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ESTÉTICAS DAS RESISTÊNCIAS E O DOCUMENTÁRIO (DOCUMENTO 03): A
MULHER DA CASA DO ARCO-ÍRIS
Gilberto Alexandre Sobrinho
Universidade Estadual de Campinas, Brasil
gilsobri@unicamp.br
RESUMO
Na Trilogia Afro-Campineira” constam três realizações em documentário, em que dirigi, roteirizei
e produzi os filmes. São três curtas-metragens focados em protagonistas de processos culturais,
religiosos e artísticos, todos defensores de manifestações de matrizes africanas e seus potentes
hibridismos, alocados na região metropolitana de Campinas-SP (RMC). Os filmes são Diário de
Exus (2015), A Dança da Amizade, Histórias de Urucungos, Puítas e Quijengues (2016) e A
Mulher da Casa do Arco-Íris (2017/2018). Desenvolvem-se, nos filmes, o que nomeio como as
estéticas das resistências”, priorizando narrativas afro-diaspóricas, num processo de criação em
que confluem estética e política. Esteticamente, o documentário faz convergir os processos de
observação, participação (entrevista), performance e “poesia”, num conjunto de imagens e sons
centrados em pessoas e espaços que se organizam comunitariamente em torno de códigos
afrocentrados. Politicamente, realçam-se o papel da cultura e da religião na afirmação e construção
identitária do povo negro, no Brasil, o que adensa a compreensão do papel da cultura na resistência
de um povo. Esse texto documenta o processo de realização do terceiro curta-metragem da trilogia,
trata-se de A Mulher da Casa do Arco-íris.
Palavras-chave: Documentário. A Mulher da Casa do Arco-íris. Trilogia Afro-campineira.
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Still de A Mulher da Casa do Arco-íris. Saída da Casa do Arco-íris, em Hortolândia - SP.
(Imagem de Coraci Ruiz)
“Eu era conserva, na época chamada laranjinha. eu me iniciei... Eu tinha um
uniforme, mas tinha que pôr branco por baixo. Eu punha meus mijeloguns... os
meus fios de contas e o ojá na cabeça, porque eu estava careca e punha meu
chapeuzinho por cima, e ia trabalhar. Eu tomei seis meses de obrigação, três meses
de migui de muzala”... porque eu sou de Angorô, então minha mãe me deu seis
meses de obrigação. E eu tinha que trabalhar... Eu tinha muita amizade com um
engraxate ali. Um dia eu ali varrendo, tomei um tamanho tapa no bumbum, que
eu caí em cima do engraxate. Esse homem disse assim: Sua feiticeira, isso, aquilo
e me xingou de outros nomes. Eu ce ele correu (...). Aí eu comecei a chorar,
fiquei o nervosa e olhei assim na igreja, e aí eu falei: Olha, minha santa Nossa
Senhora da Conceição, a senhora me viu em perigo... Se a Senhora é de verdade...
Se a Senhora representa a Iemanjá de nossa religião... naquela época não conhecia
Caiá... Eu vou entrar (referia-se a lavar o adro da igreja). Essa é a única coisa
que eu falo pra Senhora. Porque esse mistério desse preconceito tem que acabar.
Campinas foi a última que aderiu à abolição, entre aspas. E continuei varrendo.
Tinha que trabalhar.”
(Mameto Dangoroméia ou Mãe Dango)
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1. O PROCESSO DE CRIAÇÃO (APRESENTAÇÃO DO PROJETO), PRODUÇÃO
(INCLUI O ROTEIRO DE MONTAGEM) E DIFUSÃO DE A MULHER DA CASA DO
ARCORIS (2016-2018)
Objeto
Eu sou mulher, negra e do candomblé... Que moral se dá para isso? A sociedade não dá
moral mesmo...” [...]. Essas foram as palavras ditas por Eunice de Souza, ao contestar os
argumentos do bispo da cidade de Campinas, na ocasião de negociação da realização da primeira
lavagem das escadarias da Catedral Metropolitana da Cidade, em meados dos anos 1980. No trecho
citado, Eunice de Souza, uma mulher negra que trabalhava como “conserva
1
revela plena
consciência dos marcadores sociais que a inferioriza
2
. Junto ao argumento também reverbera sua
consciência a respeito da intolerância com os praticantes de religiões de matriz africana, como
Candomblé e Umbanda [...]. [Uma intolerância que se exterioriza em] “violência física, violência
verbal, violência psicológica e destruição dos terreiros etc.”. Apesar disso, o candomblé no Brasil,
ao longo de sua história, se revelou como terreno fértil para que mulheres possam exercer um
matriarcado de grande relevância, abraçando seus filhos e parentes como mães-de-santo,
proporcionando, assim, resistência, fé religiosa, visibilidade e reconhecimento ao legado afro-
brasileiro.
Assim, partiu-se para a execução de um projeto para a realização de um documentário sobre
aquela Eunice Souza, que passou ser nomeada e reconhecida como Mãe Dango, a memeto
Dangoromeia na língua banto, sacerdotisa que rege o “Nzo Musambu Hongolo Menha” templo
1
Conserva é também o nome dado a varredores ou limpadores de rua. A expressão dessa forma foi encontrada num
depoimento de Mãe Dango na Dissertação de Mestrado Candomblé agora é Angola, de Ivete Miranda Previtalli,
Mestrado em Ciências Socias, PUC-SP, 2006.
2
Conforme dados do IPEA. “No caso das desigualdades de gênero, as mulheres encontram-se mais concentradas,
proporcionalmente, em trabalhos informais e precários do que os homens. Das mulheres ocupadas com 16 anos ou
mais, 17% são empregadas domésticas, e, dentre estas, a grande maioria são mulheres negras que, em geral, não
desfrutam de qualquer direito trabalhista, pois não trabalham com carteira assinada e não recolhem FGTS. São também
as mulheres pretas ou pardas as mais penalizadas, destacando-se a elevada concentração destas no emprego doméstico
(22,4%) e trabalhadores sem remuneração (10,2%)”.
http://www.ipea.gov.br/igualdaderacial/images/stories/pdf/primeiraedicao.pdf.
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religioso conhecido também como a “Casa do Arco-íris -”, em deferência ao Nkici Hongolo
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, santo
de Mãe Dango, divindade banta que corresponderia a Oxumaré na cosmogonia nagô. mais de
três décadas, ela é defensora e refencia do chamado candomblé Angola, em Hortolândia, na
Região Metropolitana de Campinas. Essa prática religiosa de matriz banto, originalmente os
primeiros africanos a chegarem no Brasil, se distingue do candomblé Keto, de origem Yorubá, hoje
dominante no Brasil entre os praticantes candomblecistas. Mesmo nesse cenário, a prática do
candomblé Angola se disseminou em Campinas e região e ocupa lugar de destaque no horizonte
religioso e de resistência da cultura africana. Mãe Dango é, assim, uma das vozes mais importantes
dessa vertente e também uma reconhecida liderança comunitária, política e sua figura, nos eventos
que organiza e participa, agrega outras manifestações locais da cultura afro-brasileira.
Buscou-se, assim, construir uma narrativa audiovisual que, primeiramente, pudesse
oferecer visibilidade sobre esse tipo específico de candomblé, sobrevivente da diáspora, inscrito na
região de Campinas, que possui força religiosa, estética, cultural e política e é ainda pouco
(re)conhecido. Para isso, a recuperação dessa memória e, principalmente, o encontro entre a câmera
e Mãe Dango foi fundamental para o estabelecimento de uma partilha, via imagem, de
conhecimentos e formas de resistência da população negra de Campinas e seu entorno.
Consequentemente, imaginou-se a constituição de um ponto de vista que relacionasse essa cidade,
tradicionalmente vinculada à imigração europeia, aos negros que inscreveram e continuam a
realizar práticas culturais fundamentais para sua formação cultural.
Nos vários ciclos econômicos de Campinas (cana-de-açúcar, café, industrialização etc.), a
o de obra migrante determinou a formação da classe trabalhadora. Nesse conjunto,
primeiramente os escravos de origem africana e seguidas levas de deslocamentos internos e de
estrangeiros foram necessários para constrrem as riquezas da cidade. O interesse desse
documentário residiu em destacar aspectos particulares da cultura afro-brasileira desenvolvidos
nesse entorno urbano. Essa presença edificou um traçado cultural com manifestações culturais
originais e diversificadas como o samba de bumbo, vertente do samba rural paulista, o jongo, a
capoeira, as folias de reis etc. Em diálogo com a cultura popular, religiões de matriz africana
3
Nkices ou inquices são divindades africanas, trazidas e cultuadas pelos bantos que aqui chegaram no século XVI
do período colonial. Outras divindades trazidas por africanos e cultuadas em terreiros são os orixás e os voduns.
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também se desenvolveram nas periferias da cidade. O percurso de Mãe Dango elucida, e muito,
sobre essa faceta da metpole.
Portanto, almejou-se a realização de um documentário que teve como centro a história de
vida de Mãe Dango, destacando-se suas atividades como influente Mãe de Santo. Tratando-se de
uma mulher, negra, de origem humilde e que construiu uma família religiosa numerosa e respeitada
e fez de sua “casalugar de acolhimento espiritual e uma série de atividades de cunho social, o
documentário olhou sua figura assumindo-a como uma feminista, portanto, sua influência vai além
da religião e se insere em outros setores tais como a luta pelos direitos das mulheres, o apoio às
comunidades carentes em várias frentes, principalmente na distribuição de alimentos, a defesa pela
melhoria do bairro, a educação de adultos etc. Ao lado de Mãe Corajacy
4
, também Mãe de Santo
ligada ao candomblé Angola, Mãe Dango realiza anualmente, desde 1985, no Sábado de Aleluia,
a Lavagem da Escadaria da Catedral de Campinas. Evento inserido no calendário oficial da cidade,
desde 1998, e exemplo de conjugação de celebração religiosa, manifestação cultural e resistência
política pela luta contra a intolerância religiosa e o racismo, onde milhares de pessoas se aglomeram
para acompanhar a celebração da cultura banto no centro de Campinas. É, portanto, nos circuitos
dos afetos de sua casa e na expansão pública de suas demandas que acontecem anualmente na
Lavagem que o filme se norteou. Mãe Dango possui, assim, uma história pessoal e blica de muita
potencialidade para que reverbere junto aos afro-brasileiros na elevação de sua autoestima e que
essa narrativa possa tamm oferecer um ponto de vista multicultural sobre a cidade: olhá-la a
partir de uma mulher negra e bia, portadora e difusora do conhecimento do legado banto e que
se tornou símbolo da luta contra o racismo, a intolerância religiosa e o fim da pobreza.
ESTRATÉGIA DE ABORDAGEM
Primeira estratégia
4
O nome de batismo de Mãe Corajacy é Antonia Lima Duarte, que nasceu na cidade de Boa Nova, na Bahia, em 15
de maio de 1943. Chegou a Campinas em 1968, se casou e teve três filhos (Íris, Ivone e Ivan). Figura em diversos
segmentos na cidade: participou da Corrida Integração, em 2002; é integrante do Programa do Micro Empreendedor
da Prefeitura; foi membro do Grupo de Trabalho de Combate à Intolerância Religiosa da Assembleia Legislativa de
São Paulo (Alesp) e é sacerdotisa da Comunidade Tradicional de Matriz Africana”. In: http://www.geledes.org.br/mae-
corajacy-e-1-mulher-de-religiao-de-origem-africana-a-receber-titulo-de-cidada-campineira/. Acessado em 12 de
agosto de 2016.
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Tendo como foco central a trajetória dessa Mãe de Santo, o documentário se norteou,
particularmente, por sua presença, e das pessoas que estão ligadas a ela, na imagem. Como será
detalhado na estrutura do filme, buscamos fugir do esquema “cabeça falante” e da visão de
especialistas acadêmicos sobre o assunto, assim, a voz do(s) sujeito(s), juntamente com a câmera,
foram os narradores do filme.
As entrevistas com Mãe Dango se deram de três formas: a) com ela realizando atividades
tais como a preparação da feijoada e nas atividades de costura, com a utilização de apenas uma
câmera (câmera na mão para a feijoada e fixa para a costura) e equipamento de som (boom), além
da direção; b) com ela em movimento, apresentando sua casa, detalhando as várias funções dos
espaços, a simbologia dos objetos, com a utilização e apenas uma câmera (câmera na mão, inquieta,
observadora , planos abertos e fechados o necessariamente sincrônicos à fala), equipamento de
som (boom) e a direção essa opção pela minimização da equipe almeja criar maior proximidade
com a entrevistada; c) entrevista com Mãe Dango acomodada em seu trono de sacerdotisa, com a
câmera fixa e uso de lapela.
Paralelo a esse investimento em falas desses sujeitos, existiu o trabalho de observação das
pessoas e dos espaços, nos eventos festivos e religiosos e na elaboração de imagens de cobertura.
Assim, os enquadramentos frontais com entrevistas diretamente para a câmera, planos gerais, de
conjunto e de detalhe que inspecionem os espaços internos e externos do terreiro, bem como
tomadas do bairro e das cidades de Hortolândia e de Campinas foram feitos e, muitos deles,
utilizados estrategicamente na construção do relato. Assim como a câmera na o, em movimento,
detalhando objetos, indumentária, gestos e outras minucias que puderam tensionar a imagem foram
também mobilizados.
Em síntese, a primeira estratégia consistiu em deixar a câmera e o gravador se levarem pelas
coreografias dos corpos no espaço e pela polifonia singular de cada situação e também criar
registros mais objetivos com entrevistas voltadas para a câmera. Assim, corpos, gestos, falas, ruídos
e uma diversidade de materiais expressivos estavam na nossa mira, justamente para criar espessura
na imagem em sintonia com a construção de paisagens visuais e sonoras.
Com essa estratégia, almejou-se criar um campo afetivo nas imagens e sons. Nesse sentido,
o primeiro campo afetivo que enformou as imagens foi aquele que se desdobrou do encontro entre
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a equipe e a comunidade de Mãe Dango. Objetivamos, com isso, construir uma relação e isso, num
segundo momento, pode reverberar na captura dos afetos que emanam das relações comunitárias
na casa.
Selecionamos, assim, alguns momentos-chave, que puderam deflagrar tais intensidades, por
se configurarem em situações em que a casa está cheia de seus filhos. São momentos de festa e de
celebrações religiosas. O cotidiano, as rotinas da casa e os silêncios e vazios também foram
considerados. Isso permitiu observar e capturar variações afetivas e fazer com que a imagem
oferecesse um campo mais prismático das relações estabelecidas em torno de Mãe Dango.
Segunda estratégia
Dos eventos diretamente ligados à Casa do Arco Íris, avançou-se para uma série de
filmagens de sons e imagens da Lavagem das Escadarias da Catedral Metropolitana de Campinas.
Aqui foram filmados, com uma câmera na mão (durante o cortejo e a lavagem) e tri(roda que
forma o círculo sagrado) e gravação de ambiência sonora, outros ritos, danças e confraternizações,
bem como, alguns aspectos do seu campo de influência. A Lavagem da Catedral é um evento anual
que reúne milhares de pessoas, pressupõe-se um conhecimento prévio de suas dinâmicas, algo que
a equipe vem desenvolvendo como pesquisa há alguns anos.
Terceira estratégia
A terceira estratégia foi composta pela coleta de imagens e sons de arquivos pessoais de
Mãe Dango. Contatos prévios com jornalistas foram feitos e iniciamos uma pesquisa para reunir
gravações de voz de Mãe Dango em distintos momentos, isso poderia oferecer variações de ponto
de vista e um registro histórico de sua presença na cidade, além do material ter um funcionamento
no trabalho com texturas de voz e criação de efeitos de sentido. Fotografias de álbuns de Mãe
Dango foram disponibilizados para a equipe, objetivando-se que fossem trabalhados na edição
final.
Assim, os arquivos de imagem (sobretudo fotografias) e som, teriam função dupla:
fortalecer a importância histórica de Mãe Dango na formação cultural da cidade de Campinas e na
região, atestando-se sua ativa militância e resistência que avaa décadas e colaborar na criação
das relações afetivas com a expressão visual e sonora, onde o registro do tempo histórico seria
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também uma porta aberta para o estabelecimento de uma vivência com a imagem. Os arquivos
seriam utilizados com dupla finalidade: a) efeitos ilustrativos para falas e, principalmente, b) para
a criação dos efeitos visuais, uma vez que há interesse em desenvolver uma narrativa mais poética.
Apesar dessa pesquisa e de sua potencialidade, não se utilizou-se de tais recursos no resultado final
do filme.
ESTRUTURA
As estratégias de abordagem estavam em consonância com a afirmação de uma estrutura
assentada no conceito de mosaico. Assim, foi pela junção de peças aparentemente soltas e dispersas
que se deu a construção do perfil de Mãe Dango.
Em sua biografia, Mãe Dango pertenceu ao cristianismo, frequentou a Igreja Adventista do
Sétimo Dia, foi para a Umbanda onde conheceu a Cabocla Jurema, até hoje cultuada em sua roça
e, finalmente, encontrou o candomblé Angola, tornando-se uma das referências desse culto.
Até o seu estabelecimento no culto dos Nkices, Mãe Dango teve muitos transtornos por o
desenvolver plenamente sua espiritualidade e, com isso, sua mediunidade era considerada loucura,
e as consequências dessa compreensão foram anos de submissão a tratamentos psiqutricos a base
de choques elétricos e outras violências ao seu corpo e a sua saúde em virtude de uma grande
interdição a algo que era imanente à sua integridade como sujeito: seu pai, de origem banto, já
havia informado sobre seu destino, no entanto, com sua morte, a jovem predestinada viu-se atacada
pela incompreensão dos outros.
Essa versão de sua própria biografia é narrada publicamente por Mãe Dango e ofereceu
insumo para investimentos mais poéticos na estruturação de sua trajetória pelo cinema.
A opção por uma estrutura mosaicada foi, assim, justificada, sobretudo pela necessidade
que encontramos de realçar “as curvas” de sua vida. Longe de uma teleologia, embate,
enfrentamento, sofrimento, coragem, conhecimento, força de vontade, fé e conhecimento reunidos
para construir uma hisria que reverbera, principalmente junto às mulheres negras de várias
idades, com os piores salários, o tratamento mais desigual, a violência doméstica e as
consequências da baixa autoestima.
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Mãe Dango é uma sacerdotisa que rege seu templo e cuida de seus filhos, é também
costureira de vestimentas de candomblé, uma das principais fontes de seu sustento. Em seu
barracão (ou terreiro, ou igreja, várias denominações utilizadas pela comunidade) desenvolvem-
se, assim, as atividades sagradas, festas e reuniões sociais que se destinam a arrecadar fundos para
a manutenção e conservação da casa e ali também se dão os trabalhos pessoais e profissionais de
Mãe Dango, onde ela faz consultas por meio do jogo de búzios e costura as roupas cerimoniais de
seus filhos.
A partir dessa descrição, resolvemos fazer o seguinte recorte, para
descrever/exibir/apresentar um perfil de Mãe Dango e de sua comunidade:
1. Filmar a Casa do Arco-íris: sua estrutura interna, as imagens e os significados de
um espaço sagrado dedicado ao candomblé Angola; Mãe Dango nos guiou por seus modos,
corredores e imagens e enquanto a câmera realizou o passeio visual, o gravador capturou sua fala
sobre como se deu essa construção, os seus significados e suas histórias;
2. Acompanhar a preparação da feijoada, um dos principais eventos festivos da casa.
Com isso, além de observar todo o preparo e, principalmente, ter imagens de Mãe Dango
temperando e finalizando a feijoada, tivemos também imagens e sons da participação da
comunidade do terreiro nesse evento;
3. Filmar o evento da feijoada, em estilo direto, deixando-se levar pelas dinâmicas do
evento: as conversas, os encontros, o samba que atravessa a tarde, a confraternização, a alegria.
4. Filmar uma entrevista com Mãe Dango costurando. Fizemos um registro de suas
habilidades como costureira, capturando, pela imagem e pelo som, especificidades da costura de
uma roupa sagrada. A voz de Mãe Dango, oferecendo explicações sobre esse e outros processos
fizeram o contraponto.
5. Filmar uma cerimônia sagrada, também conhecida como festa de santo.
6. Filmar o Cerimonial festivo e religioso da Lavagem da Escadaria da Catedral. Desde
a preparação de seus filhos de santo, que saem em caravana, a descida pela rua Treze de Maio, a
lavagem das escadarias com água de rosas, as apresentações dos grupos afro-campineiros.
Portanto, partimos de um recorte que assume o aqui e agora como parâmetros dominantes
de imagens e sons, a essa expressão visual e sonora se agrega material de arquivo e reiteramos, o
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conjunto de vozes” agregadas à construção do relato habitam territórios diferentes. A partir desse
material bruto, almejamos lapidar o conteúdo verbal e a trilha sonora, bem como a pletora de
imagens de lugares, pessoas, objetos, gestos, coreografias, entre outros itens. E, com isso, restituir,
por meio de um olhar pessoal, assumidamente poroso, o resultado da vivência com uma história
tão profunda. O resultado esperado era/foi a construção de um filme poético e potico que
reverberasse o circuito de afetos que esses encontros geraram.
Imagem da Lavagem da Escadaria, Campinas, 2016.
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PROPOSTA DE DIREÇÃO E/OU CONCEPÇÃO AUDIOVISUAL
Osùmàrè ou Oxumaré é o orixá de todos os movimentos, de todos os ciclos, da chuva e
do arco-íris. Ele representa a mobilidade e a atividade e uma de suas funções é dirigir as
forças que geram o movimento. Oxumaré, símbolo da continuidade e da permanência, é o
senhor de tudo que é alongado e também representa a riqueza e a fortuna. Algumas vezes
é representado por uma serpente que morde a própria cauda (infinito). Rege o princípio da
multiplicidade da vida, transcurso de muitos e variados destinos. De variadas funções, diz-
se que serve a Xangô e que seria encarregado de levar as águas da chuva de volta para as
nuvens através do arco-íris. Oxumaré, o segundo filho de Nanã, irmão de Ossaim, Ewá e
Omolu, que são vinculados ao mistério da morte e do renascimento, é originário de Mahi,
no antigo Daomé, onde é conhecido como Dan. Na região de Ilé-Ifè é chamado de Ajé
Sàlugá, aquele que proporciona a riqueza aos homens.
(Raquel Trindade, Jefferson Galdino e Sandra Regina Félix)
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Tomamos como ponto de partida e como referência para a concepção visual do
documentário a figura do Nkici Hongolo, também conhecido como o Orixá Oxumaré e as imagens
diretamente relacionadas a ele - a serpente e o arcoris. É o santo de Mãe Dango, ele rege a Casa
do Arco-íris. O movimento da serpente parece sugestivo para a elaboração “mosaicada”, o linear
da construção da imagem de Mãe Dango. Por outro lado, temos essa imagem forte do arcoris que
permite um colorido intenso e vibrante, algo inerente ao universo que documentamos.
Trata-se de um documentário poético, portanto, a tradução subjetiva, livre, porosa em
imagens e sons sobre o universo de Mãe Dango. Foi essa a proposta de direção: assumir um olhar
livre que celebre essa figura.
A partir de um trabalho concentrado de visionamento e escuta do amplo material nasceu a
narrativa do filme, sendo já estabelecido uma estrutura previa de sequencias a serem filmadas e um
modo particular de olhar esse contingente. Para a organização desse material brido, direta e
indiretamente relacionado à trajeria de Mãe Dango, abrimos mão da tradicional voz over e
procedemos a um encadeamento das falas, dos cantos e das imagens, valorizando sua dimensão
plástica e sonora, o perdendo de vista a contundência do conteúdo que esse material poderá
trazer. Esses procedimentos visaram a construção de um ponto de vista sobre uma determinada
liderança religiosa e comunitária, sendo sua imagem associada ao feminismo negro, às
comunidades negras, à cultura negra, comumente marginalizada, de tal forma que essas vozes
sejam ouvidas, realçadas e valorizadas.
A questão sonora do filme foi conduzida pela forte referência dos atabaques que regem as
cerimonias da Casa do Arco-Íris. Como não se tratou de um documentário realista, mas poético,
foi destinado tratamento especial a essa referência. O trabalho artístico do Arubu Avua foi uma
referência forte, justamente pelo tratamento eletrônico que foi dado à sonoridade dos atabaques.
Arubu Avua:
Rumo Diurno: https://youtu.be/kz_SQTAkONc
Naonde: https://youtu.be/0v69UCtgfoc
Protocosmos: https://youtu.be/SIVYCYdwdYs
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A montagem do filme baseou-se numa concepção aberta de narrativa, portanto fez-se jus
uma montagem intelectual. Os fragmentos foram restituídos na mente do espectador que
acompanha as performances que demonstram a força de Mãe Dango e de sua comunidade. Assim,
imagens de Hortolândia e de Campinas situam a geografia física; imagens da Casa do Arcoris,
seus móveis e objetos, sua movimentação humana, seus vazios e silêncios oferecem um olhar
prismático sobre o espaço sagrado; Mãe Dango e sua voz off e diegética nos brinda com seu olhar
sobre sua própria trajetória, a maneira como compreende e desenvolve o candomblé de Angola, as
relações com seus filhos de santo e sua comunidade; as festas civis e religiosas oferecem também
transporte para as várias maneiras de atualização do conhecimento afro-brasileiro, vivo e presente.
Finalmente, propomos um especial trabalho na pós-produção, com a composão/criação
de efeitos especiais em sintonia com o trabalho experimental na trilha sonora. O desafio é transpor
para as imagens o universo do sagrado, de uma religiosidade fundada na oralidade, nos cultos e
transes. Para isso, a princípio, a referência mais próxima seria do documentário Xapiri
5
(2012),
dirigido por Laymert dos Santos, Leandro Lima, Gisela Motta
Imagem do documentário Xapiri (2012).
5
Xapiri é um filme experimental, inspirado no xamanismo yanomami. Suas imagens foram registradas por ocasião de
dois encontros de xamãs na aldeia de Watoriki, Amazonas, em março de 2011 e abril de 2012. Entretanto, o trabalho
realizado sobre estas imagens escapa do registro documentário a fim de produzir uma simulação tecnológica livre a
partir do universo visual e conceitual do xamanismo yanomami. Xapiri não pretende descrever e muito menos explicar
o trabalho dos xamãs Yanomami. Deve ser considerado como uma tentativa de tornar sensíveis, através de nossas
imagens digitais, certas ideias yanomami sobre as imagens xamânicas (utupë), sua ontologia e sua estética, sua
transdução e mutabilidade nos corpos. Trata-se, antes de tudo, de uma homenagem visual à riqueza intelectual e poética
do xamanismo yanomami. Trailer: https://vimeo.com/79411469.
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DOI: 10.20888/ridpher.v7i00.15922
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RELATÓRIO DE PESQUISA
Os familiares de Nengua Dia Nkisi Dango Hongolo Menha (Mãe Dango de
Hongolo - Eunice de Souza) que chegaram num dos últimos navios negreiros a aportar na Bahia,
eram bantos. De seus ascendentes, seu pai, Antonio de Souza, sobrenome português adotado
posteriormente, deixou um forte legado para ela, era um profundo conhecedor das ervas, um
benzedor num contexto em que o candomblé sofria muitas perseguições. Por meio de sua Madrinha
Maria Santos de Lima, iniciou-se na umbanda e em 1978, Eunice Souza dirige a Tenda de Umbanda
Cabocla Jurema de Tawamin, estabelecida em Hortolândia, depois de ter vivido em Belo
Horizonte e Campinas. Em 1984, Mãe Eunice iniciou-se no candomblé, tornando-se, então, Mãe
Dango de Hongolo, filha de Mam'etu Munukaia de Kafundeji, de Mongaguá - SP, cujas raízes são
do candomblé de Nação Angola de Joãozinho da Goméia
6
.
Mãe Dango tornou-se não apenas uma der espiritual, mas também comunitária, inquieta
em relação às questões sociais que a cerca, teve e tem profunda ligação com seu bairro e com a
cidade de Hortolândia, o que a projetou para a região metropolitana de Campinas como uma figura
de destaque. Desde 1985, ao lado de Mãe Corajacy, organiza a Lavagem das Escadarias da Catedral
de Campinas, algo visto no Brasil, na mesma dimensão, somente em Salvador, com a Lavagem do
Bomfim. É o grande momento de consagração, resistência e visibilidade da cultura banto na cidade
de Campinas.
escassas refencias audiovisuais sobre o candomblé banto no cinema e na televisão
brasileiros. Assim como acontece no âmbito do imaginário religioso, também o audiovisual
reproduz com mais frequência os referenciais da cultura jeje-nagô. Assim, no contexto do
documentário, filmes tais como Iaô (1973), de Geraldo Sarno, Egungun (1982), de Carlos
6
João Alves de Torres Filho ou Joãozinho da Goméia, também conhecido por Tata Londirá, era sacerdote do
Candombde caboclo (Angola), nasceu em 27 de Março de 1914, na Bahia e morreu em 19 de Março de 1971 em
São Paulo. Joãozinho da Goméia chamava a atenção de pesquisadores famosos da época, como o baiano Edison
Carneiro e a americana Ruth Landes, ganhando prestígio rapidamente e despertando polêmicas. Era um homem jovem,
numa cultura religiosa dominada por velhas senhoras. Aos 21 anos, ele tinha seu próprio terreiro e havia formado
várias filhas-de-santo, a maioria bem mais velha do que ele. Joãozinho da Goméia foi o grande responsável pela
expansão do candomblé no Sudeste do país, a partir da década de 1950. Ele formou milhares de filhos-de-santo, que
criaram novos terreiros em São Paulo e no Rio de Janeiro. Essas casas de candombapresentam-se orgulhosamente,
ainda hoje, como fazendo parte do "modelo Goméia", ou da "raiz Goméia".
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Brajsblat, A cidade das mulheres (2007), de Lázaro Faria, Meu tempo é agora - Ilé Asé Opo Afonjá
(2010), de Ana Ribeiro, Atlântico Negro - Na rota dos orixás (1998), de Renato Barbieri, Pierre
Verger, Mensageiro entre dois Mundos (1998), de Lula Buarque de Holanda, entre outros, sob
abordagens variadas, voltam-se para a cultura iorubana, com foco central na Bahia. Filmes como
A Dança das Cabaças (2008), de Kiko Dinucci, e Atabaque Nzinga (2007), de Otávio Bezerra,
ainda se voltam para o referencial nagô, no entanto, aqui já temos apontamentos referentes aos
bantos.
Outro dado relevante é sobre a lacuna referente à relação entre a produção de documentários
sobre temas afro-religiosos localizados no interior de São Paulo. Assim, a proposta de A Mulher
da Casa do Arco-íris, de alguma forma, buscou preencher essas lacunas apontadas.
Bibliografia para realização das pesquisas de referência
DANIELI NETO, Mário. A escravidão urbana em Campinas: a dinâmica histórica e
econômica do trabalho escravo no município em crescimento (1850-1888). Campinas:
Dissertação de Mestrado, Instituto de Economia, Unicamp, 2001.
MOTTA, Cristiane Madeira. Kubana Njila Diá de Angola, Travessias do ator-sacrário por
entre as divindades de Angola. São Paulo: Dissertação de Mestrado, Escola de Comunicação e
Artes de São Paulo, USP, 2013.
PREVITALLI, Ivete Miranda. Candomblé: agora é Angola. São Paulo: Annablume, 2008.
SANTOS, Antonio da Costa. Campinas, das origens ao futuro (1732-1992). Campinas: Editora
da Unicamp, 2002.
MARETTI, Marialba Escadaria Florida. 22° Lavagem da escadaria da Catedral Metropolitana de
Campinas. In: Revista de Antropología Experimental, nº 7, 2007. Universidad de Jaén
(España) Pontificia Universidade Catolica de Campinas.
CENTRO DE MEMÓRIA UNICAMP (CMU). Cidade Universitária Zeferino Vaz, Barão
Geraldo, Campinas, São Paulo. Com 150 conjuntos documentais (mais de 1.300 metros lineares
de documentos, 80 mil processos, 3 mil livros manuscritos, 80 mil fotografias, 2 mil rolos de
microfilmes e cerca de 100 mil documentos avulsos de natureza variada, 850 horas de áudio
digitalizadas) com o mais vasto acervo sobre a memória de Campinas e região.
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Imagem do documentário em comemoração aos 30 anos da Lavagem (2015) Produzido e
realizado pelo MIS/Campinas - https://youtu.be/-TezDFMa3bY.
ROTEIRO MONTAGEM A MULHER DA CASA DO ARCO-ÍRIS
1. BANTO (letreiro tela fundo negro)
Descrição: na primeira parte do documentário, intitulada BANTO, segue um relato em voz over de
Mãe Dango, a partir da entrevista realizada no dia 24/03/2017. Além da voz over devem constar
uma trilha sonora, para dar ritmo e emoção ao relato. Poderá integrar o trabalho de trilha a ladainha
que início à lavagem e também às celebrações na Casa do Arco-Íris: “Kubanangila de Angola
ae ae ae / Kubanangila de Angola Kongo le / Kongo ae”. Nessa sequencia, a ideia é desenvolver
um relato memorial, etéreo, que remeta a esses campos do imaginário e da imaginação, porém
atualizados em figuras reais, do universo de Mãe Dango, mas sem um tratamento realista e
contextualizador. O som da fala remete à figura do pai e por extensão à forte herança Banto e que
resulta, sobretudo, nos trabalhos da A Casa do Arco-Íris, onde Mãe Dango é a principal sacerdotisa.
As imagens, assim, colhem fragmentos de mundo que podem ser referência à cultura Banto,
organizadas de forma dispersiva, sem continuidade, com grande carga de sentido e de poesia.
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IMAGEM
14.07.2016 MVI 1085
14.01.2017 (Festa somente com a Dango,
câmera somente Coraci)
14.07.2016 MVI 1086
16.07 Camera Coraci
SOM
eu sou de uma família de nove irmãos.
Oito de sangue e uma parente mais prima
que minha mãe e papai criou. Sou de Belo
Horizonte, nasci lá né. E estou aqui muitos
anos já vim de lá casada.
E papai era banto, né. Era de família banto,
uma pessoa que prezava muito as raízes.
Ele era benzedor na época, construtor, era
armador, fazia prédios
era um grande homem
Todos nós fomos com parteira e com
papai. Quem ajudava a cortar o umbigo
era meu pai. E ai como ele era rezador,
podia estar chovendo. A gente acabava de
nascer ele cortava umbigo ele levava a
gente no tempo, como fazia os ancestrais
dele. E como naquela época não podia
falar que era pai de santo, então, falava
rezador. E papai chegava em casa, falava
Maria, que minha mãe se chamava Maria.
Maria e água no feijão, porque essa
semana eu vou atender tantas pessoas. Ele
chegava ele tinha uma cumbuquinha de
cuinha, tinha duas cuias, uma ele
preparava os “cuento” dele, as raízes dele,
inclusive me levava para o mato, eu
tinha cinco anos. Quando ele chegava ele
ia para o mato para buscar as ervas. E ele
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14.01.2017 (Festa somente com a Dango,
câmera somente Coraci)
14.01.2017 (Festa somente com a Dango,
câmera somente Coraci)
Entrevista Mãe Dango 24 de março 2017
Acho que é sua camera Coraci.
14.01.2017 (Festa somente com a Dango,
câmera somente Coraci)
contava as histórias, do quinto avô, do
povo banto, como é que eles chegaram
aqui.
Eu não sei nem como falar, se é quinte
avó, que foi jogada fora do navio, porque
tava com febre. Porque foi passado de pai
para filho, de avô para neto, a história da
nossa família.
Meu pai era congadeiro. Antonio de Sousa
era, congadeiro. Passava o pombo do
divino espírito santo, minha mãe fazia
broa, para esperar o Congado, eu era
pequenininha dançava o congado.
(Procurar na entrevista não está na
sequência)
E quando ele faleceu, sete dias antes
dele falecer, naquela época se deixa filho
ir despedir do pai
A gente joelhou na beira da cama dele, e
ele ainda ofegante né.
Ele pediu para a gente olhar para ele,
aquela renquinha de criança.
E ele disse, Vou ser acolhido num tem
jeito. Ele era muito espiritualizado ele não
tinha medo da morte.
Eu só tinha oito anos e já estava
trabalhando fora.
Trabalhava com uma senhora. Trabalhava
, ela tinha um depósito de coco e
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Lavagem 15/04
Lavagem
rapadura embaixo e a casa dela era um
sobrado. E eu tinha trabalhado em
outros lugares, estava no mundo. Mas
na casa dela eu fui morar com ela, e
mamãe a gente fazia frango ao molho
pardo,
E ela falou para mim, ah eu quero comer
galinha ao molho pardo, você faz. Eu
disse, mas eu nunca matei uma galinha.
ela disse, mas então vo vai matar. E
levou a galinha e eu pus o... eu
lembrava que a mamãe juntava os
pezinhos das galinhas e as asas e botava o
em um, o na outra asa. Isso eu
lembrava. Eu coloquei, passei o corte da
faca na galinha e soltei. A galinha saiu
respingando sangue para casa inteira
balançando o pescoço. eu fiquei
gritando lá de baixo ela ouviu. Subiu. Em
vez de me acudir, foi o primeiro tapa na
cara que eu ganhei de uma pessoa de fora,
papai num tinha morrido ainda. Estava
ainda no hospital.
papai morreu. E ali começou de novo um
novo ciclo na minha vida.
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câmera somente Coraci)
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câmera somente Coraci)
14.01.2017 (Festa somente com a Dango,
câmera somente Coraci)
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14.01.2017 (Festa somente com a Dango,
câmera somente Coraci)
Acredito que seja camera da Coraci, mas há
tambem uma imagem como essa do Felipe
Lavagem, Coraci
Entrevista
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2. DEIXA ENTRAR
Descrição: Nessa parte, ouvimos Mãe Dango relatar sobre acontecimentos de violência que
atingiram seu corpo e seu espírito, como as seguidas internações em sanatórios, decorrentes de sua
mediunidade não desenvolvida, entendidas como loucura. Nessa parte também, entra de forma
muito econômica a violência doméstica, sofrida pelo marido, pai de seus filhos. O desfecho dessas
narrativas é muito importante para o desenvolvimento do filme, na medida em que aqui se a
passagem definitiva para a umbanda e depois para o candomblé. A música ameaçadora, com fios
metais, algo que o Victor já experimentado funciona, vai diminuindo a tensão à medida que vamos
nos aproximando do final, da Cabocla Jurema.
IMAGEM
SOM
eu tinha vidência, com cinco anos eu
tinha vidência, eu tinha essa
sensitividade aberta. e (papai) ele
dizia para mamãe, a Eunice vai ficar
no meu lugar. Ele já tinha me
predestinado.
Mamãe, logo que papai morreu ela
virou evanlica da igreja adventista.
Ela levava a gente acabou tudo que o
papai tinha da espiritualidade, é um
direito dela. Eu acho que foi até mais
a fome que levou ela ser evanlica.
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Essas sequencias são imagens de traveling
lateral da cidade, de visão de um bairro
perifério, imagem de deslocamento, acho que
funciona bem para sinalizar essa
passagem/mudança para Campinas
Essa é uma tomada que pega a Skyline de
Campinas
E passou tempo né. Eu tive todo esse
período de tratamento psicológico
terminei aqui, depois tive agressão
doméstica que é uma coisa que é
complicado de falar. Porque eu casei a
mando.
Tive dois filhos lá em Belo Horizonte.
A Laurinha, que é a doutora Lauriana,
que chama Causele também. O Tata
Casumbê, . Que é meu filho, arte
educador. E separei do meu marido.
Na verdade determinada pelo meu
irmão mais velho. Por que eu era
danada eu namorava escondido. Por
que ele não queria e eu namorava
escondido. Ai um dia eu tomei uma
surra dele. Do meu irmão mais velho.
Mas eu continuei namorando ele
escondido. Ai quando o dia do meu
casamento. Todo mundo me jogou
arroz, que é tradição né. Ai ele me
jogou terra. Daí Bombe, falou, como
assim Washington, como você joga
terra. Ela tá indo para o cemitério,
então, num vou jogar arroz, nela.
ele falou, eu ti bati, te dei uma
surra, me arrependo. Te dei uma surra,
joguei poeira em você, impedi, mas
você casou, e hoje, eu não vou viver
para ver ele te matar. Ai eu no outro
dia, eu vendi tudo que eu tinha... tic
tic tic assim, catei meu filhinho botei
na caixa de sapato, porque ele era
muito pequenininho, catei minha filha
vim embora. E passa-se, dobra-se a
página. Eu começo uma nova história
aqui.
E aí eu ia pra igreja, chegava na
igreja, eu entrava em transe lá. Só que
era um transe violento, era um transe
sem controle. Entendeu. Aí, eu
tomava gardenal, degadron, imagina
gardenal de 850mg, naquela época. E
foi a época do choque. Entendeu. Eu
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- Para essa sequencia, vamos usar (se
conseguirmos a autorização) imagens do
predio do sanatorio hoje restaurado e
tombado. Penso também em imagens de
janelas e corredores.
Sanatório Santa Isabel
cheguei aqui. O último lugar que eu
me internei foi no Santa Isabel, que
hoje num tem mais graças a deus.-
PROCURAR FOTOS NO CENTRO
DE MEMÓRIA SANATÓRIO
SANTA ISABEL - E era choque.
Entendeu. Você imagina lá em Belo
Horizonte o que eu sofri. Então eles
me botavam camisa de força e me
mandava para o hospital. Entendeu,
Todo o culto, a maioria do culto,
porque a igreja adventista é no sábado,
. A maioria do sábado de culto, a
maioria do sábado na segunda feira eu
estava no hospital. Entendeu.
Babando, porque chegava lá eles
davam aquelas injeções cavalar na
gente, e eu ouvia tudo, via tudo,
entendeu.
Aqui eu engravidei, porque depois o
pastor..., porque eu vim evangélica de
. Eu me tornei espiritualizada aqui.
E o pastor em volta, volta ir
Eunice, volta... eu aceitei de novo meu
marido aqui e engravidei com a minha
terceira filha que é (inaudível).
Mas a mamãe fez o barraquinho e
quando eu vim com os meus dois
filhos eu fui para o barraquinho dela,
primeiro lá. Então, morei lá no São
Bernardo no barraquinho da mamãe.
a gente tinha tudo, papai ganhava
muito bem, né. Papai ganhava muito
bem. Então, a gente tinha tudo, tudo.
De repente a gente punha sal na boca
para aguentar a fome até mamãe
chegar. Então a gente teve três ciclos
. Muito nas nossas vidas. Uma vida
de uma família estruturada, né. Uma
história de uma família escravizada.
Depois uma história de uma família
descendente dessa família estruturada,
depois, uma família despedaçada e
uma família recuperada. E hoje essa
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Filmar imagem do Caboclo
Sequencia de imagens de Hortolandia até a
encruzilhada - Filmagem 14/07/2016
família espiritualizada porque eu
represento, minha família continua
evangélica, parte deles. Mas eu
represento essa etnia banto. Eu fiquei
para continuar, né. A nossa etnia.
FOTOGRAFIA DA FAMILIA
REUNIDA ENVIADA POR
WHATSAP -
depois eu larguei da mamãe, fiz meu
barraquinho na beirada do córrego, lá
no Jardim Santa Lucia. Sabe pau a
pique, eu fiz um barraquinho de tabua
e pau a pique e fui morar com meus
filhos e com o meu marido.
Até que um dia numa crise eu peguei
minha filha com dois meses e pouco e
joguei dentro do poço. E as minhas
vizinhas... ela só não morreu porque
as minhas vizinhas ficavam vigiando
eu 24 horas, quando eu estava em
crise. E elas conseguiram tirar a Deuá.
Moral da história eu fiquei com muito
medo. E no momento de raciocínio
tranquilo, eu falei, Jesus, todo mundo
ta falando que é o demônio que me
move. Outros falam que não é, quem é
que me move, que quer destruir eu e
minha família. Tudo bem, eu preciso
ter a resposta, aí eu fui... La no
Cambuí um, lá, ali naqueles
bairrozinhos que está lá no final,
tinha uma casa de aluguel lá. Eu subi
as escadas e encontrei boiadeiro sete
flecha incorporado naquela mulher,
Fiquei assim em pé que nem uma
estátua, na frente dele, e ele começou
a benzer minha cabeça. Como benze
os caboclos, os pretos-velhos, estalava
os dedos. De certa forma eu lembrei
do meu pai. Eu lembrei do papai, de
como ele passava a mão nas pessoas
como se tirasse o mal das pessoas,
sabe. Aí me passou isso pela cabeça.
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Eu relaxei um pouco. Daqui a pouco
ele disse assim, passou a dor.
Oh, para dizer para vocês o final dessa
conversa, eu desci de lá, a cabeça já
o estava doendo mais. Tava uma lua
de crescente para cheia. E ai ele disse
assim, para mim, se você acreditar em
Deus, primeiramente, que ele tem
tarefa com você, e você acreditar que
você tem dom, que nada disso que
você vê, que você sente para as
pessoas é ruim, deus te deu o dom
para você falar com as pessoas,
orientar as pessoas e cuidar das
pessoas, você não vai usar mais
remédio, você não tem necessidade
desses remédios, esses remédios esta
judiando de você. Acabando sua
memória. Eu parei na primeira
encruza olhei para cima, falei como
falei no dia, para nossa senhora
aparecida, mesmo sendo evangélica.
Eu falei oh Jesus, eu preciso criar
meus filhos, se é verdade que esse
dom que eu tenho, que eu vejo que eu
sinto, que eu sei como as pessoas
estão, e as pessoas falam que eu sou
louca, que isso Deus não permite
ainda, que os dons ele ainda vai ser
revelado, se isso não for verdade, e se
o senhor me trouxe, o senhor precisa
me mostrar, mas eu vou começar a dar
o primeiro passo. Joguei todo aquele
remédio para trás e fui embora. Até
hoje nunca mais tomei nada.
Um dia eu senti meu corpo tec tec,
balançando. Eu disse meu Deus que
que é isso que eu to sentido que num
para. Parecia que eu tava, falei, será
que eu to dando ataque epilético, era
minha Cabocla Jurema que estava
vindo em mim.
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MVI 1152 16/07/2016
1150, 16/07
Então, ela conta a história dela, que
ela era uma índia. Que numa saída da
aldeia dela. Ela ficou perdida na mata
E ai ela ficou sozinha numa mata e
passou a noite ela recebeu como visita
no lugar onde ela ficou, por que ai ela
o encontro mais ninguém, ela índia
como era, sabida com algumas formas
de sobrevincia, ela criou uma
espécie de oca para ela ficar e ela
recebeu a visita de uma onça. E ela
pensou que essa onça ia come-la. Mas,
de repente ela disse que olho com olho
na onça, a oa abaixou a cabeça e
o atacou ela. E ela, passou-se a
noite, a onça baixou. A história dela
continua falando que a onça foi
embora. E ela começou a procurar
jeito de sobreviver. Os ataques e ao
mesmo tempo comer. E ai passou a
pescar, passou a sobreviver. E ela fala
que a história dela todo dia essa onça
ia visitá-la. Chegava lá deitava. Até
que um dia ela pode tocar a mão na
onça, ela tocou na onça e a onça ficou
quieta. E a partir daí elas passaram a
ser amigas. A onça criou... é tanto que
eu não sei se eu posso cantar. Posso
cantar como ela fala. Ela canta assim
o: - eu sou filha de Iansã, a filha de
Oxossi, minha flecha é certeira. Minha
cura é verdadeira. Minha boca tem
palavras que ameniza sua dor.
Cabocla de flecha certeira. Cabocla de
altivez. Cabocla Jurema que sempre
me satisfez. Por oncinha foi criada. Na
verde mata fechada. Não pera ai que
eu esqueci. Cabocla de flecha certeira.
Cabocla de altivez. Cabocla Jurema
que sempre me satisfez. Cabocla
Jurema, Jurema do Juremar, da me
proteção mãezinha para nós não
vacilar. Cabocla Jurema, Jurema do
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Juremar, da me proteção mãezinha
para nós não vacilar.
veio esse ponto na minha cabeça, e
falou canta, e ai eu cantei. E era o
ponto dela. Entendeu.
E hoje ela está ai, ela que rege essa
casa. Tudo. Pai Angoro é pai, sou de
candomblé nação Angola, ngua
kibundo, aqui tem tradição, né. Inkise
é Inkise, mas encantado é encantado.
Ela, aqui, nessa aldeia aqui ela manda
e desmanda. Olha ali no altar. Linda.
Complementa:
Ai eles dizem: - mãe a mãe Jurema
falou que tá chegando o tempo da
senhora passar de uma aldeia para
outra. Ah de aldeia para outra, como
assim?
Ela disse que a senhora tem várias, é...
história para ser contada, uma era a
história de aprendizado com o pai da
senhora, a outra era o aprendizado
com o sofrimento, por não ter esse
entendimento, a outra é com ela, e
depois é com o seu santo. Porque ela
falou que a senhora é filha das cobras.
E ai a senhora tem que procurar
alguém que cuida da senhora, por que
a senhora e filha da cobra.
ROTEIRO montagem A CASA DO ARCO-ÍRIS
Descrição: é o momento apoteótico do documentário. A sequência se desenvolve sem falas, como
acontece nas celebrações de terreiro, onde prevalece o canto e a dança. São três saídas de Hongoro,
assim, a sequência também poderá criar uma coreografia própria, obedecendo a ordem das
imagens. A trilha deverá obedecer as músicas que estão ligadas ao Inquice, portanto, mesmo que
haja alguma intervenção, o se deve fugir da relação música/imagem diretamente. Importa aqui,
sobretudo, o ritmo, calculado pelos vários movimentos que se organizam em torno de Mãe Dango.
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As pessoas se curvando e se levantando, as pessoas observando têm uma força também, isso pode
ser bem explorado; bem como, as mãos, os braços e os pés dançando. Em relação ao sujeito
principal, será preciso criar de maneira mais ou menos regular/equilibrada três sequencias de
saídas, com suas vestimentas e coreografias próprias. uma sequência muito importante: Mãe
Dango dança com suas filhas e sua neta no centro.
As 11 primeiras imagens não se aplicam a essa sequência, separei porque fazem parte da
filmagem do dia 14/01, seu uso será destinado para a primeira sequência, onde focalizamos detalhes
da cultura banto no espaço. O recorte com os fogos pode ser utilizados na abertura da sequência da
Casa do Arco-Íris
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Fogos para a saída de Mãe Dango
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SEQUÊNCIA MUITO IMPORTANTE, MAE DANGO ESTÁ COM SUAS DUAS FILHAS
E SUA NETA
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ROTEIRO MONTAGEM SABERES E SABORES
4. SABERES E SABORES
Descrição: Ouvimos Mãe Dango retomar a narrativa sobre o povo banto, seu legado. Em seguida,
uma história sobre as relações entre a costura e a sobrevivência, sua relação com seus filhos e sua
visão sobre candomblé e o transe.
IMAGEM
SOM
SOM
Filmagem dia 02.07.2016
Começa em 26:43:21
eu toquei nove anos umbanda, era
Tenda Espirita Cabocla Jurema do
Oxossi..... (até) não é fácil ser do
candomblé 27:18:20
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como os bantos vieram primeiro, eles
tiveram que adaptar a roupa brasileira
Isso, porque pra fazer a primeira
agricultura familiar no quilombo, foi
levada no cabelo, os grãos, as sementes
de arroz no cabelo, porque elas
trançavam, abria o cabelo, botava as
sementes ali e trançavam. E ai nas saias,
levava sementes aqui, semente de feijão,
comida. Chegava lá, elas desalinhava,
como é que eles iam saber? Quase não
trocava de roupa, eles iam ficar
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preocupado? Era pesado, agora vo
imagina, porque era assim, passava
assim, tá vendo? Elas alinhavava e
enchia aqui de semente, alinhavava e
enchia aqui, como se fosse uns
canudinhos, então aquelas roupas sujas,
vc acha que eles iam enxergar alguma
coisa? E mais, levava até pedacinho de
carne, pra dar comida na senzala, quando
eu soube dessa verdadeira história, eu
me apaixonei pela tradição, então as
roupas são assim, num é qualquer pessoa
que sabe costurar, eu num fiz corte e tive
que aprender com as minhas mais
velhas, horas, é assim Dango, é assim
que faz, é assim que dobra, sim senhora,
ai eu dobrava, tava errado, desmancha,
porque eu tenho três filhos de carne, eu
sou muito vaidosa com o santo, eu gosto
de roupa nova, era muito caro pra fazer,
pra mim e pras minhas filhas todas, ai eu
fui pra máquina, eu vou aprender a
costurar, agora é minha neta que
aprendeu, também não foi pra lugar
nenhum, aprendeu comigo.
Todas as roupas já têm um nome e eu já
visto o corpo.... até 15: 39
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Ir para ilustração da festa do dia 16.07
(COMO A SENHORA DEFINE O
TRANSE?) 35:58:17
A energia de dentro pra fora, não de fora
pra dentro, ninguém recebe nada, você
entra em transe daqui pra fora. Porque
todos nós somos Deus gente, dentro de
nós, energia vibratória. O tambor chama,
você se permite, e o transe vem.
Ninguém recebe Ogun, gente. Ninguém
recebe Oxumaré, eu sou Angorô, Eu sou
chamada Eunice, um dia eu fui em
alguém, uma sacerdotisa que disse você
o é mais Eunice, não, nunca foi
Eunice, você Hangoro, alguém deu o
nome de Eunice quando você nasceu,
então essa historia de falar eu recebo
meu santo, é so uma forma que a gente
achou de falar. Mas eu entro em transe,
com a minha energia de dentro pra fora.
Gilberto E esses vários elementos são
auxiliares dessa autodescoberta, desse
processo todo? A roupa, a dança... o
fatores de energia?
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Que vem despertando e fazem o
conjunto.
38:18:06
os tambores chamam, chamam você.
você está vestido com você, a roupa,
a energia, os encantos, porque tudo isso
precisa chamar no tambor, sem tambor
o faz nada, os tambor precisa chamar,
os adijás precisa chamar, a fala precisa
chamar, o encanto, a força da palavra da
e de santo, entendeu, da mameto, da
negua, do babalorixá, da yalorixá, tem
que tá aqui, a força da palavra, senão é
um monte de comida jogada fora, ce ta
me entendendo? Uma roupa bonita,
um vazio...voce tem que saber que tudo
muito sério nisso. Mexer com o
universo.. nós temos o corpo, tem uma
energia dentro do corpo, reconhecer esse
universo espiritual, identifica-lo, e vesti-
lo, para que a pessoa possa caminhar na
vida é uma benção, mas é muita
responsabilidade, você está mexendo
com a energia das pessoas, é muito sério,
é muito profundo, eu não tenho respeito
só não, eu tenho medo... muito medo, eu
tenho respeito e medo, porque o dia que
acabar o meu medo, vai acabar minha
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responsabilidade, eu vou achar que eu
estou podendo.
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ROTEIRO MONTAGEM Lavar a cidade com água de cheiro
5. LAVAR A CIDADE COM ÁGUA DE CHEIRO
Descrição: Na última parte, apresenta-se o cortejo e a lavagem da escadaria de N.S. da Conceição.
O link com a parte anterior pode ser estabelecido com o personagem Jura do Pote.
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IMAGEM
SOM
Retomar a entrevista:
Então eu tava feita de santo recente e
Corajaci também, ela era mais velha
que eu, mas estávamos todo... ela é três
anos, quatro mais velha que eu. E a
gente se acabou ficando muito perto
uma da outra, né. Na questão espiritual,
e ai que que acontece, foi descendo, né.
Quando eu cheguei e os engraxate,
ali conversando com eles, veio um ser
me empurrou e disse: - Sua feiticeira,
rararararara muito feio, e me derrubou
em cima dos engraxates. Eu machuquei
o joelho, machuquei... mas eu levantei
muito rápida e sai com a vassoura
xingando ele de tudo quanto é nome,
tinha até esquecido que eu tava de
obrigação. Ele atravessou a Francisco
Glicério foi embora e eu voltei e olhei
para a Igreja, eu era do movimento
negro, entendeu. Eu já militava. E eu
sei que as igrejas foram construída por
negros e que... quantos negros
morreram ali. Então, tudo disso eu já
sabia, porque eu era uma pessoa muito
dinâmica nisso. Ai eu disse: - olha
Nossa Senhora da Conceição, a
Senhora esta em cima de um monte de
cadáver de ancestral meu, seu altar esta
assentado em cima do sangue dos meus
ancestrais, mas como eu sei que a
senhora é mãe, e não concorda com que
esse individuo fez comigo eu vou ainda
entrar ai dentro e vou tocar os meus
tambores ai dentro. É uma promessa
que eu faço a Senhora e aos meus
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Ladainhas:
1) Kubanangila
de Angola ae ae ae
Kubanangila
de Angola Kongo le
Kongo ae
2) Quando eu cheguei
aqui nesta cidade
eu avistei a torre
da igreja
O que beleza, cheguei
Agora,
Nossa Senhora
Seja nossa guia
3) Nossa Senhora
da Conceição
Até para o ano
Com a sua benção
Nossa Senhora
ancestrais, nisso a Corajaci chegou e a
gente conversou. Isso passou uns dias
a gente estava se encontrando da
mesma forma, ai foi para o pronto
socorro, foi um auê. E doeu muito isso,
porque eu tava de fio de conta, eu tava
recente de obrigação, o conjunto era
laranja, num sei se vocês lembra, tanto
que era chamado laranjinha, eu punha
um minhocão branco por dentro e
botava o laranja, mais eu não deixei ele
botar o meu topoço, o meu paninho
branco queété, e o fio de conta,
entendeu. E ai ele viu aquilo, ele se
revoltou. Esse individuo né. Ai passou
uns tempo nós conversando em frente
a lavagem, ele disse assim. A Corajaci
falou assim: - mãe Dango. Dango o que
nós vamos fazer para a gente acabar
com esse preconceito aqui filha, como
é que nós vamos fazer, eu falei eu não
sei minha ir. Ela falou vamos lavar
a escadaria, eu falei assim, como assim.
Vamos. Pronto, falei assim. Vamos
Lavar a escadaria.
Obs: usar na trilha as três ladainhas.
Uma das coisas que eu penso que o
povo Banto, o povo Yorubá, o povo
africano, o seer humano, ele precisa
acreditar numa coisa, na sua
espiritualidade, só a espiritualidade vai
vencer as mazelas da vida, não importa
a igreja que você esteja
Quero deixar uma mensagem aqui para
todas as pessoas que são iniciadas, ou
que querem iniciar e que tem medo,
o tenha medo de buscar a sua
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de Nazaré
Até para o ano
Se assim Deus quiser
espiritualidade. Não tenha medo de
acreditar, (e também pode acreditar
você é Sangue e Carne da carne de
Deus.) Você não é filho do demônio,
você é filho de Lemba, Lembaridanga
e de Zambiopon. Essa é a certeza que
eu tenho.
FICHA TÉCNICA
Direção e Roteiro: Gilberto Alexandre Sobrinho
Co-direção e Pesquisa: Gracia Navarro
Assistência de Direção: Alessandro Oliveira
Produção Executiva: Júlio Matos e Marcelo Félix
Direção de Produção: Júlio Matos
Fotografia: Coraci Ruiz e Felipe Bonfim
Produção de Campo: Letizia Nicoli e Alexandre Machado
Montagem: Coraci Ruiz
Assistência de Montagem: Lucas Reitano
Coordenação de Finalização: Julio Matos
Trilha Sonora e edição de som: Víctor Negri
Mixagem: Alexandre Jardim (CTAV) e Olivia Fiusa
Correção de Cor: Isabela Moura
Arte: Cláudia Kfouri
Design Gráfico: Arthur Amaral
Estagiários de Produção: Bruna Schroder e Ana Luiza Fretta
Estagiário de Edição: Lucas Lazzarini
PRÊMIOS E EXIBIÇÕES
Leeds International Film Festival 2017
Feverestival 2018
6º FESTIVAL DE CINEMA "CURTA PINHAIS" FESTCINE
11º Encontro de Cinema Negro Brasil, frica e Caribe Zózimo Bulbu 2018
29º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo - Premiação: Favoritos do Público
3° Edição do Cine Tamoio - Festival de Cinema de São Gonçalo-RJ
VII Mostra Internacional Audiovisual Curta o Gênero, edição 2018
11º Espejos y Espejismos - Muestra de Cine Africano en Argentina 2018
VI Festival de Cinema de Itu - hors concours - 2018
15ª Edição do Festival de Cinema do Vale do Ivinhema
MOSTRA X: Brazilian Films Festival - Consciência Social (EUA e Brasil) 2019
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Mostra Sesc de Cinema 2019
Festival de Cinema de Itu - hors concours; 2019
EGBÉ 4ª Mostra de Cinema Negro de Sergipe Aracaju/SE;
Mostra CINEAFROBH Belo Horizonte (no Ile Wopo Olojukan, primeiro terreiro de candomblé
de Belo Horizonte) - 2019
Exibição no Cineclube Terracota Barão Geraldo/Campinas 2019
3ª Mostra SESC São Paulo 2019
CINUSP 2020.
Recebido em: 26 de setembro de 2021
Aceito em: 12 de dezembro de 2021