ISSN 2447-746X Ridphe_R
DOI: 10.20888/ridpher.v7i00.16037
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Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 7, p. 1-6, e021031, 2021.
antes, e antecipa a compreensão do fenômeno como algo que pode se repetir, não sendo específico
de capitalismos tardios ou uma resposta à luta de classes revolucionária. Cabe ainda registrar os
apontamentos sobre o Estado, sobre como a esfera estatal domesticou o fascismo como movimento
social (burocratizando-o). Finalmente, a dimensão ideológica-doutrinária é analisada
exaustivamente, sendo assustadoramente atual.
Sobre Fascismo e ditadura, obra publicada pela primeira vez na França em 1970,
destacaremos a visão do autor sobre o Estado, uma vez que do ponto de vista da luta política, a
análise de Poulantzas é similar à de Guérin: o fascismo é um fenômeno que ascende ao poder tendo
como base de apoio de massa a pequena burguesia e, uma vez no poder, realiza os interesses do
grande capital monopolista. O diferencial reside na análise do Estado, de encontro a teses
economicistas sobre o imperialismo (da III Internacional).
Iniciemos pela definição do Estado na fase do capitalismo monopolista como
intervencionista, implica em afirmar que nessa fase o Estado muda de natureza, deixa de ser o
Estado liberal da fase concorrencial e passa a ser um Estado intervencionista. Por certo, Poulantzas
ressalta que, historicamente, nunca existiu capitalismo sem intervenção do Estado, não obstante,
na sua fase superior, o Estado é mais intervencionista, desempenha novas funções, que abarcam a
presença do Estado no próprio aparelho econômico-produtivo. A ideia central é a seguinte: na etapa
monopolista, o papel do Estado se expande, e na fase de transição para o capitalismo monopolista
o Estado pode assumir a forma de um estado de exceção: bonapartista, ditatorial ou fascista. Após
a fase de transição, no pós-guerra, o papel intervencionista do Estado diminui, continua sendo
importante, no entanto recua em comparação ao intervencionismo da fase de transição.
O estudo é sobre a forma fascista (não sobre o estado de exceção em geral) e o primeiro
registro a ser feito diz respeito à definição leninista do imperialismo como etapa superior do
capitalismo. Isto é, o imperialismo não se reduz ao domínio político dos Estados dominantes sobre
os Estados dominados, nem pode ser compreendido meramente como solução encontrada pelos
capitalistas para as limitações de consumo e realização do valor nos países dominantes, por meio
da conquista de mercados externos. Na visão leninista, o imperialismo é o capitalismo na sua fase
monopolista, mas Poulantzas quer ir além dessa definição, centrada no econômico, e analisar a
dimensão política do imperialismo, seja na fase de transição para a hegemonia do capital
monopolista, na qual está inserida o fenômeno do fascismo, seja superada a fase de transição.