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O MUSEU DA EDUCAÇÃO E DO BRINQUEDO (MEB): DESAFIOS E
POTENCIALIDADES DE UM MUSEU UNIVERSITÁRIO NA FEUSP
Ermelinda Moutinho Pataca
Universidade de São Paulo, Faculdade de Educação/FEUSP, Brasil.
ermelinda.pataca@gmail.com
Martha Marandino
Universidade de São Paulo, Faculdade de Educação/FEUSP, Brasil.
marmaran@usp.br
RESUMO
Criado em 1999 pela professora Tizuko Kishimoto, o Museu da Educação e do Brinquedo
(MEB) apresenta grande importância na história da Faculdade de Educação (FEUSP),
constituindo-se em um espaço de alta relevância para infância, brinquedos e brincadeiras. Neste
artigo apresentaremos um balanço da atuação da nova coordenação do museu desde 2014,
demarcando a ampliação de seu escopo ao reafirmar-se como um museu da educação em
parceria com outros laboratórios e setores da FEUSP e abarcar a Educação em Museus como
um novo foco. Abordaremos os principais desafios e potencialidades de um museu universitário
na definição de sua identidade e na gestão das ações em ensino, pesquisa e extensão,
desenvolvidas em projetos sobre a história, a constituição do acervo, as ações educativas e a
comunicação no MEB.
Palavras-chave: Educação. Museus. Universidades.
INTRODUÇÃO
O Museu da Educação e do Brinquedo (MEB) foi inaugurado na Faculdade de Educação
da USP (FEUSP) em 1999 pela Professora Tizuko Morchida Kishimoto e possui rico acervo de
brinquedos e materiais pedagógicos. A constituição inicial do acervo refere-se a uma coleção
de fotografias, cadernos de anotação e materiais pedagógicos doados pela professora Alice
Meirelles dos Reis, professora do Jardim de Infância da Escola Caetano de Campos, e constitui
importante registro sobre a história da educação infantil em São Paulo na primeira metade do
século XX (KISHIMOTO, 2014). Posteriormente, o acervo expandiu-se com doações de
brinquedos pela comunidade da FEUSP e por qualquer doador, que registram os usos dos
brinquedos e materiais pedagógicos. Finalmente, a doação de grande relencia para o MEB
            
atualmente estão em exposição na Biblioteca da FEUSP.
Com a aposentadoria da professora Tizuko Kishimoto em 2014, o MEB passou por um
processo de redefinição de sua missão, centralizando o debate sobre a educação em museus em
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continuidade às pesquisas e ações sobre o lúdico, a infância, o brinquedo e a brincadeira. No
período entre 2014 e 2016 foi constitdo um grupo gestor composto por quatro professoras
1
envolvidas na administração do museu. A nova coordenação vem sendo realizada pelas
professoras Ermelinda Pataca e Martha Marandino desde 2016, em busca de configuração no
espaço institucional. Criamos um plano de gestão e definimos a missão do museu, associados
à criação de novos projetos de formação de professores e educadores de museus; sobre
pesquisas no acervo e ações educativas. O museu atende alunos de educação infantil, séries
iniciais, professores, estudantes de graduação e de pós-graduação. As atividades de educação,
comunicação e organização do acervo são tratadas de forma complementar à formão de
professores e à pesquisa, envolvendo um trabalho coletivo da equipe do museu com a
participação de estagiários, bolsistas, educadora e coordenação.
Além de tematizar a cultura material e imaterial ligadas à infância em suas ações, nos
últimos anos o MEB adotou uma nova posição de laborario de pesquisa das práticas
educativas em museus, assumindo o desafio de apresentar ao público a complexidade das
atividades desenvolvidas na FEUSP, valorizando as práticas e os saberes institucionais. O
conjunto de ões educativas desenvolvidas no MEB é concebido pela professora Martha
Marandino, no âmbito da divisão de Educação e Difusão Cultural. As ações são realizadas de
forma articulada com as pesquisas histórico-culturais sobre brinquedos e materiais didáticos,
coordenadas por Ermelinda Pataca. O acervo de relevante valor histórico possibilita aos
visitantes um olhar sobre o brincar, sobre os jogos e as brincadeiras de uma maneira facilitada
e que recorda, em muitas vezes, a própria história e acaba resgatando a memória infantil. As
ações educativas e as pesquisas e projetos sobre acervo e curadoria, relacionam-se ao novo
perfil do museu, o que demandou a definição da missão do MEB em:
Preservação e difusão da memória sobre a educação, em especial, sobre
materiais, estratégias e práticas educativas, materializadas por meio de
atividades, jogos, brinquedos e brincadeiras das diversas áreas de
conhecimento, envolvendo diferentes públicos.
(http://meb.fe.usp.br/institucional.html).
A diversidade de atividades desenvolvidas pelo MEB e a amplitude do público
envolvido nessas ações justifica-se pela variedade e riqueza do acervo museológico que
necessita constante pesquisa e sistematização. Desta forma, os projetos desenvolvidos durante
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Composto pelas professoras Márcia Gobbi, Ermelinda Pataca, Martha Marandino e Karina Pagnez.
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a gestão da professora Tizuko Kishimoto são resgatados em pesquisas sobre a história
institucional e a constituição do acervo, essenciais para a curadoria das exposições e a criação
de ações educativas e de comunicação.
Os desafios de gestão do MEB compreendem tanto a continuidade das ações anteriores,
quanto a criação de novos projetos e definições da missão do museu de acordo com as linhas
de atuação da atual coordenação. Soma-se a esse contexto histórico, os desafios constantes de
gestão de um museu universitário. Como já apontava Warhust (1986), na década de 1980, os
museus universitários enfrentam dificuldades que começam com o desafio de identificar o que
é um museu. A seu ver, esses museus enfrentam três crises: de identidade e prosito; de
reconhecimento e de recursos. Estes desafios não são diferentes na Universidade de São Paulo,
pois ora esses espaços são caracteriados como acervos, ora como museus, especialmente
quando realizam todas as etapas da cadeia museológica voltadas a coleta, salvaguarda, pesquisa
e extroversão.
Como aponta Marandino (2001), existe a dificuldade de uma classificação dos museus
existentes na Universidade de São Paulo - USP, o que ime uma série de desafios para as
políticas de extensão universitária. Os acervos museológicos da USP foram crescendo
lentamente e de forma simultânea à alteração conceitual que os museus sofreram a partir da
década de 70, retirando-lhes os aspectos de espaços sacralizados e fortalecendo o papel
educativo dessas instituições (ABREU, 1999). A USP possui quatro museus estatutários
definidos como órgãos de integração - o Museu Paulista, o Museu de Zoologia, o Museu de
Arqueologia e Etnologia e o Museu de Arte Contemporânea (BRANDÃO, 2007), estabelecidos
pelo Estatuto vigente da Universidade de São Paulo publicado em 1988.
Marandino (2001) identificou, ainda no início do século XXI, a existência de um
conjunto bastante diversificado de coleções de natureza científica, cultural e artística, com
papéis distintos nos processos de ensino, pesquisa e extensão de acordo com a unidade onde
encontra-se sediado, a partir de publicações disponíveis e de um levantamento feito junto à
então Comissão de Patrimônio Cultural da USP. Esta comissão deu lugar, em 2002, ao Centro
de Preservação Cultural da USP, o CPC, que desde 2004 ocupa o imóvel tombado a Casa de
Dona Yayá, no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Em 2018, o CPC produziu o Guia de Museus
e Acervos da USP com o objetivo de reconhecer e divulgar o patrimônio uspiano distribuído
pelo Estado de São Paulo, retratando o conhecimento e a cultura produzidos no âmbito da
Universidade. São 45 unidades de acervos ou centros de divulgação científica e cultural
acessíveis ao público, e o guia encontra-se disponível em:
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https://cpc.webhostusp.sti.usp.br/index.php/patrimonio-da-usp/acervos-e-colecoes.
Conforme expresso no site do CPC sobre a produção do guia citado:
O levantamento é fruto do trabalho de inventariação dos acervos e coleções
mantidos sob a tutela de diferentes unidades e órgãos, que buscou identificar
as manifestações de produção e preservação destes conjuntos documentais,
entendendo elas próprias como práticas culturais específicas de experiência
universitária.
Esta diversidade e riqueza de museus e acervos universitários representa não somente
um enorme desafio conceitual, mas também encontra obstáculos relacionados à inserção das
variadas manifestações na dinâmica institucional. Existem problemas no que se refere às
condições de infraestrutura, de orçamento e de pessoal envolvidos com o museu. No caso do
MEB, ele não dispõe de um prédio próprio e suas instalações se dividem entre um espaço
expositivo localizado no segundo andar da biblioteca da FEUSP e em quatro salas para o
acondicionamento do acervo e a acomodação de funcionários e bolsistas do museu. Não
orçamento próprio e a compra de materiais utilizados nas práticas pedagógicas e nas atividades
do museu são disponibilizadas no orçamento da faculdade.
Um grande desafio consiste na vinculação de educadores e profissionais habilitados para
as práticas museológicas. No momento da aposentadoria da professora Tizuko Kishimoto, o
MEB estava sem funciorios, situação que levou à suspensão das atividades ao público. No
período entre 2016 e 2019, durante a nossa gestão, o museu contou com a colaboração da
educadora Beatriz Hungria, através de um empréstimo da funcionária oriunda da creche do
campus de Piracicaba. Posteriormente, com o retorno da funcionária para sua unidade de
origem, o MEB permaneceu sem funcionária durante o ano de 2019, prejudicando
profundamente a realização dos projetos e novamente suspendendo o atendimento do público.
As atividades do museu puderam ser reativadas com a vinda da bibliotecária Elaine Cristina
Barrelo em 2020 para o quadro de servidores do museu.
Uma das atividades essenciais dessas funciorias é a supervisão cotidiana do trabalho
dos bolsistas envolvidos em projetos de cultura e extensão, financiados pela reitoria da USP no
Programa Unificado de Bolsas (PUB), além do apoio ao planejamento, organização e execução
das ações desenvolvidas. A atuação dos bolsistas, estudantes de graduação, reafirma as funções
de museus universitários na formação dos estudantes, vinculando-os às ações de pesquisa e
extensão. Por outro lado, a elaboração dos seus relatórios de pesquisa tem subsidiado um
desenvolvimento processual das ações do museu, cujos registro e reflexão sobre as práticas
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anualmente se tornam emblemáticos nas definões teóricas e práticas das ações educativas, das
pesquisas históricas e da organização e divulgação do acervo.
Neste artigo apresentaremos as atuais configurações do MEB, definindo-o como um
museu universitário, com destaque para desenvolvimento de ações educativas, de pesquisa e
extensão. Utilizaremos os relatórios dos bolsistas como fonte de informação, buscando a
reflexão e a sistematização das ações, pesquisas e informações essenciais para o entendimento
da dinâmica do MEB. Faremos um balanço sobre o processo de redefinição do museu desde
2014, apresentando novos projetos e ações sobre a educação em museus e da configuração de
um museu da educação com rico acervo de brinquedos e um histórico que se configura
institucionalmente na trajetória da Faculdade de Educação da USP.
PESQUISAS SOBRE A HISTÓRIA DO MUSEU E DOS OBJETOS
Ao assumirmos a gestão do MEB em 2014, os desafios eram imensos. Precisávamos
conhecer o museu, as ações, os projetos e o acervo, distante das linhas de atuação das duas
professoras da área de ensino de ciências. Para conhecer essa realidade, desenvolvemos
pesquisas de iniciação científica sobre a história institucional do museu, assim como da
constituição de seu acervo, utilizando como referencial teórico a história cultural (BURKE,
2008), seguindo suas trajetórias museológicas e as biografias dos objetos (LOPES, 2008). Para
tanto, descreveremos sucintamente os projetos finalizados, explicitando suas metodologias e os
percursos das pesquisas, determinados por problemáticas relativas à constituição do acervo, à
história institucional, à história da educação, à infância e à cultura material.
As pesquisas sobre a história institucional do MEB e a história dos brinquedos e
materiais didáticos envolveram fontes e metodologias distintas. Foram realizadas entrevistas
com ex-funcionários do museu e com a professora Tizuko Kishimoto. Esses dados foram
complementados pela análise de um conjunto de documentos administrativos da gestão da

e trazem informações importantes sobre a administração e as ações do museu.
Daniela Batista da Silva fez uma pesquisa de IC sobre a história institucional do MEB entre
1999 e 2010. Nesta pesquisa compreendemos o funcionamento do museu, materializado na
criação de cursos de formão de professores, oficinas, atendimento ao público escolar e
espontâneo, articulação com outros espaços institucionais, como o Laborario de Brincadeiras
e Materiais Pedagógicos (LABRIMP), constituição do acervo. Além disso, essas pesquisas
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estão se constituindo em instrumento de gestão institucional, por viabilizarem a crião de
novos projetos, em continuidade às ações prévias (SILVA, 2015).
As pesquisas históricas desenvolvidas no MEB têm fundamentado, ainda, a
compreensão sobre a história das coleções de jogos, brinquedos e materiais educativos. A
pesquisa da Iniciação Científica desenvolvida por Vinícius Bezerra (2015; 2016) teve como
objetivo analisar a história da constituição do acervo do MEB com foco num único objeto, o
Poliopticon, brinquedo científico produzido no Brasil nas décadas de 1960 e 1980, composto
por lentes e tubos que possibilitam a montagem de vários objetos óticos, desde microscópios a
lunetas. Os dois exemplares do acervo foram analisados através da história social dos objetos
(LOPES, 2008), contextualizada nas pesquisas e ações da área de ensino de ciências da
Faculdade de Educação da USP e nas suas relações com o MEB desde a década de 1960.
Os resultados dessa IC foram essenciais para desenvolvermos metodologias que podem
ser expandidas para o estudo de outros objetos museais do MEB. Partimos de aproximações
entre a hisria da educação e a história da ciência, investigando o processo de produção,
circulação e consumo dos artefatos (MENESES, 1983). A metodologia foi fundamentada na
cultura material e trouxe uma problematização importante que se expande para grande parte do
acervo: quais são os significados atribuídos aos artefatos culturais do MEB? Como podemos
classificar um objeto como um material didático, um jogo ou um brinquedo e como se o as
aproximações entre essas categorias?
Um exemplar do Poliopticon foi produzido na cada de 1970 pela FUNBEC (Fundação
Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências), cuja história associa-se à atuação
de professoras da FEUSP, Myriam Krasilchik e Ana Maria Pessoa de Carvalho, através da
implementação de várias ações concernentes ao ensino por redescoberta, configurando
momento emblemático para o ensino de ciências no Brasil e podendo ser caracterizado como
um material didático. o segundo exemplar do brinquedo traz algumas questões essenciais
para compreendermos a produção de brinquedos científicos no Brasil, por ter sido fabricado em
uma empresa comercial de lentes e objetos óticos, a D. F. Vasconcelos, cuja investigação
histórica sobre a empresa possibilita a compreensão da circulação desses objetos e de seus usos.
Além disso, as doações dos brinquedos nos trazem questões importantes sobre a memória
institucional, pois pertenceram às professoras da FEUSP Amélia Americano Domingues de
Castro e Tizuko Kishimoto (BEZERRA, 2015; 2016).
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FIGURA 1 - Dois exemplares do Poliopticon do MEB. O brinquedo da esquerda foi
fabricado na década de 1960 e doado pela professora Amélia Americano. O exemplar da
esquerda foi doado pela professora Tizuko Kishimoto e pertenceu à sua filha.
Essas pesquisas de IC foram importantes para compreendermos tanto as
intencionalidades presentes na produção dos brinquedos e materiais didáticos, quanto as
subjetividades e multiplicidades de práticas envolvidas em seus usos. Além disso, os processos
de doação destes objetos ao MEB, assim como a incorporação dos mesmos ao acervo, são
essenciais na expressão das memórias da infância, assim como da própria cultura institucional,
uma vez que muitos dos brinquedos e materiais didáticos foram doados por professores,
funciorios e alunos da própria Faculdade de Educação (FEUSP) e tiveram usos muito
variados, desde as brincadeiras praticadas pelos mesmos na infância, até o desenvolvimento e
os usos de materiais didáticos por professores da FEUSP.
Ao resgatarmos a história dos brinquedos e materiais didáticos, podemos relacio-los
com o contexto social em que foram fabricados e comercializados. Para tanto, a compreensão
sobre a produção artesanal ou industrial dos brinquedos é essencial na construção da história
cultural dos brinquedos. No caso de brinquedos comerciais, como o Poliopticon, a trajetória da
companhia que fabricou e comercializou o brinquedo torna-se essencial para o entendimento
deste processo. A constituição cultural do brinquedo está diretamente relacionada ao contexto
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social da época em que é fabricado e comercializado. Considerado como um objeto associado
à infância, permite diferenciadas representações, pois se insere em uma determinada sociedade,
que por meio de suas características sociais justificam sua existência. Desta maneira, os
brinquedos entram num processo de reprodutibilidade técnica, incorporando a cultura infantil
e ampliando seus consumidores (BENJAMIN, 1955 /ed. 2014), que por um lado amplia o
acesso aos bens culturais, e por outro, reduz as subjetividades decorrentes das intervenções das
criaas em brinquedos com padrões culturais e estéticos normatizados e padronizados,
imprimindo uma massificação na cultura infantil.
-mediador-
o acervo podem auxiliar no desenvolvimento das ações educativas e de difusão cultural,
explicitando as dimensões histórico-culturais dos objetos no espaço destinado à preservação da
memória sobre brincadeiras e brinquedos que constituem a cultura infantil. O museu conta com
um acervo de valor histórico que possibilita aos visitantes um olhar sobre o brincar, sobre os
jogos e as brincadeiras de uma maneira facilitada e que recorda, muitas vezes, a própria história,
resgatando a memória infantil. Neste sentido, ao tratar o acervo do MEB a partir de uma
abordagem cultural, ampliam-se os diálogos com teorias sobre a inserção dos ambientes
museológicos no campo educacional, no qual a democratização do acesso aos objetos de
conhecimento seja possível especialmente num ambiente que se destina a preservá-los.
PESQUISA, ORGANIZAÇÃO, CATALOGAÇÃO E DIVULGAÇÃO DO ACERVO
As a aposentadoria da professora Tizuko Kishimoto, o acervo carecia de
identificação, organização, catalogação e divulgação através de catálogos e inventários. A partir
dos resultados das pesquisas históricas, elaboramos novos projetos de extensão e pesquisa para
compreendermos como se desenvolveu o processo de constituição do acervo e da curadoria,
além de buscarmos parcerias com outros setores da FEUSP que também lidam com a gestão de
acervos.
Com base nessas pesquisas de reconhecimento sobre os procedimentos museológicos,
desenvolvemos uma potica do acervo em 2016, em colaboração com o Centro de Memória da
Educação, a biblioteca e a professora Diana Vidal, então vice-diretora da FEUSP. Foram
dimensionadas estratégias de descarte e conservação dos objetos, além de adequações nos
procedimentos de doação, estratégia central de ampliação das coleções adotada pela professora
Tizuko Kishimoto. Além disso, foi explicitada a problemática envolvida na criação de
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categorias de brinquedos e materiais didáticos em associação aos referenciais sobre as culturas
infantis e sobre a educação.
As pesquisas históricas desenvolvidas nos projetos de IC foram essenciais para
desenvolvermos uma metodologia de descrição e classificação dos materiais didáticos e dos
brinquedos com a criação de descritores que expressam a complexidade dos objetos, desde sua
produção, a circulação ou comercialização, o consumo dos objetos e a história de sua
incorporação ao MEB. A organização e sistematização do acervo, assim como de seu
tombamento, considera a historicidade de cada objeto mostrando seu percurso desde a produção
até sua incorporação ao acervo do MEB, abrindo ainda possibilidades de demarcar seu histórico
nesta instituição, com registros sobre sua exibição em exposições ou utilização em pesquisas e
projetos de formação de professores. Nesse sentido, destacamos o procedimento de doações,
implementado pela professora Tizuko Kishimoto, que valorizava a memória da infância no

ico pode evidenciar singularidades dos brinquedos e materiais
didáticos investigados, assim como algumas questões que perpassam as temáticas da educação,
das culturas infantis, da cultura material e, em termos mais gerais, as áreas de história,
antropologia e arqueologia (LOPES, 2008).
O projeto de extensão Pesquisa, organização, identificação e catalogação dos
brinquedos e materiais didáticos do Museu da Educação e do Brinquedo (MEB) (Programa
Unificado de Bolsas PUB/USP), compreendendo a gestão e organização do acervo, composto
por fotografias, obras de arte, brinquedos, materiais pedagicos, objetos decorativos e
documentos sobre a própria história institucional do MEB. Até o momento, quatro bolsistas
participaram do projeto
2
e elaboraram seus respectivos relatórios, que têm servido para a
organização, o planejamento e a execução de ações sobre o acervo, as práticas educativas e a
comunicação do museu.
O desenvolvimento dos projetos com bolsistas PUB possibilitou uma organização geral
do acervo. Em 2016 e 2017 a equipe do MEB
3
realizou intenso trabalho compreendendo um
minucioso processo de higienização, organização da reserva técnica, identificação e avaliação
do estado de conservação. Os 1500 objetos tridimensionais catalogados anteriormente e
acondicionados em cerca de 45 caixas, foram revistos e iniciamos um processo de identificação
2
Luanna Shimada Siqueira (2018), Valéria dos Santos Peso (2018), Thamyris Martins de Andrade (2018), Karina
Oliveira Alves (2019).
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Composta pela educadora Beatriz Hungria e pelos bolsistas PUB Áudrea Santana, Kethyllin Santos da Silva e
Juarez de Oliveira Cardoso
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de brinquedos que haviam sido doados, mas que ainda não tinham passado por nenhum
tratamento museológico. Após o trabalho completo, o acervo do MEB atingiu cerca de 2000
itens tridimensionais, acondicionados em 90 caixas. Foram organizadas duas reservas técnicas
para o acervo tridimensional (brinquedos, materiais didáticos, jogos, artefatos étnicos e obras
de arte), criando rotinas de higienização do espaço e de monitoramento da temperatura e
umidade. Além disso, houve uma caracterização geral das coleções do MEB, assim constituída
(SANTANA, 2017):
- Tridimensionais - Possui cerca de 2000 brinquedos, jogos, materiais didáticos
produzidos por museus, acondicionados em 90 caixas plásticas. Incorporados ao acervo
por doações;
- Coleção Cenas Infantis - 79 obras de arte, entre elas, esculturas, painéis táteis, desenhos
em técnica mista criados pela artista plástica Sandra Guinle e doados ao MEB em 2012;
- Coleção de Memória Institucional - Entrevistas, documentos históricos do museu,
registros e relatórios institucionais;
- Coleção Tizuko Morchida Kishimoto - Em processo de reconhecimento. Abarca acervo
pertencente à professora Alice Meirelles doado à Tizuko durante pesquisa de doutorado
e outros documentos que versam sobre educação;
- Materiais audiovisuais e sonoros - CD, DVD, fita cassete e LP acondicionados em 7
caixas, audiovisual, composto por 46 VHS;
- Memória institucional - 1 caixa com presépios, desenhos, 9 caixas de documentos
textuais: relatórios, cerca de 820 fotos e 150 tiras de negativos, fichas de doação,
documentos administrativos, controles de visitas;
- Coleção Alice Meirelles dos Reis Cerca de 150 fotos que registram sua prática como
professora no Jardim de Infância da Escola Caetano de Campos e registros que versam
sobre Pedagogia e Jardim de Infância;
- Coleção Cruzada Pró Infância 25 fotos com cenas de práticas pedagicas da cruzada
pró-infância;
- Coleção Liga das Senhoras Católicas 25 fotos com cenas de práticas pedagógicas da
Liga das Senhoras Católicas;
- Materiais de referência - Livros, catálogos, obras sobre museu, infância e educação de
museus, em torno de 140 itens;
- Acervo bibliográfico - 351 volumes de livros, catálogos, dicionários, cadernetas,
coleções, etc, atualmente conservados na biblioteca da FEUSP.
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Inicialmente foi feito um mapeamento de todos os lugares que continham documentos
e objetos que faziam parte do acervo do museu. Posteriormente foi construído um mapa
topográfico do acervo com a identificação de cada item, levando em consideração o espaço em
que ele estava localizado e a caracterização das coleções. Para compreender melhor as
características de cada conjunto, foi elaborada uma planilha Excel com campos que
contemplassem o máximo de informações sobre os conjuntos, como sua localização exata, seu
gênero, descrição básica e estado de conservação, separamos o acervo por gênero
(tridimensional, fotográfico, audiovisual, sonoro, iconográfico, textual e eletrônico) sem perder
suas devidas referências. Após esse processo inicial, houve um esforço de alimentação da
planilha com as descrições dos itens, intercalando as atividades dos bolsistas com as ações
educativas (SANTANA, 2017).
Foram criados novos descritores para dar continuidade ao processo de catalogação do
acervo desenvolvido na gestão da professora Tizuko Kishimoto através de fichas catalográficas.
Na planilha foram incorporados novos campos de acordo com a missão, os referenciais teóricos
e as pesquisas históricas desenvolvidas no MEB. O desenvolvimento da planilha foi realizado
especialmente pela bolsista PUB Audrea Santana (2017), licencianda em História, que utilizou
a Norma Brasileira de Descrição Arquivística NOBRADE (Brasil, 2006) e referenciais da
museologia (PADILHA, 2014; BOYLAN, 2004; COSTA, 2006). A planilha é composta pelos
seguintes campos de descrição explicitados na Tabela 1.
TABELA 1 - Descritores da planilha Excel do acervo tridimensional do MEB (extraído de
Santana, 2017).
DESCRITORES
DETALHAMENTO
Fotografia do objeto
Localização física / Registro
topográfico
Informações sobre a localização dos documentos. Padrão: Prédio: CJX
(sala); FX (conjunto de mobiliário); EX (Estante); PX (Prateleira)
Caixa / Pasta
Armazenamento do documento (Caixa e/ou pasta)
Fundo/ Coleção
Identificação dos conjuntos museológicos
Número de registro/tombo
(antigo)
Preencher quando houver, com a numeração já existente nos objetos
Categoria (antigo)
Categorias identificadas pelo MEB
digo de registro
Código atual de identificação do objeto no acervo
Objeto
Descrever de forma simples o que é o objeto (campo auxiliará na
revisão das categorias)
Título
Preencher quando houver
Descrição
Descrição detalhada e contextual do objeto.
Data de referência
Preencher com a data ou peodo do objeto. Quando não houver data
preencher s.d. Dúvidas preencher em colchetes [] e colocar traço na
falta de informação: Ex. [19--], [191-]
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Histórico
Data de incorporação ao acervo e histórico da doação
Local de origem (procedência)
Cidade ou país que objeto foi produzido
Suporte (Material)
Listar os diferentes tipos de materiais o objeto é formado
Dimensão
Largura, comprimento, altura (cm)
Nº de partes / peças
Preencher com a quantidade de parte/peças que compõem o objeto
Produtor/fabricante
Nome da marca, empresa, artesão, artista que produziu o objeto
Exemplar/réplica
Identificar se no acervo existem exemplares do mesmo objeto.
Preencher, se houver, com os números de tombo de cada exemplar
Tipo de aquisição
Doação, compra, permuta, compra deposito ou transferência
Dados de incorporação
Informações sobre a aquisição como o nome completo do doador e data
de doação, termos (doação, depósito, permuta)
Estado de conservação
Identificar o estado de conservação do objeto
Restauro
Descrever as intervenções e restaurações que o objeto sofreu e indicar
as necessidades e possibilidade
Exposições
Título, ano e local da exposição que o objeto participou
Objetos associados
Indicação de outros objetos do acervo que podem estar associados
diretamente com o objeto descrito
Observações complementares
Informações que não se enquadrem nos campos anteriores
Descarte
Identificar e justificar possíveis objetos que possam ser descartados
As a criação dos descritores, os alunos envolvidos em projetos de extensão têm se
concentrado na alimentação da planilha com descrição dos dados do acervo. Os bolsistas
fizeram revisões das fichas catalográficas dos objetos tridimensionais e as fichas de doação e
incorporaram esses dados na planilha Excel. Além disso, fotografaram os objetos e
complementaram algumas pesquisas para o preenchimento de novos campos. Esta organização
foi realizada em cada caixa de brinquedos, no qual os bolsistas observavam os objetos
progressivamente, incorporando os dados de cerca de 12 caixas à planilha, correspondentes a
244 registros. Neste processo, também foi realizada uma identificação numérica dos brinquedos
sem tombo.
Nas atividades junto ao setor de acervo e curadoria, são também criados instrumentos
de pesquisa, como inventários, catálogos de museus, arquivos digitais, guias dentre os quais,
alguns foram inseridos nos relatórios PUB dos bolsistas. Destacamos o inventário de
brinquedos da professora Tizuko Kishimoto, compreendendo os objetos adquiridos em sua
atuação no MEB, suas doações ao museu e também dos brinquedos de seus filhos e netos. O
inventário foi sistematizado pelos bolsistas Karina Oliveira Alves e Geam Marcelo C. da Silva
em 2019 para a preparação de uma exposição para os 20 anos do museu, valorizando sua
trajetória de Tizuko na educação infantil e na criação do MEB. Esta exposição não chegou a
ser concluída devido às interrupções das ações presenciais no museu com a pandemia de covid-
19, mas será de grande valia para futuros projetos (ALVES, 2019).
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Atualmente, além das ações educativas e das pesquisas históricas, os bolsistas PUB
4
estão envolvidos na crião e na divulgação de coleções virtuais do MEB através do software
livre Tainacan. Este software foi desenvolvido pelo Laboratório de Intelincia de Redes da
Universidade de Brasília (UnB), com apoio da Universidade Federal de Goiás (UFG), do
Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia e do Instituto Brasileiro de Museus
(IBRAM). Produzido através do WordPress, o Tainacan permite a criação e a preservação de
acervos digitais e da sua comunicação na internet (https://tainacan.org/). O programa possibilita
catalogar, armazenar e compartilhar informações sobre as coleções dos museus e será
extremamente útil para a inserção dos dados que já foram organizados pelos bolsistas do MEB.
Para a criação de um acervo digital, estamos contando com a colaboração e assessoria
da equipe do Tainacan, o que está demandando a reorganização dos descritores, a revisão dos
dados incorporados nas planilhas e a catalogação do acervo do MEB. Com auxílio da
bibliotecária Elaine Cristina Barrelo desde 2020, iniciamos a revisão das categorias de objetos
tridimensionais, pois consistia numa categoria muito abrangente que não possibilita uma
descrição clara dos objetos. Como esse processo está sendo conduzido durante a pandemia, sem
a possibilidade de manipularmos e observarmos diretamente os objetos do acervo, as pesquisas
foram limitadas aos dados dos itens que já tinham sido incorporados à planilha Excel, em
associação aos resultados das pesquisas históricas sobre o acervo. Os referenciais teóricos sobre
a história cultural, brinquedos e brincadeiras são essenciais para esta caracterização.
Neste momento, definimos novas categorias para os objetos tridimensionais. Em relação
à produção, circulação e consumo (MENEZES, 1994) eles serão classificados como:
- Artesanais objetos criados e preparados por adultos como artesãos, professores,
educadores de museus, animadores culturais, estudantes, etc. o caracterizados por serem
produzidos em pequena escala, conferindo unicidade ao processo criativo do artesão ou
educador e de seus propósitos comerciais, de elaboração e realização de atividades educativas,
oficinas culturais, atividades lúdicas, jogos, etc.;
- Industrializados objetos produzidos em série por bricas de brinquedos, jogos,
materiais didáticos, materiais esportivos, etc. Esses objetos se caracterizam pela produção
padronizada em larga escala e com forte influência da indústria cultural. A reprodutibilidade
dos objetos, visando atingir um grande mercado consumidor, mobiliza equipes de profissionais
4
Em 2021 está ocorrendo o projeto Trajetórias históricas dos brinquedos e materiais didáticos do Museu da
Educação e do Brinquedo (MEB), com participação do estudante de pedagogia, Jonathan Moreira dos Santos.
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e estratégias de várias áreas como design, marketing e comunicação, em estreita associação à
cultura de massa;
- Obras de arte esculturas, pinturas, artes decorativas, desenhos e painéis táteis
produzidos por artistas. O museu possui coleções de obras de arte produzidas por artistas
consagrados no meio artístico;
- Artefatos étnicos objetos produzidos por grupos étnicos diversos. Estes artefatos se
associam às práticas culturais nas quais foram produzidos e que podem ser interpretados por
suas afinidades tipológicas a brinquedos, jogos, brincadeiras e práticas educativas (RIBEIRO,
1988);
- Artefatos produzidos por brincantes - objetos produzidos pelas crianças ou adultos
durante os jogos e as brincadeiras. Os materiais constituintes desses objetos têm baixa
durabilidade, além de muitos serem utilizados pelas crianças somente no momento da
brincadeira e descartados posteriormente. Devido a essa característica, o museu possui poucos
objetos desta tipologia, mas há alguns destes artefatos que foram produzidos nas próprias
práticas educativas do museu. Além disso, estamos organizando outras formas de registros
destes artefatos, como a gravação em vídeo, a elaboração de relatos a partir da observação de
projetos envolvendo brinquedos e brincadeiras na USP;
Em relação às práticas culturais nas quais os objetos são utilizados, serão classificados
como:
- Jogos Objetos utilizados em práticas com regras definidas (KISHIMOTO, 2011).
- Brinquedos Objetos utilizados em brincadeiras. Tanto o sujeito brincante, como
também o fabricante, podem inserir elementos culturais distintos (KISHIMOTO, 2011).
- Materiais didáticos Todo o material que professores e alunos possam utilizar em
práticas mediadas em escolas e instituições de educação o formal.
No momento, ainda estamos criando subcategorias para os jogos, brinquedos e materiais
didáticos, utilizando como refencia a bibliografia sobre o tema, refencias bibliográficas,
como Thesaurus de museus e promovendo diálogos com outros professores que atuam na área
da infância e da cultura corporal (FERREZ, 1987). Desde 2017 o acesso às salas de reserva
técnica foi limitado devido a problemas estruturais no prédio. O acervo foi transferido
provisoriamente para outras acomodações em 2019, quando foi iniciada uma reforma no prédio,
finalizada apenas no segundo semestre de 2021. Atualmente a funcionária Cristina Barrelo está
reorganizando o acervo em três salas, procedendo à higienização e reorganização dos objetos.
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CURADORIA E MONTAGEM DE EXPOSIÇÕES
Associado ao reconhecimento e catalogação do acervo, o MEB tem desenvolvido
projetos de curadoria e montagem de exposições, envolvendo as coordenadoras, a educadora e
os bolsistas. O espaço expositivo do MEB concentra-se no segundo andar da biblioteca da
FEUSP e foi se ampliando no decorrer de nossa gestão. Inicialmente o espaço era compartilhado
com uma sala de leitura, limitando os horários disponíveis para o recebimento de visitas
monitoradas e aumentando as reclamações dos usuários da biblioteca sobre barulho e outros
inconvenientes no espaço. Posteriormente, em 2018, o espaço do segundo andar da biblioteca
foi completamente concedido ao MEB para a realização de exposições, além de também receber
uma sala para abrigar a equipe neste andar, facilitando a logística no recebimento das visitas, o
trabalho da educadora e dos bolsistas. Com isso, houve um aumento expressivo no número de
visitantes, além de facilitar o desenvolvimento da mediação e da criação de práticas
pedagógicas.
O espaço expositivo tem abrigado, desde 2014, a exposição permanente Cenas Infantis
com obras de arte produzidas pela artista plástica Sandra Guinle, que já foram exibidas em
diversas exposões pelo mundo. Esta exposição é composta por mais de 70 esculturas, placas
táteis, técnicas em desenhos, que podem ser tocadas e movimentadas pelos visitantes.

na abertura do Seminário Educação e Museus e ficou em exibão até 2018 na Biblioteca da
FEUSP. Os conteúdos da exposição tomaram por base o acervo de materiais didáticos e
brinquedos científicos do MEB e as ões e produções desenvolvidas ao longo dos estágios
supervisionados realizadas pelos alunos e alunas do curso de Pedagogia da FEUSP, ligados à
disciplina de Metodologia do Ensino de Ciências. Para sua produção, foram feitos registros de
atividades desenvolvidas pelos licenciandos da Pedagogia durante os estágios realizados nas
turmas de Ensino Fundamental I da Escola de Aplicação e no Clube de Matemática, Ciências
Naturais e Geografia da FEUSP. Com base nessas informações e considerando o acervo do
MEB, formado por objetos que ora podem ser considerados brinquedos, ora materiais
educativos, os objetivos foram sendo formulados. A intenção da exposição foi explorar as
interfaces, as articulações, mas também os limites e as tensões entre os objetos de brincar e de
aprender utilizados em contextos formais e não formais de ensino, buscando promover a
reflexão sobre os limites e as intersecções entre brincar e aprender, brinquedos e objetos
educativos.
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FIGURA 2 Abaixo, disposição geral da exposição Brincar ou Ensinar; e exposição Cenas
Infantis com obras de arte de Sandra Guinle
Em 2018 foi organizada uma nova exposição temporária pela educadora em conjunto
           
associou-se à experiência acumulada nas ações educativas e no crescente conhecimento do
acervo. A seleção dos objetos resgatou as memórias infantis da equipe, propondo ainda
apresentar séries de brinquedos organizadas por recortes temporais desde 1930 e tipologias das
coleções como jogos, bonecas, brinquedos artesanais, jogos eletrônicos, etc. Na mediação
foram abordadas questões relativas à memória, à produção, circulação e consumo dos artefatos,
problematizando questões socioculturais e históricas. Ao longo do processo foram
desenvolvidas novas brincadeiras e oficinas de construção de brinquedos, que envolveram
pesquisas para o resgate histórico e cultural das mesmas (SIQUEIRA, 2018).
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A CONSTITUIÇÃO DO SETOR EDUCATIVO
A mediação em museus e espaços culturais tem sido objeto de reflexão no campo da
museologia, da educação e da comunicação. As particularidades de ambientes de educação não
formal como bibliotecas, museus, exposições, parques, criam algumas possibilidades de
elaboração de atividades educativas que ultrapassam o cotidiano das instituições escolares,
possibilitando o desenvolvimento do lúdico e da livre expressão e interpretação. A bibliografia
que trata da educação em museus vem sendo tomada como parâmetro para desenvolvermos o
setor educativo do MEB.
As ações educativas do MEB visam a implementação de um projeto de
acompanhamento dos educadores responsáveis pelos grupos escolares, a fim de que as visitas
monitoradas não constituam um fim em si mesmo e contribuam para os projetos educativos das
instituições formais de ensino. Para tanto, promovemos o contato entre os educadores e os
monitores antes das visitas e o intercâmbio de ideias durante as monitorias e estimulamos a
participação dos educandos.
O setor educativo também oferece visitas monitoradas para o público espontâneo.
Buscamos contextualizar a importância do MEB para a preservação da memória sobre os
brinquedos e brincadeiras, assim como a própria história institucional da Faculdade de
Educação, o desenvolvimento de importantes ações sobre a criação de materiais pedagógicos e
a formação de professores.
A monitoria das exposições é uma das atividades do setor educativo e está associada às
pesquisas sobre a história do acervo, educação em museus e produção de material didático.
     -mediador-  
desenvolvimento das atividades da monitoria, buscamos um embasamento teórico para a
continuidade do processo de pesquisa e desenvolvimento dasões. Faz-se patente a análise da
bibliografia utilizada na pesquisa a fim de dimensionar a pertinência das ações educativas no
espaço destinado à preservação da memória sobre brincadeiras e brinquedos que constituem a
cultura infantil. Neste sentido, ao tratar o acervo do MEB a partir de uma abordagem cultural,
torna-se possível um diálogo com as teorias acerca da inserção dos ambientes museológicos no
campo educacional. Isto nos aponta para a própria necessidade de refletir sobre o papel dos
agentes do processo educativo num ambiente de preservação da cultura patrimonial, a saber
mediadores, educadores e público, numa perspectiva sempre pautada na relão com os objetos
apresentados nesses ambientes.
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Acreditamos que no museu, a disposição dos instrumentos/objetos de estímulo ao
pensamento crítico por meio do rompimento com as formas tradicionais de ensino. Isso ocorre
por meio de maior flexibilização das relações de aprendizagem, que podem ser percebidas pela
própria disposição espacial dos objetos (fora da organização lógica dos ambientes das salas de
aula) até os temas possíveis de serem propostos, que podem se contrapor às abordagens
sistemáticas dos currículos das escolas. Tal perspectiva nos parece ainda mais pertinente se
considerarmos o caráter de preservação patrimonial do MEB, numa conjugação entre
preservação e acesso, em que a democratização aos objetos de conhecimento seja possível
especialmente num ambiente que se destina a preservá-los.
Nos últimos anos temos adotado no MEB uma nova posição de laboratório de pesquisa
das práticas educativas, assumindo também o desafio de mostrar ao público a complexidade
das atividades desenvolvidas na Faculdade de Educação, valorizando as práticas e os saberes
institucionais. As ações são realizadas de forma articulada com as pesquisas histórico-culturais
sobre brinquedos e materiais didáticos constituintes do acervo da instituição, cujo valor
histórico possibilita aos visitantes um olhar sobre o brincar, os jogos e as brincadeiras de uma
maneira facilitada e que recorda, em muitas vezes, a própria história e acaba resgatando a
memória infantil.
Fazer a mediação num museu em que os objetos expostos são jogos e brinquedos traz
grande complexidade, assim como uma enorme riqueza, pois muitas das brincadeiras e dos
jogos têm caráter regional e, por vezes, podem ter nomes diferentes em cada região. Assim o
papel que o mediador cumprirá no momento da monitoria é essencial para a elucidação do que
é exposto. É a partir das informações que o mediador expõe que levará o expectador a refletir
sobre o assunto, abrindo espaço ao visitante para realizar suas próprias interpretações. O
educador dos museus precisa estar preparado e atento para os vários olhares que o acervo
exposto pode provocar nos espectadores, explicitando com clareza sobre quais modelos de
comunicação e educação utilizam em suas ações e em quais desejam pautar seu trabalho
(MARANDINO, et al, 2008).
Além dos olhares atentos que os educadores e mediadores precisam ter para a elaboração
de exposições, eles também necessitam refletir sobre sua própria prática e suas ações dentro
deste espaço. Já que os museus também promovem o conhecimento.
Uma visita a um museu pode ser mais do que divertimento, não por
estimular o aprendizado e a observação, mas por promover o exercício da
cidadania indistintamente, tanto atras de suas atividades educativas, como
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por estimular a participação dos mais diversos grupos de pessoas dos vários
níveis socioeconômicos. (MARANDINO, 2008, p. 21).
O projeto de extensão Mediações e Ações Educativas no Museu da Educação e do
Brinquedo (MEB - FEUSP)
5
propõe o desenvolvimento de ões educativas no Museu da
Educação e do Brinquedo na Faculdade de Educação (MEB-USP) em duas exposições no MEB:

exposições temporári          
brinquedos do acervo. Até o momento, seis bolsistas
6
participaram do projeto, atuando em
conjunto com a educadora Beatriz Hungria na criação de roteiros de visitação, de brincadeiras
e de práticas pedagógicas.
FIGURA 3 - Ações educativas em visitas monitoradas no MEB. A esquerda, crianças
manipulando uma escultura da exposição Cenas Infantis e à direita oficina de construção de
brinquedos realizada ao final da visita
As mediações no MEB estão num processo constante de revisão. Em 2016/17, a
professora Martha Marandino criou, em conjunto com a educadora, alguns roteiros de visitação,

 osteriormente, os bolsistas e a educadora também constrram estratégias na
          
brinquedos, relações com a indústria cultural e consumo, etc.
5
O projeto foi submetido ao Programa Unificado de Bolsas (PUB) e aprovado em 2016 e 2018 e 2021, é
coordenado pela professora Ermelinda Pataca em colaboração com a professora Martha Marandino.
6
Juarez Cardoso (2017), Kethyllin Santos (2017), Thaís Pereira Carvalho (2019) e Geam M. Campos da Silva
(2019). Atualmente estão vinculados ao projeto Hamde Rodrigues El Hage e Steffany Silva Martins dos Anjos.
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Desde o início de nossas ações, o MEB vem recebendo vários grupos de escolas públicas
e particulares de educação infantil e ensino fundamental. Além disso, vale destacar o crescente
agendamento de grupos de alunos de pedagogia e licenciatura, que buscam a reflexão sobre a
educação, o brinquedo e a brincadeira. O número de visitantes, sistematizado na tabela a seguir,
aumentou entre 2015 e 2019, ampliando a visibilidade e a implementação dos projetos no MEB.
Alguns dos visitantes responderam aos questionários sobre pesquisas de percepção pública em
museus. Encerramos as visitas monitoradas às exposições após o retorno de Beatriz Hungria
para o campus da USP em Piracicaba, em janeiro de 2019 e a finalização do último grupo de
bolsistas PUB em agosto do mesmo ano.
TABELA 1: Número de visitantes no MEB entre 2015 e 2019.
Ano
Número de visitantes
2015
837
2016
373
2017
420 (até agosto)
2018
1755
2019
520
As ações educativas também envolveram o registro e a reflexão sobre a prática
pedagógica, o que tem se constituído em rico material para o desenvolvimento de novas práticas
em grupos distintos de bolsistas. Os estudantes ficaram responsáveis pelo controle de visitação
em planilhas, pela aplicação de questionários, registros fotográficos e elaboração de breves
relatórios de visitação após a monitoria com os grupos. Além disso, destaco a elaboração dos
relatórios finais da bolsa PUB com sínteses de todas as atividades e reflexões, fundamentadas
em refencias bibliográficas discutidas na formão constante dos bolsistas.
As ações educativas ficaram paralisadas no museu entre setembro de 2019 e novembro
de 2020 por falta de técnicos e bolsistas. Nesse momento, a ausência de uma funcionária no
museu foi suprimida com a transferência da bibliotecária Elaine Cristina Barrelo para o MEB
e foram contratadas duas estagiárias
7
financiadas pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão. Com
o isolamento social decorrente da pandemia de COVID-19, as ações presenciais, como as visitas
monitoradas, foram interrompidas e novas estratégias e práticas educativas foram
7
Lia de Almeida Macruz e Paula Lion, estudantes do curso de pedagogia. Em agosto de 2021 o estudante Evandro
Santana assumiu uma das vagas.
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desenvolvidas para o trabalho remoto, com foco especial para ações de comunicação nas redes
sociais.
Entre 2020 e 2021 o MEB vem desenvolvendo uma série de atividades online, dentre as
quais, destacamos a parceria com a Escola de Aplicação (EA) da FEUSP, com a realização de
oficinas para os estudantes das séries iniciais. Foram produzidos vídeos curtos com instruções
para a preparação de brinquedos e brincadeiras, associados a um roteiro de oficinas
desenvolvidas pelas estagiárias e bibliotecária, com atividades síncronas e assíncronas. Os
vídeos também foram disponibilizados no canal YouTube do MEB
(https://www.youtube.com/channel/UCjzItfkI6pzpCgGj7e7B0Pw/featured), lançado durante a
Semana dos Museus, em maio de 2021.
FIGURA 5 - Flyer de divulgação do canal de YouTube com vídeos das oficinas
Cantinho do Brincar
COMUNICAÇÃO
O MEB tem buscado canais de comunicação diversos, desde a realização de eventos, a
participação ativa nas redes sociais, divulgação dos eventos e ações através do setor dedia e
comunicação da FEUSP, desenvolvimento de websites, etc. Tais ações estão se firmando
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             
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Desde o início da atual gestão, o MEB tem organizado eventos, com foco especial nas
discussões sobre história dos museus, educação em museus, brinquedos e infância. Em 2015,

espaço para a realização de palestras e mesas redondas, como um espaço de discussão sobre os
principais temas associados às ações do museu. Neste mesmo ano, o MEB passou a participar
anualmente de eventos promovidos pelo IBRAM, como a Semana Nacional dos Museus, a
Primavera dos Museus. Além disso, também criava atividades para a Semana Nacional de
Ciência e Tecnologia, promovida pelo IBRAM.
Destacamos a organização do Seminário Educação e Museus em 2017. Os objetivos do
evento consistiram em articular os profissionais envolvidos com ações educativas nos museus
da USP e discutir sobre os principais desafios e possibilidades da educação em museus.
Educadores e professores de nove museus da USP, da FEUSP e do Programa Interunidades em
Museologia (PPGMus)
8
participaram ativamente da organização do evento e da realização das
atividades, estruturadas em Grupos de Trabalho (GTs), visitas técnicas com foco nas ações
educativas dos nove museus, mesas redondas e conferência internacional. O público do evento,
com 350 inscritos, excedeu a expectativa inicial e contou com a participação de educadores de
museus, professores da educação básica, estudantes de graduação e de pós-graduação,
provenientes de diversas regiões do Brasil. Como resultado tivemos ricas trocas de experiência
nos grupos de trabalho e a articulação entre os profissionais envolvidos com a educação em
museus na USP. A realização do evento deu grande visibilidade ao MEB, constituindo-se como
um espaço de reflexão e divulgação de pesquisas sobre a educação em museus. Os bolsistas
PUB participaram intensamente do evento, acompanhando todas as atividades, especialmente
as visitas monitoradas aos museus da USP e a organização da visita e das atividades realizadas
no próprio MEB. Ao final do processo, foi desenvolvido um site, posteriormente vinculado ao
site do MEB, para a divulgação de um livro (MARANDINO; PATACA, 2008), dos resultados
dos grupos de trabalhos (GTs), relatos e fotografias das visitas técnicas aos nove museus
envolvidos no evento (http://meb.fe.usp.br/seminario/).
8
O evento teve financiamento do programa PAEP/CAPES. Os museus da USP envolvidos com o evento foram:
Museu Paulista (MP), Museu de Zoologia (MZ), Museu de Arte Contemporânea (MAC), Museu de Arqueologia
e Etnologia (MAE), Museu da Educação e do Brinquedo (MEB), Museu Oceanográfico (MO), Museu de
Geociências, Parque CienTec e Museu de Anatomia Veterinária (MAV).
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FIGURA 6 - Atividades do Seminário Educação e Museus. Acima, visitas técnicas ao Museu
de Geociências e ao Museu de Zoologia. Abaixo, abertura do seminário com a presença dos
educadores dos nove museus da USP, envolvidos na organização e realização do evento
Além disso, destacamos a criação de novas ações que estão ocorrendo no Instagram do
MEB (@meb_feusp) e no Facebook (@MEBFEUSP), promovendo o papel do MEB como um
canal de comunicação virtual com o público e para a divulgação de conteúdos sobre brinquedos,
brincadeiras e educação em museus.
Neste ano de 2021 o MEB lançou seu novo site (http://meb.fe.usp.br) em um evento no
qual discutiu o tema dos acervos e museus virtuais. O site estava em construção desde 2018 e
buscou divulgar as principais ações desenvolvidas no MEB, com foco especial para o educativo,
as exposições, o acervo, a pesquisa, a formação de professores e os eventos. O objetivo inicial
do site, elaborado em conjunto com a empresa Preface, foi de apresentar sucintamente o museu
a professores e visitantes, com informações essenciais para o agendamento de visitas
presenciais. Em 2021 o site passou por uma reestruturação, elaborada em conjunto com o
estagiário Evandro Santana, quando foram atualizados os projetos, ações e materiais didáticos
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e de divulgação científica, desenvolvidos de forma virtual durante a pandemia de COVID-19,
e tamm foram incorporados materiais produzidos ao longo da atual gestão de museu, como
guias de visitas a museus, sites, inventários, relatórios e registros fotográficos. Estes materiais
se complementam às ações de comunicação das redes sociais, especialmente no Instagram, e
podem ser utilizados em diversas ações museais e escolares por públicos diversos.
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Desde 2016, desenvolvemos um Programa de Formação de Professores no Museu da
Educação e do Brinquedo (MEB). Recebemos estagiárias do curso de pedagogia e de
licenciatura, com foco especial para as disciplinas de Metodologia do Ensino em História,
Geografia, Ciências e Artes. Com a finalidade de estruturar melhor estas ações de formação
inicial e ampliar a possibilidade de atuação dos futuros professores/educadores, estamos
desenvolvendo ações pedagógicas específicas voltadas ao reconhecimento e utilização de seus
espaços nos estágios supervisionados e nas atividades científico-culturais previstas por lei.
Entende-se que o trabalho realizado pelo MEB é um forte e importante aliado para a formação
cientfico-cultural dos professores, ampliando e aprofundando conhecimentos relativos às áreas
do trabalho pedagógico na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I e II, promovendo a
ampliação e enriquecimento geral por meio de experiências curriculares diversificadas na
interação com linguagens culturais, artísticas, corporais e científicas indispensáveis para o
trabalho em sala de aula.
Para a formação da equipe do MEB, compreendendo bolsistas PUB, estagiários
financiados pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, alunos de pós-graduação e estagiários das
disciplinas de Metodologia do Ensino supervisionados no MEB, realizamos reuniões periódicas
ou organizamos palestras e eventos. Esses momentos são essenciais, tanto na formação teórica
dos bolsistas, através da discussão de textos sobre museus, infância e educação, quanto no
planejamento das ações individuais ou coletivas
9
.
Em 2016 um grupo de alunas da disciplina de Metodologia do Ensino em Ciências para
pedagogia desenvolveu os estágios no Clube de Ciências e Matemática, com a criação de
materiais didáticos e práticas de ensino que foram sistematizadas por duas alunas de pós-
9
Destacamos aqui a Semana de formação dos Educadores do MEB, realizada em setembro de 2018, que contou
com apresentações e oficinas das coordenadoras do MEB, da educadora, da professora de Metodologia do Ensino
em História, Patrícia Tavares Raffaini, da artista plástica Sandra Guinle e dos ex-bolsistas PUB, numa ampla
articulação entre teoria e as ações do museu.
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graduação, bolsistas do Programa Monitores Bolsistas da Pró-Reitoria de Graduação da USP
10
.
Esse material posteriormente foi apresentado na Exposição "Brincar ou Ensinar". O projeto
reuniu o acervo de materiais educativos desenvolvidos pelos estagiários, tornando-se um espaço
de formão dos licenciandos e de atuação dos monitores-bolsistas (MILAN, et ali, 2017;
MARANDINO, et ali, 2018).
Em 2017, recebemos a estagiária da Licenciatura em Geociências e Educação
Ambiental (LiGEA), Luciana Cezar. Em colaboração com a bolsista PUB, Luanna Shimada,
do mesmo curso, foi desenvolvida uma visita monitorada para os estudantes desta licenciatura
problematizando as definições e utilizações de materiais didáticos ou brinquedos na educação
científica. A experiência foi apresentada no Simpósio Nacional de Ensino e História das
Ciências da Terra, EnsinoGEO 2018 e resultou na publicação de trabalho completo nos anais
do evento (CEZAR, et. al, 2018).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O MEB tem buscado soluções perante os desafios de identidade, de reconhecimento e
de recursos financeiros e de profissionais que os museus universitários vêm lidando desde o
século passado. Por outro lado, a própria condição universitária pode proporcionar alguns
elementos para a resolução dos problemas e viabilizem o funcionamento do museu de forma
orgânica na articulação entre ensino, pesquisa e extensão.
Os desafios referentes à gestão têm encontrado respaldo na clara definição da missão do
museu, desencadeando na ampliação do seu escopo funcionamento constitdo em três setores:
acervo e curadoria; educativo e comunicação; pesquisa. Além da constituição inicial de ampla
coleção de brinquedos e materiais pedagógicos no campo da educação infantil, a redefinição
identitária do museu, amplamente ancorada em pesquisas sobre a história institucional, ampliou
o espectro de ação no fortalecimento de um museu da educação. Além disso, o MEB tem
buscado a articulação com outros museus e acervos da USP, se configurando como um espaço
de reflexão e desenvolvimento de ações sobre a educação em museus.
10
O Programa Monitores-Bolsistas faz parte do Programa de Formação de Professores e consiste na concessão de
bolsas de monitoria destinadas a estudantes de mestrado e/ou doutorado para atuar no acompanhamento das
atividades de estágio supervisionado dos cursos de licenciatura e pedagogia. No ano de 2016 as alunas Arcenira
Resende Lopes Targino e Barbara Milan atuaram no MEB acompanhando as atividades de estágio, com foco na
curadoria da exposição. Em 2017 a bolsa foi concedida às alunas Luna Abrano Bocchi e Maria Cristina Stello
Leite que deram continuidade ao trabalho.
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Os desafios de infraestrutura impostos a um museu universitário têm sido enfrentados
através da parceria com outros setores da FEUSP, especialmente com o setor dedia, a seção
técnica de informática, o Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada
(EDM) e a direção. Tais articulações são essenciais no apoio à divulgação das ações, na
organização de eventos, no gerenciamento dos projetos de pesquisa e extensão, no suporte
institucional às funcionárias, no provimento de materiais de consumo, serviços e infraestrutura.
Destacamos aqui a ampliação dos vínculos com a biblioteca, tanto na utilização do espaço
físico, quanto do suporte no atendimento ao público e na gestão do acervo.
Temos buscado, ainda, a articulação com outros grupos de pesquisa e laboratórios da
FEUSP, cujas afinidades se configuram em ações conjuntas em ensino, pesquisa e extensão
sobre formação de professores, práticas pedagógicas, história da educação, educação em
museus e educação infantil. Neste sentido, destacamos o Centro de Memória da Educação, o
Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos (LABRIMP), o Grupo de Estudos de
Educação Não Formal e Divulgação em Ciências (GEENF), o Clube de Matemática e Ciências,
a Escola de Aplicação, o Projeto Crianças do Crusp, dentre outros. Em alguns momentos esses
esforços foram muito frutíferos na condução das pesquisas, realização das exposições,
organização de eventos, desenvolvimento de ações educativas.
O conjunto de ações realizadas pelos bolsistas, envolvendo todos os setores do MEB,
permite a vivência da dinâmica de um pequeno museu universitário, com foco para as ões
educativas, comunicativas e de organização do acervo. Desta forma, o MEB cumpre com sua
missão de formação de educadores de museus e professores, configurando um espaço
importante na formação acadêmica e profissional dos estudantes da pedagogia e das
licenciaturas.
Os sentidos de um museu da educação se reafirmam no programa de formão de
professores através da supervisão de estágios das disciplinas de metodologia de ensino das
licenciaturas e da pedagogia. Neste sentido, o MEB contribui na definão da atuação dos
educadores em instituições de educação não formal, promovendo atividades associadas ao
próprio funcionamento do museu que tem resultado, ainda, no desenvolvimento de materiais
didáticos e de divulgação museal, como guias de educação em museus; sites; vídeos; textos,
etc. Tais materiais estão sendo produzidos em diversos formatos, intensificando o
desenvolvimento de atividades online após a pandemia de COVID-19, ocasionando na
ampliação da comunicação nas redes sociais e no site do museu que disponibilizam material
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para serem utilizados por professores da educação básica, educadores de museus, estudantes e
pelo público em geral.
Enfim, o MEB se constitui essencialmente em sua condição universitária, expressando
com clareza seus limites e potencialidades e cumprindo com seu principal prosito de prestar
serviços à comunidade e de divulgação da cultura material e imaterial da educação.
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Recebido em: 24 de novembro de 2021
Aceito em: 03 de dezembro de 2021