalizações”, como
as de Marie Pape-Carpantier, Conseils sur la direction des salles d'asile, e de Jules Paroz, Leçon
des Choses (MUSÉE PÉDAGOGIQUE, 1888, p. 10). Nesse conjunto, também se destacam os
livros dedicados ao método de ensino intuitivo, ou às lições de coisas, que ganhava expressão
como parte do movimento de expansão da escola de massas, na Europa e nas Américas,
ocupando lugar de destaque nos debates e nas práticas educacionais do final do século XIX
(SCHELBAUER, 2003). Pouco mais da metade dos livros comprados por Bourroul
atravessaram o século XX e se encontram no acervo transferido à USP. Pestana (2011, p. 65)
localizou 40, dos títulos de Pedagogia e Metodologia comprados em 1883. L’école Froebel, de
Masson (1880), o Manuel Pratique des jardins d'enfants de Frédéric Froebel, de Jacobs (1880),
e L’éducation de l’Homme, de Froebel (1881), estão entre esses títulos franceses.
Outras compras foram realizadas ao longo da década, de modo que, em 1885, a Escola
Normal contava com um acervo de mais de mil volumes, com 505 obras. O orçamento de 1885-
1886 destinara a verba três contos de réis para a compra de livros. Uma lista da Casa Garraux
indica a aquisição de mais de 150 títulos, majoritariamente franceses, reforçando a tendência
francesa na biblioteca da Escola Normal, no século XIX, o que nos possibilita observar, para
além dos mecanismos culturais fundados numa tradição intelectual remanescente do período
colonial e da formação de quadros das elites em instituições europeias, mecanismos econômicos
e sociais que viabilizavam a circulação dos impressos. Como o professor francês, ao realizar
uma viagem para tratar de questões pessoais, de providenciar a importação de dezenas de
livros, a grande presença de obras editadas na França nos catálogos de livreiros em São Paulo,
como é o caso da Casa Garraux, propriedade de um francês, criava condições para que a
circulação dos livros entre os dois continentes se efetivasse (DEACTO, 2011). Assim,
renomados pensadores anglo-saxônicos, como Froebel, Pestalozzi e Spencer, que marcaram as
concepções educacionais nos séculos XIX e XX, chegaram à Escola Normal de São Paulo por
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meio de traduções francesas ou da mediação de autores franceses um exemplo é a obra Études
sur la vie et les travaux pédagogiques de J.-H. Pestalozzi, de Pierre-Philibert Pompée (1809-
1874), educador francês que esteve na Suíça estudando o método Pestalozzi e que se tonou um
importante mediador desse autor na França (FONTAINE; MATASCI, 2015).
Além de ter seu acervo ampliado, na década de 1880, a biblioteca da Escola Normal de
São Paulo se concretizou como espaço de guarda e consulta, que, conforme o regulamento da
instituição, ficaria aberto por cinco horas diárias, sob a responsabilidade do porteiro. A respeito
disso, o diretor e Benevides (1884, p. 11) indicava haver a “urgente necessidade” de reformar
o “Regulamento na parte em que determina servir o porteiro como bibliotecário não só porque
incompatibilidade material nas funções de tais cargos como principalmente porque não tem
o porteiro as habilitações precisas” questão que motivou o fechamento da biblioteca por
alguns períodos.
A frequência dos estudantes estava aquém das expectativas do diretor, que atribuía o
fato à biblioteca funcionar apenas durante o horário das aulas. Além disso, havia dias da semana
em que eram atendidos os alunos e, em outros, as alunas. Em 1887, o regulamento da escola foi
reformado, ampliando o horário de funcionamento da biblioteca e determinando que a função
de bibliotecário passaria a ser exercida por um dos docentes da instituição.
Dez anos após a viagem de Paulo Bourroul, o acervo da escola reunia quase mil obras,
em cerca dois mil volumes, divididos em sessões: científica, literária e diversas. Entre as obras
da sessão científica, 304 estavam em francês e 131 em português. Entre maio e novembro de
1893, foram consultadas 170 obras por 826 consultantes, a maior parte do sexo feminino, que
nesse ano representava dois terços das matrículas na escola. As matérias mais consultadas eram
História do Brasil, Astronomia, Corografia, História Natural, Botânica e Zoologia, Psicologia
e Pedagogia. Em maio, foram consultadas quarenta obras, 29 estavam em português e onze em
francês. Em julho, do total de 23 obras, doze estavam em francês e onze, em português (O
Estado S. Paulo, 13 de junho de 1893; Correio Paulistano, 5 de agosto de 1893). Em 1894,
com a mudança da Escola Normal para o famoso edifício da Praça da República, construído
para abrigá-la, a biblioteca foi acomodada em duas salas, com 14 estantes, tendo em cima
galerias com mesmo número de estantes”, segundo o memorialista Alfredo Moreira Pinto
(1900, p. 15). Nessa época, a biblioteca recebeu uma doação da importante coleção Flora
brasiliensis: enumeratio pnatarus in Brasilis, de Carl Friedrich Philipp von Martius, produzida
em diversos volumes desde 1840, que ainda está no acervo da “Biblioteca Paulo Bourroul”.
Também nesse período, as obras Psychologie appliquée à l'éducation, de Gabriel Compayré,
Princípios de Pedagogia (1891), de Augusto Coelho, foram indicadas para a cadeira de
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Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 7, p. 1-15, e021035, 2021.
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Pedagogia e Direção de Escolas. O livro de Coelho está no acervo da FEUSP, o de Compayré
o.
Na virada do século, a biblioteca da Escola Normal chegava a dez mil volumes. Somente
no ano de 1898, foram acrescentados 1.643 volumes, por meio de compras e doações, e a
biblioteca teve uma média de 39 consultas por dia (FELICIANO, 1898). Nesse ano, os livros
em português representam 65% dos consultados, contra 35% em francês, conforme o relatório
do bibliotecário José Feliciano. Entre os e as docentes da instituição, as professoras da Escola
Anexa foram as que mais frequentaram o acervo, e, entre estudantes, as alunas da seção
feminina da Escola Normal continuavam representando a maioria de consultantes. No entanto,
a configuração dos idiomas na biblioteca começava se alterar com a chegada de um número
crescente de livros em inglês, indicando novos trânsitos pelos quais circulavam e circulariam
os saberes pedagógicos. No acervo da “Biblioteca Paulo Bourroul” há, por exemplo, dois livros
de Emerson White, The Elements of Pedagogy (1886) e School management (1895),
possivelmente adquiridos nesse período. Em 1909, O Estado de S. Paulo noticiava a compra de
cinquenta obras novas em quarenta volumes, sendo uma delas a importante enciclopédia do
Estados Unidos, The Americans, em vinte volumes”.
O rico acervo que come a coleção Paulo Bourroul”, na Biblioteca da FEUSP, traz
elementos para compreensão da história do livro, da leitura, dos saberes e das disciplinas
escolares, bem como de conteúdos, concepções, tradições, modelos e projetos de formação de
professores que marcaram a formação docente em São Paulo. Nele também se materializam
indícios das mudanças institucionais pelas quais passou a Escola Normal de São Paulo, como
observou Rabelo (2016) ao analisar os carimbos e etiquetas de livros desse acervo, destacando
as alterações no nome da instituição escolar e de sua biblioteca. De Escola Normal da Capital,
a instituição passou a se chamar Escola Normal Secundária de São Paulo (1911), Escola Normal
de o Paulo (1920), Instituto Pedagógico de o Paulo (1931), Instituto Caetano de Campos
(1934), Escola Normal Modelo (1938) e Instituto de Educação Caetano de Campos (1946),
conforme identificou Golombeck (2012). A denominação da biblioteca também recebeu
alterações, acompanhando as da instituição a que estava vinculada, até que em 25 de janeiro de
1942, recebeu o nome de Biblioteca Paulo Bourroul, em homenagem ao professor (Diário
Oficial do Estado de São Paulo, 29 de setembro de 1943, p. 18).
Entre viagens internacionais e institucionais, livros de outros acervos se juntaram a essa
biblioteca. Carimbos da “Divisão de Documentação e Divulgação”, criada em 1969, da
Biblioteca Pedagógica Central e da Biblioteca Central de Educação, ambas criadas nos anos de
1930, foram identificados por Rabelo (2016) na coleção especial “Paulo Bourroul”, que vem
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Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 7, p. 1-15, e021035, 2021.
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despertando o interesse de vários pesquisadores (CARVALHO, 2006; 2007; PESTANA, 2011;
PEREIRA, 2011; PEREZ, 2013; TREVISAN, 2011; CÉFALO, 2021). Em 1977, as
bibliotecárias da FEUSP, Marina Almeida e Elza Maeda (1977, p. 14), indicavam que “as
obras que compunham o acervo eram de interesse para os estudos e pesquisas realizados pelo
Corpo Docente da Faculdade, principalmente nas áreas de Filosofia da Educação e História da
Educação”, o que teria motivado sua requisição como doação para a Faculdade.
Hoje, esse acervo vem passando por um processamento técnico, no âmbito do Projeto
Temático Saberes e práticas em fronteiras: por uma história transnacional da educação
(1822...), a fim de que os títulos, catalogados e indexados ao sistema Dedalus, da Universidade
de São Paulo, possam estar mais facilmente acessíveis a todos os interessados. Seja como for,
em uma época na qual a busca de trabalhos pela via digital tende a substituir o recurso ao
impresso, a preservação e organização dos livros de bibliotecas apresenta-se como uma tarefa
hercúlea e profundamente relevante. O mundo que viu nascer as plataformas digitais e a leitura
na tela ainda é o mundo no qual o livro impresso permanece sendo um instrumento a serviço
do conhecimento. Tanto os livros didáticos da BLD quanto os tratados pedagógicos inscritos
na biblioteca Paulo Bourroul instituem modos de olhar para o saber que remetem a tempos
passados, mas que certamente falam também em direção ao futuro.
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Recebido em: 22 de outubro de 2021
Aceito em: 22 de dezembro de 2021