ISSN 2447-746X Ridphe_R
DOI: 10.20888/ridpher.v7i00.15797
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Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 7, p. 1-5, e021006, 2021.
isso, não se pode falar em ‘resgate da memória’, como se o processo de ‘recordação’ fosse
reintegrado de maneira integral no conjunto mnemônico das comunidades”.
Há outras significativas contribuições a partir de conceitos e reflexões para a valorização
das memórias e narrativas. A começarmos pelas orientações éticas do trabalho com memória, os
autores destacam o cuidado que se deve ter com os interlocutores, desde a elaboração dos projetos
que orientarão as entrevistas até a transformação da entrevista oral em documento escrito.
Em relação às entrevistas, os autores evidenciam a importância desse momento em que os
entrevistados elaboram sua memória a partir dos questionamentos e do ambiente a que são
submetidos. Embora a memória seja exteriorizada oralmente, é necessário que os entrevistadores
estejam atentos à performance total dos seus interlocutores. Estes deverão ser estimulados a
desenvolverem ideias e impressões, por isso a importância de não serem elaboradas perguntas
limitadoras e fechadas. É preciso perceber as pausas, os gestos, as variações na fala, as emoções,
os silêncios. Os autores alinham-se à afirmação de Ecléa Bosi: “cabe a nós interpretar tanto a
lembrança quanto o esquecimento” (2003, p. 18). E nesse esforço interpretativo está a importância
do caderno de campo, um diário íntimo, em que os pesquisadores deverão anotar suas impressões
e outras observações sobre o transcorrer das entrevistas. Ele será útil na transcrição das entrevistas.
No entanto, como os autores insistem em destacar, entrevistas isoladas e independentes
não se constituem em história oral. Para tanto, é preciso elaborar um projeto: definir o tema que
será trabalhado, quais são os objetivos pretendidos, estipular o grupo de interlocutores, a colônia e
sua rede; elaborar a justificação, estabelecer qual será o corpus documental; e levantar hipóteses.
O projeto norteará todo o percurso a ser desenvolvido, servindo como referência e coesão para as
entrevistas, sem que isso signifique rigidez, tampouco intransigência. É preciso aceitar e incorporar
as imprevisibilidades que surgirem no meio do caminho. Ao final, a “história do projeto” será
escrita e exposta justamente como forma de elucidar a todos a trajetória do trabalho, os pontos de
partidas escolhidos, os desvios, as decisões, as correções.
O protagonismo dos interlocutores é primordial. Eles não devem ser considerados como
depoentes, objetos da pesquisa nem informantes, mas como colaboradores. São eles que irão
desenvolver o trabalho conjuntamente com os pesquisadores. Devido à vocação pública dos
projetos de história oral, ao seu sentido democrático e ao seu apelo social, eles devem ser
desenvolvidos para e com os colaboradores, em consonância com as suas demandas. Ainda que