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O CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO (FEUSP): PESQUISAS E FONTES
DOCUMENTAIS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO1
Carmen Sylvia Vidigal Moraes
Centro de Memória da Educação
Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, Brasil
E-mail: moraes@usp.br
Luciana Eliza dos Santos
Centro de Memória da Educação
Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, Brasil
lucianaeliz@gmail.com
RESUMO
Este texto é dedicado à trajetória de 30 anos do Centro de Memória da Educação da Faculdade
de Educação da Universidade de o Paulo (CME-FEUSP). Para tanto, será apresentada a
diversidade dos acervos que o constituem e a sua importância como centro de documentação e
de referência voltado à memória educacional, à historiografia da educação e à formação de
professores e pesquisadores da educação. Assim, destaca-se o papel do CME como espaço, cujo
funcionamento e sentido de ser representa o vínculo histórico entre instituições, sujeitos, cultura
e representação material da educação, proporcionando a sua constante investigação e
(re)visitação histórica.
Palavras-chave: Centro de Memória da Educação. Faculdade de Educação da USP. Acervos
escolares. Memória da educação. História da Educação.
INTRODUÇÃO
A história é objeto de uma construção, cujo lugar não
é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de "agoras".
Walter Benjamin
Os centros de memória podem ser concebidos como instituições para a conservação de
informações e conhecimento, cuja função memorialística inicial alia guarda e conservação de
documentos às condições de disponibilização desta memória à sociedade. Ao se tratar de um
centro de memória da educação, que se destacar o papel de instituição de guarda e
preservação da memória de instituições educacionais, cujo funcionamento, em um dado
percurso temporal, gerou a necessidade de guarda técnica documental. Mas, a ação de
preservação, inscrita em um contexto hisrico social, captura também as possíveis condições
1 O artigo foi realizado a partir de publicações sobre o Centro de Memória, que estão na bibliografia, e documentos
como Proposta de Criação do CME (1992), o Regimento (1993), e o Guia Documental, organizado por Iomar
ZAIA, em 2004, o artigo MORAES; CARVALHO; ZAIA (2008).
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de rodução destes documentos e suas instituições, possibilitando caminhos interpretativos para
a compreensão histórica da experiência educacional. Mais do que isso, a ação de um centro de
memória atualiza as relações entre documentos e memória coletiva, a partir das experiências
contemporâneas de estudantes, professores e demais interessados/usuários, constituindo-se
como lugar de memória da educação, como no caso aqui apresentado.
Os centros de memória são espaços que configuram temas e a formas de organizar e
conceber a memória, a partir de seus documentos arquivísticos, bibliográficos, museológicos,
e de seus contextos de produção, sendo preservar e promover a memória de instituições, sujeitos
e coletividades seu principal papel. Os centros de memória têm caráter histórico que amplifica
a função de centro de documentação, pois agregam variedades documentais produzidas em
contextos específicos, que são investigadas pela pesquisa (BELLOTO, 1991). Nessa
perspectiva, seu funcionamento contribui com a memória institucional do local ao qual está
atrelado e com a construção da sua memória social, coletiva e institucional, de modo que a
pesquisa nele produzida vai reincidir novos olhares sobre o que está consolidado e cristalizado
pela escrita, pela materialidade dos objetos, ou qualquer outra forma de suporte documental,
material ou monumental de sua realidade histórica.
Apreender os espaços de memória como abrigo da atividade humana é também explorar
o percurso sinuoso e dialético da história. O sentido presente do passado como espaço da
experiência pode ser acessado a partir de uma base de princípio construtivo, não aditivo, sobre
um espaço vazio, como situa Walter Benjamin (1987, p.232). O complexo movimento da
história, ancorado no tempo presente, é um processo de realização e experiência. Daí a
importância de lugares de memória, como o Centro de Memória da Educação, CME-FEUSP,
para fazer do passado um campo de experiências, promovendo tanto a construção da memória
da educação no Brasil, com base em seus acervos, quanto a sua constante revisitação, a partir
de novos olhares, despertados por propósitos do tempo presente.
A CRIAÇÃO DO CENTRO DE MEMÓRIA DA FEUSP - CME
O Centro de Memória da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo foi criado por deliberação da Congregação dessa Faculdade, que, em sessão realizada em
junho de 1992, aprovou proposta encaminhada por um grupo de professores interessado em
institucionalizar instâncias interdepartamentais que favorecessem a produção em equipe da
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pesquisa em história e historiografia da educação2. Sua criação deve ser compreendida em um
duplo contexto. Por um lado, a pesquisa em História da Educação começava a ganhar maior
reconhecimento e prestígio no campo educacional, atraindo número crescente de novos
pesquisadores. Nesse processo, teve importante papel o Grupo História da Educação da
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação (ANPED), que, organizado em 1986, veio
a se projetar nacionalmente como grupo de referência para os pesquisadores da área,
enfatizando a necessidade de políticas institucionais de preservação de fontes documentais, e
incentivando iniciativas de localizão e referenciamento de fontes primárias. Por outro lado,
na Faculdade de Educação, a constituição da Área Temática de História da Educação e
Historiografia no Programa de Pós-Graduação em Educação, em dezembro de 1992, deu
maior visibilidade à tal demanda, reforçando a importância da institucionalização de um Centro
capaz de amparar e subsidiar a pesquisa no campo da História da Educação.
A Proposta que justifica a criação do CME caracterizou-o como “atividade meio para
suporte das atividades fins da FEUSP”, e o Regimento Interno elaborado por suas fundadoras
atribuiu-lhe as seguintes finalidades:
1º) como Centro de Documentação, constituir e organizar acervos documentais já
existentes na FEUSP ou provenientes de outras instituições, do tipo bibliotecas especiais,
arquivos, fundos e coleções, além de acervos museológicos; como Centro de Referências,
acumular banco de dados, com informações provenientes de trabalhos de pesquisa realizados
por seus pesquisadores, disponibilizados para consulta local ou remota3;
2º) promover atividades de pesquisa, ensino e extensão, a partir de projetos articulados
em torno dos seguintes eixos temáticos: I- História da instituição escolar; II- História das
práticas escolares; III - História do livro e da imprensa pedagógica e da leitura; IV- História das
relações escola e trabalho; V- História dos saberes pedagógicos; VI- Agentes Educacionais:
processo histórico de sua constituição.
Com essas finalidades, o CME apresentou-se regimentalmente como um órgão da
Faculdade de Educação da USP destinado a promover a pesquisa, reunir documentação e
2 O grupo foi coordenado pela Profa. Dra. Marta Maria Chagas de Carvalho e era integrado pelas professoras Dra.
Carmen Sylvia Vidigal de Moraes, Dra. Circe Fernandes Bittencourt, Dra. Cynthia Pereira de Sousa, Dra. Denice
Bárbara Catani, Dra. Maria Cecília Cortez Christiano de Souza e Dra. Maria Lucia Spedo Hilsdorf
3 Para a realização das finalidades previstas no item 1º, a Justificativa previa as seguintes atividades: colaboração
na organização dos acervos das Bibliotecas especiais Paulo Bourroul e Macedo Soares, provenientes da antiga
Escola Normal da Praça, depois Caetano de Campos; constituição e organização da Biblioteca do Livro Didático;
constituição e organização do acervo de suportes materiais da educação escolarizada; constituição e organização
do acervo de documentos institucionais; colaboração e organização do acervo de documentos institucionais;
colaboração na organização do acervo de fundos e coleções particulares dos educadores; constituição e
organização de acervo iconográfico; constituição e organização de acervo de documentação oral.
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divulgar, de forma integrada, a produção de seus membros no campo da Hisria da Educação
Escolar no Brasil”, e reuniu professores dos três departamentos da FEUSP (Filosofia e Ciências
da Educação; Economia da Educação e Administração Escolar; Didática e Metodologia do
Ensino), alunos de graduação e pós-graduação, além de funcionários da Biblioteca interessados.
Dessa forma, o corpo de pesquisa do Centro de Memória compõe-se de professores
universitários, pesquisadores de instituições científicas, alunos de pós-graduação e bolsistas de
iniciação científica, que estejam desenvolvendo projetos aprovados pelo seu Conselho
Científico. Seus acervos são, como conforme o Regimento, abertos “para consulta aos
pesquisadores não pertencentes ao Centro na dependência do andamento do processo de
organização de seus acervos e das suas condições materiais de funcionamento (CME,
Regimento Interno, Capítulo III, Artigo 5º).
O processo de institucionalização do CME foi iniciado com o desenvolvimento do
projeto de pesquisa integrado Impressos, Leituras e Instituições Escolares no Brasil, em 1994,
no âmbito de projeto mais amplo4, que se propôs a desenvolver trabalhos historiográficos sobre
educação para impulsionar estudos centrados na escola, nos processos e nas práticas, nos
saberes que nela e sobre ela se articulam, configurando-a como instituição materialmente
determinada. Coordenado pelas Profas. Dras. Marta Maria Chagas de Carvalho e Carmen
Sylvia Vidigal Moraes, o projeto foi integrado por 7 subprojetos, a saber: Escolas de Instrução
Popular”: Materiais Escolares e Documentos Institucionais, coordenado pelas Profas. Dras.
Carmen Sylvia Vidigal Moraes e Circe Maria Fernandes Bittencourt; Imprensa Periódica
Educacional Paulista (1890-1990), coordenado pelas Professoras Dras. Denice Barbara Catani
e Cynthia Pereira de Sousa; Práticas e representações de leitura na formação de professores
paulistanos na Primeira República - estudo do caso da Escola Normal da Praça entre 1890 e
1930, coordenado pela Profa. Dra. Maria Cecília Cortez Christiano de Souza; Tempos de
Escola: Inventário das Instituições Escolares Femininas na Província de São Paulo,
coordenado pela Profa. Dra. Maria Lúcia. Spedo Hilsdorf; Práticas de Leitura e Reforma
Escolar no Brasil (1920-1945), coordenado pela Profa. Dra. Marta Maria Chagas de Carvalho;
Repertório de fontes sobre a reforma de Instrução Pública no Distrito Federal (1927-1935),
desenvolvido sob a responsabilidade da então doutoranda Diana Gonçalves Vidal; As práticas
escolares: da escrita e da leitura nas escolas de Rio Claro (1940 a 1960), desenvolvido sob a
responsabilidade da então doutoranda Marilena Jorge Guedes de Camargo.
4. A Universidade de São Paulo e a FINEP, empresa pública de fomento à ciência e tecnologia, firmaram convênio,
em 1994, para a realização de um projeto de pesquisa intitulado "Pesquisa de Pós-Graduação na Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo".
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A conclusão dos trabalhos, em 1999, possibilitou a compra de equipamentos e materiais,
dotando-o da infraestrutura, como arquivos, construção de bancos de dados, publicação de
repertórios, catálogos, guias de fontes e livros. Possibilitou, além disso, as condições materiais
requisitadas para sua consolidação como centro de pesquisa (cinco salas - consulta, reuniões,
pesquisa, acervo climatizado e um mini-museu - distribuídas em um espaço de 150 m2). A
importância desse projeto deve ser enfatizada, pois possui o mérito de aglutinar diversas
iniciativas de fomento à pesquisa no CME, imprimindo-lhe a fisionomia que o consolidou como
instituição de referência na área. Entre essas iniciativas, cumpre destacar os projetos:
Cumprindo com a função de um Centro de Referência e Documentação: suportes materiais e
técnicos, coordenado pela Profª Dra. Maria Cecília C. C. de Souza e financiado pela FAPESP,
responsável pela aquisição de novos equipamentos, móveis, material de consumo e serviços de
terceiros para o CME; e Historiografia das mais antigas Escolas Técnicas Estaduais do
Estado de São Paulo. Uma proposta de construção e preservação da memória”. coordenado
pela Prof.ª Dra. Carmen Sylvia Vidigal Moraes5, que inaugura as atividades do CME destinadas
à preservação/organização de arquivos escolares e constituição de Centros de Memória em
instituições de ensino. O trabalho no campo da arquivística gerou a criação de uma linha de
pesquisa, Arquivos Escolares, junto à área de "História e Historiografia da Educação", na Pós-
Graduação da FEUSP.
Além desses dois projetos, vale destacar também os seguintes: Preocupando-se com a
fragilidade da memória: uso de técnicas especializadas de organização do arquivo Centro de
Memória da Educação”, coordenado Prof Dra. Diana Gonçalves Vidal, financiado pelo
Coseas-USP, e que promoveu a organização do acervo do Centro Regional de Pesquisas
Educacionais CRPE - Prof. Queiroz Filho. Além deste, o projeto O Colégio de Aplicação
nos anos 1960”, coordenado pelas. Professoras Dra. Maria de Lourdes Janotti e Dra. Maria
Cecília C. C. de Souza, financiado pela CNPq, com o propósito de recolher e problematizar,
dentro do campo da história oral, depoimentos de antigos alunos e professores de Colégio de
Aplicação da FEUSP, nos anos 1960. Destaca-se também "Fontes Primárias para o ensino da
caligrafia e da escrita", por Izabel e Lourdes Esteves, e "Pequeno dicionário da Escola Normal
Paulista no Império", de Márcia Hilsdorf Dias, ou fruto de parcerias do CME e a Universidad
de Colômbia, como o projeto Base de Dados de História Comparada de Educação Ibero-
americana/BADHICEI.
5 O projeto foi apresentado conjuntamente, pelo CME e Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula Souza”,
financiado pela FAPESP, sob a denominação de "Pesquisa sobre o ensino público no Estado de São Paulo:
memória institucional e transformações histórico-espaciais".
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Com essas experiências, a documentação doada ao Centro foi organizada por projetos
institucionais, com o apoio das agências de fomento à pesquisa - FAPESP, CAPES, CNPq e
das P-Reitorias de Pesquisa e de Extensão da USP. O trabalho arquivístico, de praticamente
todos os projetos mencionados, efetuou-se sob a supervisão técnica da aluna de pós-graduação
Iomar Barbosa Zaia. As etapas de organização de acervos, envolvendo estudo, higienização e
o acondicionamento de documentos envolveram, em geral, a ação de estudantes de graduação
(Pedagogia e Licenciaturas) da Faculdade de Educação ou do Ensino Médio, exercida sob a
forma de estágio ou bolsa de Iniciação Científica. Muitos desses alunos permanecem até três
anos atuando no CME e transformam a experiência em projetos de pós-graduação, elaborando
estudos de mestrado e doutorado.
As esses primeiros passos, a instituição também acolheu a sede da Secretaria da
Sociedade Brasileira de História da Educação em 2000 e 2001, e, ainda foi sede da Comissão
Editorial da Revista Brasileira de História da Educação6. Nos seus quase 30 anos de existência,
o CME atendeu mais de 1000 pesquisadores de cursos de pós-graduação de vários estados
brasileiros, e professores e alunos de escolas públicas do estado de São Paulo (Livro de Visitas
do CME/FEUSP). Incorporado como Laboratório Didático, pelas imeras atividades de
ensino, orientação de alunos bolsistas pesquisadores, incluiu alunos do ensino médio em
diversas ocasiões como, por exemplo, os bolsistas de pré-iniciação científica, no projeto entre
a Pró-Reitoria de Pesquisa e a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (60 bolsistas
entre 2010 e 2013).
Nas parcerias com escolas blicas, O CME realizou projetos de relevo o Lugares da
memória: parceria entre o Centro de Memória da Educação e o CEFAM de Santo André, sob
coordenação da profa. Dra. Diana Gonçalves Vidal e da arquivista Iomar B. Zaia, em 2003 e
2004, que teve por objetivo o desenvolvimento de estágio supervisionado de alunos do CEFAM
de Santo André no CME, no Centro de Memória da Escola de Aplicação, na Biblioteca da
FEUSP, no Museu de Brinquedos e no Laboratório de Brinquedos da FEUSP. Realizaram-se
também visitas técnicas em museus e arquivos fora da Universidade e foram selecionados 72
alunos do CEFAM, monitorados por alunos bolsistas do Centro de Memória da Educação e sob
supervisão da arquivista do CME.
6. A coordenação do Centro de Memória, no período, constituída por um colegiado de três professores
representantes dos três departamentos da FEUSP, que assumiam a atribuição em um esquema de rodízio, conforme
o regulamento. Integraram a coordenação, os professores: Denice Catani, Maria Lúcia Hilsdorf, Marta Carvalho,
Carmen Sylvia V. Moraes, Maria Lúcia Hilsdorf, Circe Bittencourt, Diana G. Vidal, Maria Cecília Cortez. C. de
Souza, Maria Cecília M. Hanna e Bruno Bontempi. Atualmente, a coordenação é composta por Ana Luiza Costa,
Carmen Sylvia V. Moraes e Roni Cleber D. de Menezes.
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O CME desenvolveu alguns trabalhos de consultoria, entre eles ao Centro de Referência
do Professor "Mário Covas", da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. A convite da
coordenadora do Projeto "Memória e Escola", e, depois, diretora do referido Centro, Maria
Aparecida Magnani, as professoras Carmen Sylvia Vidigal Moraes e Diana Gonçalves Vidal
participaram, ao lado de Márcia Razzini7, da realização de uma exposição museológica,
cenográfica e fotográfica sobre a escola paulista entre 1808 e 2001. Com o título “A escola e
o saber: trajetória de uma relação” e pensada, inicialmente, para ser inaugurada no dia do
professor, a exposição trouxe a história da escola paulista como cenário, apresentando o mestre
e a leitura como principais personagens. Assim, buscou articular conhecimentos sobre a leitura
escolar às informações sobre tempos e espaços da escolarização, alunos e alunas presentes e
ausentes da escola nos vários períodos históricos, utensílios e móveis utilizados pelas unidades
na sua diversa distribuição (zona urbana e rural), composição do quadro docente sob o prisma
histórico: tudo isso compreendido nos vários níveis e modalidades de ensino. Mais do que o
levantamento das informações, tarefa facilitada pela experiência do grupo com os estudos da
área de História e História da Educação, o grande esforço empreendido foi no sentido de
sistematização gráfica e plástica de todos esses dados.
É importante considerar que, pela originalidade e pioneirismo de suas atribuições no
arcabouço institucional, o Centro de Memória foi convidado, pelas professoras Ana Maria
Camargo e Joana Smith, a participar da organização do Acervo Central da USP e a se constituir
em centro piloto de referência às demais unidades da universidade.
AS PESQUISAS REALIZADAS NO CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO DA
FEUSP
Nesses anos de ação do CME, no campo da História da Educação, e de funcionamento
como espaço de memória na Faculdade de Educação, pode-se destacar pesquisas e atividades
seminais que o consolidaram como referência em seu campo de atuação. Em três cadas,
pesquisadores e alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado do CME
se dedicaram a investigar arquivos de escolas públicas paulistas, bem como outros acervos que
passaram a integrar o Centro de Memória no decorrer destes anos. Essa experiência
proporcionou a consolidação de metodologias de preservação, organização e acesso à
informação no contexto de um centro de documentação, que, ao mesmo tempo, promoveu
7rcia Razzini foi pesquisadora no projeto " Educação e Memória: organização da Biblioteca do Livro Didático
(BLD) e do Banco de Dados (LIVRES)", coordenado pela profa. Circe Bittencourt.
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contextos de pesquisa profícuos entre historiadores da educação, arquivistas e demais
pesquisadores interessados nos possíveis temas que circundam os arquivos do CME.
O aprendizado em equipes de pesquisa, na realização de diferentes projetos no CME,
nos últimos 30 anos, ensinou os grupos a trabalharem coletivamente, a desenvolverem projetos
institucionais, do CME, inclusive com o rodízio das coordenações, uma vez que os auxílios são
concedidos, pelas instituições de fomento, a partir de uma coordenação individual. Com isso,
realizou-se um número significativo de estudos e pesquisas, com captação de recursos para a
manutenção da instituição.
A CONTRIBUIÇÃO DO CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO À
PRESERVAÇÃO DOS ARQUIVOS ESCOLARES PAULISTAS
A seguir, alguns projetos e arquivos do CME, com o objetivo de melhor explorar a
diversidade documental e a abordagens dos trabalhos desenvolvidos:
1. O primeiro projeto, "Pesquisa sobre o ensino público no Estado de São Paulo:
memória institucional e transformações histórico espaciais", foi desenvolvido em parceria com
o Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS) entre 1998 e 2002,
financiado pela FAPESP, coordenado pela profa. Dra. Carmen Sylvia Vidigal Moraes e a profa.
Julia Falivene Alves (CEETEPS); e com a assessoria técnica da Professora Heloisa Belloto na
catalogação e elaboração do inventário de fontes; além da colaboração das arquivistas Iomar B.
Zaia e Maria Cristina Vendrameto, pesquisadoras do CME, na época, alunas do curso de pós-
graduação da FEUSP, para a capacitação dos professores das escolas em atividades
arquivísticas.
Com o objetivo de promover o encontro entre pesquisa e atividade pedagógica, por meio
da integração dos diferentes agentes das práticas escolares na produção do conhecimento
histórico, a pesquisa consistiu no levantamento, acondicionamento e referenciação de fontes
documentais produzidas e/ou acumuladas por nove escolas técnicas oficiais escolhidas entre a
mais antigas do Estado de São Paulo - duas, na capital, e sete, no interior (Amparo, Campinas,
Franca, Jacareí, 2 em Santos, Sorocaba). O projeto objetivou organizar, em cada instituição, o
arquivo permanente/ histórico, capacitar professores e alunos das escolas em técnicas de
conservação preventiva e acesso à informação, organizar encontros com todas as escolas
envolvidas para socialização das experiências. Além disso, foi criado, em cada escola, um
Centro de Documentação e Memória Escolar, destinado a reunir, em um mesmo espaço,
documentos do arquivo permanente/histórico, peças museológicas, acervo bibliográfico e as
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bases de dados referenciais significativas para o desenvolvimento de atividades pedagógicas e
de pesquisa.
A partir dessas referências, suscitou a realização de estudos e produção de
conhecimentos, de um lado, sobre a história das instituições e das disciplinas escolares, da
educação em geral, do ensino profissional e técnico, da constituição das profissões e das
mudanças no mundo do trabalho no decorrer do tempo; de outro lado, sobre a relação da escola
com a sociedade e cultura locais - os processos de desenvolvimento urbano, o crescimento do
comércio e da indústria, a produção rural, a constituição de grupos e classes sociais, relações
de poder, de gênero e de etnia, desigualdades sociais etc., os quais subsidiaram as atividades de
ensino e promoveram o enriquecimento curricular das instituições.
Como resultado de suas atividades, o projeto produziu duas publicações: um Inventário
de Fontes Documentais e um Álbum Fotográfico, com cerca de 100 fotos dos acervos escolares,
ambos elaborados em conjunto com professores e alunos. Em comemoração ao aniversário dos
90 anos da criação das escolas técnicas em São Paulo, foi também produzido um Calendário
do ano 2002, com ilustrões das Escolas Técnicas. Com a finalização do projeto, visando
contribuir para o desenvolvimento de uma política institucional voltada para a preservação e
alimentação” permanente do acervo, tornou-se necessário desenvolver outra pesquisa com o
propósito de definir critérios de avaliação e descarte de documentos, e viabilizar a comunicação
entre os arquivos correntes (secretarias das escolas) e os permanentes ou históricos. Este
trabalho foi realizado, como tema de dissertação de Mestrado em História e Historiografia da
Educação (sub-área de Arquivos Escolares), por Maria Cristina Vendrameto, assessora do
projeto na realização de atividades em arquivística e aluna da pós-graduação da FEUSP.
É importante ressaltar o resultado exitoso do projeto, ainda hoje em continuidade no
Centro Paula Souza, sob a coordenação da profa. Maria Lúcia Mendes de Carvalho, que
substituiu a professora Julia Falivene Alves, em 2008, com a ampliação do número de escolas
participantes e da constituão de novos Centros de Memórias nas instituões, acompanhadas
do desenvolvimento complementar de estudos e pesquisas. Foi criado o Grupo de Estudos e
Pesquisas em Memórias e Hisria da Educação Profissional (GEPEMHEP) com a participação
de professores de escolas de diferentes regiões do Estado, os quais são também estimulados a
participar dos Clubes de Memórias onde:
são realizadas oficinas de leitura de referenciais sobre a cultura escolar, a
história do currículo, a história das disciplinas e a história da profissão doente,
entre outras, a fim de empregá-los como categorias de investigões nos
projetos de estudos e pesquisas. Entrementes, a história oral tem sido
empregada como uma das metodologias, para registrar as falas e transpô-las
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para a escrita com professores e ex-professores, funcionários e ex-alunos das
unidades escolares, gerando fontes documentais (CARVALHO, 2020. P. 11).
As atividades realizadas, encontros, semirios, assim como o conhecimento produzido
pelos docentes (artigos e livros), estão sendo divulgadas nas revistas do CPS e no site
institucional8.
2. O segundo projeto: Preservando a memória do ensino público paulista: a Escola de
Aplicação /FEUSP (1959- 1999), desenvolveu-se na Escola de Aplicação de Faculdade de
Educação da USP, (entre 2000-2003), sob orientação das profa. Dra. Diana Goalves Vidal9.
Contando com o apoio de professores, funcionários e alunos, de modo similar ao trabalho
realizado nas escolas técnicas, realizou o tratamento da documentação histórica, constituindo
um Centro de Memória, denominado MEMO, na unidade escolar. Procurou avançar no
procedimento metodológico relacionando o arranjo do arquivo histórico ao do corrente
(secretaria), elaborando planos de destinação e Tabelas de Temporalidade, e estendeu para
alunos de ensino fundamental (de 4ª a 8ª séries) o exercício da pesquisa e do trato documental,
efetuado anteriormente por alunos do ensino médio.
Envolver alunos menores nas práticas do arquivo requer cuidado redobrado no
manuseio da documentação e no cuidado com o acesso a documentos de caráter sigiloso. Assim,
os ambientes do Centro de Memória Escolar precisam estar organizados de tal maneira que a
consulta ao conjunto documental pelo aluno seja sempre mediada pelo professor ou arquivista
responsável. O arranjo e a higienização da documentação do MEMO visaram, ainda,
disponibilizar a pesquisadores e pessoas interessadas no passado da Escola de Aplicação da
FEUSP o acesso a documentos históricos, auxiliando na preservação da história escolar de São
Paulo. Deste projeto originou-se a pesquisa de mestrado de Iomar Barbosa Zaia, A história da
educação em risco: avaliação e descarte dos documentos do arquivo da Escola de Aplicação,
1958-1985", defendido em 2003, no programa de pós-graduação da FEUSP, na área de História
e Historiografia.
O projeto apresentou, como forma de divulgação, três produtos: 1. Agenda
Comemorativa dos 45 anos da Escola de Aplicação (com ilustrações e passagens da história da
Escola). São Paulo: FAPESP/ FEUSP/ CME/FEUSP, 2004; 2. Escola de Aplicação: o arquivo
da escola e a memória escolar. CD ROM. Iomar Barbosa Zaia e Maria Cristina Moreira (orgs.).
8http://www.memorias.cpscetec.com.br/ Acesso em 16/01/2021.
9 O projeto teve o apoio financeiro da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e
assessoria em organização de arquivos, capacitação e supervisão das atividades da arquivista do CME Iomar B.
Zaia.
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- São Paulo: Centro de Memória da Educação - FEUSP, 2004; 3. O Acervo Escolar:
organização e cuidados básicos - Iomar Barbosa Zaia. - São Paulo: Centro de Memória da
Educação, 2004. Posteriormente, após o encerramento das atividades do projeto piloto, o CME
assumiu junto à direção da Escola de Aplicação, na época, a responsabilidade de desenvolver,
por mais dois anos (2004 - 2005), as atividades de organização do Arquivo Permanente e a
manutenção das atividades de recolhimento. Atualmente, o MEMO encontra-se sob
responsabilidade do Centro de Memória da Educação.
3. Outro projeto, realizado em 2005, intitulado "Recuperação da Memória das Escolas
Públicas de Pedreira", partiu da experiência dos dois projetos anteriores de organização de
arquivos escolares. Desenvolvido sob a coordenação do Professor Dr. Orlando Stanley Jurians,
do Instituto de Matemática/IME-USP, teve como objetivo a organização dos arquivos de quatro
escolas blicas (municipais e estaduais) da cidade de Pedreira, no interior do estado de São
Paulo. Este projeto também se pros a organizar um Centro de Memória em cada unidade
escolar e um núcleo de estudos e pesquisas sobre a memória escolar da cidade reunindo
estudiosos de diversas áreas envolvidos com pesquisas sobre a região. O projeto, que teve a
assessoria de pesquisadores e da arquivista do CME, contou também com uma equipe
multidisciplinar de alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado.
4. Organização da Biblioteca do Livro Didático da FEUSP, sob coordenação da Profa.
Dra. Circe Bittencourt, o projeto temático "Educação e Memória: organização da Biblioteca
do Livro Didático da Faculdade de Educação" referiu-se à organização da Biblioteca do Livro
Didático (BLD) e do Banco de Dados (LIVRES) do CME FEUSP, com o apoio da FAPESP,
dando continuidade à organização do acervo iniciado na pesquisa anterior "Impressos, Leituras
e Instituições Escolares- Materiais escolares e documentos institucionais". A Biblioteca
come-se de 10.000 livros didáticos, aproximadamente, e tem por objetivo disponibilizar aos
educadores o acesso à produção escolar das diversas disciplinas escolares brasileiras desde o
século XIX ao ano 2000 e fornecer referenciais e fontes por meio da recuperação de obras e
coleta de documentos relativos à produção didática, subcategorizando-se em: legislação,
programas curriculares, catálogos de editoras, produção didática Brasil/Portugal. O acervo está,
atualmente, sob guarda da Biblioteca Celso de Rui Beisiegel da FEUSP.
5. Projeto Acervo João Penteado10, uma das importantes doações recebidas pelo CME,
que consiste no Acervo do educador anarquista João Penteado (1870-1968), o arquivo
10 Texto baseado nos resultados de pesquisa coletiva do grupo João Penteado/CME-FEUSP. In Moraes, MORAES,
Carmen S. V. (org.). Educação Libertária no Brasil. Acervo João Penteado: Inventário de Fontes. São Paulo:
Fap-Unifesp; EDUSP, 2013, 384 p.
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permanente da Escola Moderna n.1, criada no Bairro do Belém por grupos anarquistas e
anticlericais, sob inspiração das propostas pedagógicas do espanhol Francisco Ferrer (1912 -
1919), e das escolas que a sucederam, a Escola Nova (1920 -1923); a Academia de Comércio
Saldanha Marinho (depois, Escola Técnica de Comércio Saldanha Marinho e Ginásio e Escola
Técnica Saldanha Marinho, entre 1924-2002), instituições também criadas e dirigidas por este
educador. O Acervo, doado por parentes de João Penteado11, agrega documentos institucionais
e pessoais acumulados pelo professor, que expressam com ineditismo o pensamento desse
importante militante da educação libertária no Brasil. Ao longo de aproximadamente cinco
anos, a equipe do Centro de Memória da Educação fez recolhimentos diversos, em diálogo
constante com os herdeiros-doadores.
O Arquivo Escolar é constituído por cerca de 37.610 documentos administrativos e
pedagógicos; 900 fotografias soltas e 24 Álbuns de formaturas e outros eventos escolares, num
total de 4800 fotos; filme sobre eventos comemorativos e atividades esportivas; 300 exemplares
dos jornais elaborados por professores e alunos; 200 manuscritos do fundador; e cerca de 167
peças museológicas, como quadros, objetos do antigo Laboratório para o ensino de ciências e
da geografia, maquinário das aulas de datilografia, projetor de imagens de 16 mm, entre outros,
além de móveis utilizados na escola, como estantes e carteiras. Algumas peças contêm
identificação de sua procedência ou ano de fabricação, indicando as marcas Bender (BRA),
Burroughs (USA), Waller (BRA), Remington (BRA), entre outras.
O Arquivo Pessoal, organizado separadamente, reúne 751 documentos: fotografias,
correspondências e produção intelectual de João Penteado (livros, peças de teatro, poemas,
discursos, textos didáticos). O Centro de Memória da Educação tem sob sua guarda parte da
biblioteca escolar que estava alocada no prédio do Colégio Saldanha Marinho, e foi recolhida
em 2008. Constituída por 120 volumes, 14 periódicos, e 03 apostilas elaboradas na escola, essa
parte da biblioteca inclui obras pedagógicas, de conteúdo didático, e outras voltadas ao ensino
técnico comercial e da contabilidade, e aquelas relacionadas ao campo do espiritualismo,
principalmente ao espiritismo kardecista e ao espiritualismo de krishnamurti.
11Os documentos foram localizados pela aluna do Programa de s-Graduação da FEUSP, Tatiana CALSAVARA,
no decorrer das pesquisas para a elaboração de sua Dissertação de Mestrado, realizada sob a orientação de Carmen
Sylvia Vidigal Moraes Educação liberria e movimento operário” (2004). Face a nosso interesse institucional, o
conjunto documental foi doado ao Centro de Memória da FEUSP por Marli Alfarano, sobrinha neta de João
Penteado, e seu marido, Álvaro Alfarano. Ambos estudaram nas escolas dirigidas por João Penteado e seus irmãos,
e, mais tarde, vieram a ser professores e diretores da mesma instituição até o seu fechamento, em 2002.
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Com o apoio de recursos da Pró-Reitoria de Pesquisa, e, posteriormente, com o auxílio
do CNPq, foi organizado, sob a coordenação da profa. Carmen Moraes, um grupo de pesquisa
integrado pelas professoras Cecília Hanna Mate e Doris Accioly, alunos bolsistas de Iniciação
Científica, Mestrado e Doutorado, pela arquivista responsável do CME, a doutoranda Iomar
Zaia (bolsista do Programa de Contratação de Técnicos de Nível Superior - PROCONTES da
Pró-Reitoria de Pesquisa e, depois, da CAPES, e posteriormente, bolsista de pós-doutorado no
CME, pela FAPESP ), iniciando-se o trabalho de recolhimento e organização dos documentos
do acervo.
Ao concluirmos a realização da pesquisa, foi feita a digitalização de todos os
documentos textuais, administrativos e pedagógicos, e de grande parte das fontes
iconográficas, os quais se encontram reunidos em DVD e colocados à disposição dos
pesquisadores no site do CME (www.fe.usp.br/laboratorios). O Inventário Anatico de fontes,
instrumento de classificação formal e facilitador do uso pedagógico do arquivo, foi publicado
pela EDUSP e EDUNIFESP com o auxílio da FAPESP, em 2013, como produção coletiva do
Grupo de pesquisa João Penteado, incluindo artigos de seus integrantes, fruto do exame e
análise das fontes levantadas (Educação Libertária no Brasil. Inventário de Fontes: o Acervo
João Penteado (1912-1968). É importante ressaltar que os alunos pesquisadores do Grupo João
Penteado participaram de eventos nacionais e internacionais (Congresso Iberoamericano de
História da Educação, Congresso LusoBrasileiro de História da Educação. Encuentro
Internacional de Historia de la Educación - México, Anped, Anpuh e outros), apresentando os
seus trabalhos e socializando as informações do acervo.
Nos textos que foram produzidos12, alguns apresentados em congressos, procurou-se
demarcar, além da preservação da memória educacional, a relevância teórica da pesquisa,
dando prosseguimento aos estudos anteriores, como os das escolas técnicas, e problematizando
certos conceitos e interpretações até agora aceitos na análise histórica e na historiografia
12MORAES, Carmen S. V., CALSAVARA. T., RIGHI, D., SANTOS, L. O Acervo documental escolar do
educador anarquista João Penteado (1912-1961). A importância das fontes arquivísticas e museológicas para o
estudo da educação brasileira. In: Revista Brasileira de História da Educação, SBHE/Ed Autores Associados.
São Paulo/Campinas, v.11, n. 1 (25), p. 117- 130, jun abr. 2011; MORAES, Carmen S. V., CALSAVARO. T.O
ensino libertário e a relação trabalho e educação. Algumas reflexões. In: Anais da 33ª. Reunião Anual da
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação-Anped. Educação no Brasil: o balanço de
uma década. Caxambu/MG, 2010, MORAES, Carmen S.V., CALSAVARA, T.; MARTINS, A.P. O ensino
libertário e a relação entre trabalho e educação: algumas reflexões. Educação e Pesquisa (USP. Impresso), v. 38,
p. 997-1012, 2012. MORAES, Carmen S. V., ACCIOLY E SILVA, D. Arquivo João Penteado e sua importância
para os estudos de educação anarquista no Brasil. Projeto História (Online), v. 48, p. 1-23, 2013. MORAES,
Carmen S. V.; SILVA, D. A. E. ; SANTOS, L. E. dos; CALSAVARA, T. S. . Reverberações de um Arquivo
Escolar Anarquista. RIDPHE_R REVISTA IBEROAMERICANA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO-EDUCATIVO,
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educacional. Espera-se que as novas fontes provenientes do Arquivo João Penteado possam
iluminar as práticas libertárias, sobretudo as de educação escolar e, dessa forma, contribuir
para o avanço da história da educação e dos movimentos sociais no Brasil.
Em novembro de 2013, para finalizar o projeto “Educação e Cultura anarquistas. Escola
Moderna e Escolas João Penteado”, com o lançamento do livro Educação Libertária no
Brasil”, o auxílio da FAPESP oportunizou a vinda ao Brasil do professor da Universidade
Autônoma de Barcelona, Pere Solà Gussinyer, pesquisador das escolas anarquistas na Espanha,
colaborador do grupo de pesquisa e supervisor de doutorado-sanduíche da pesquisadora
Luciana Eliza dos Santos, para participar, como professor visitante, das atividades docentes e
de pesquisa, cultura e extensão junto ao Centro de Memória da Educação. O projeto foi feito
em parceria com o Grupo CIVILIS, da Faculdade de Educação da Unicamp. coordenado pela
profa. Maria Cristina Menezes, que mantém estreita relação com o CME no que diz respeito ao
desenvolvimento de projetos relacionados à preservação do patrimônio educacional e à
organização de arquivos escolares de instituições públicas de educação básica do Estado de São
Paulo.
Além de reuniões de trabalho e seminários internos com os integrantes dos grupos de
pesquisas envolvidos nas investigações, na USP e na Unicamp, o prof. Solà ministrou a
disciplina Investigación y Enseñanza em Historia de l Educación y Revisión de la Teoria y
Praxis Pedagógica Libertaria, junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da FEUSP,
e realizou seminário aberto aos alunos de graduação e pós-graduação sobre Patrimônio,
Memória e Cultura”. Em consonância com o nosso propósito permanente de associar pesquisa,
produção de conhecimento e intervenção social, o professor Solà também desenvolveu palestras
sobre educação anarquista a integrantes de movimentos sociais populares, como o Movimento
de Trabalhadores Sem Terra, e a professores e alunos de Educação de Jovens e Adultos do
CEEP Centro de Estudos e Educação Popular e das escolas municipais de Santo André.
Por fim, o professor atuou como consultor e colaborador no desenvolvimento do
Projeto “O Ensino Renovado no Estado de São Paulo, O ensino renovado em São Paulo: Classes
Experimentais, Ginásios Vocacionais e Escolas de Aplicação - 1950-60. (organização
arquivística das fontes escolares e análise documental)”. Na sequência dos estudos e sob
estímulo das revelações” propiciadas pelo Inventário de Fontes relativas à educação libertária,
novo grupo de pesquisa foi constituído, com a participação de pesquisadores do CME-FEUSP
e de outras universidades, incluindo alunos bolsistas de Iniciação Científica, Mestrado,
Doutorado e Pós-doutorado, iniciando-se a discussão para a elaboração do novo projeto.
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No início de julho de 2015, dois professores do CME, Carmen S. V. Moraes e Doris
Accioly, foram convidadas a realizar palestras a professores e alunos da área de História da
Educação da Universidade Autônoma de Barcelona, sobre o CME e os projetos - Cultura e
Educação Anarquistas e Ensino renovado: os Ginásios Vocacionais - o que se constituiu em
mais um acontecimento gratificante de interlocução acadêmica e troca de conhecimentos.
6 Projeto sobre o Ensino Renovado. O projeto de pesquisa sobre o Ensino
Renovado, apresentado e aprovado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP (Programa de
Incentivo à Pesquisa Edital 2102-2013, categoria C: Preservação do Patrimônio Público
Educacional), teve por objetivo analisar as experiências de educação renovada no âmbito das
escolas públicas, no estado de São Paulo, do final dos anos 1950 e na década de 1960, período
que coincide com a existência das escolas experimentais, dos ginásios vocacionais e dos
colégios de Aplicação , no estado de São Paulo. Tais experiências visavam à democratização
da escola blica, o acesso à educação e ampliação da participação democrática dos setores
populares. Tratava-se, em primeiro lugar, de analisar a gênese e a constituição da proposta de
Educação Integral formulada nos Ginásios Vocacionais, de curta existência no estado de o
Paulo (1961 -1969), que marca uma das retomadas da concepção democrática de educação ao
se insurgir contra a dualidade existente na organização do ensino médio brasileiro e ao propor
sua superação pedagógica por meio da implementação de currículo integrado.
Propunha-se a analisar, inicialmente, as fontes documentais sob guarda do CME,
pertencentes aos acervos do Centro Regional de Pesquisas Educacionais/CRPE, de São Paulo,
e do Colégio de Aplicação, e aquelas que compõem os arquivos doados por educadores
protagonistas dos movimentos/ experiências citadas de educação como Maria Nilde Mascellani,
Luis Contier, entre outros. Deste conjunto documental, apenas o arquivo relativo aos ginásios
vocacionais, cedido pela irde Maria Nilde Mascellani, ainda se encontrava em fase de
organização. O projeto visou finalizar a organização documental do arquivo, referenciar as
fontes do Serviço Vocacional do Estado de São Paulo e das Escolas Vocacionais (das cidades
de o Paulo, Americana, Barretos, Batatais, Rio Claro e o Caetano do Sul); da Escola
Experimental de Socorro e da Lapa, entre outras; e da Escola de Aplicação da Universidade de
o Paulo; elaborar o inventário das fontes, e proceder à análise dessas iniciativas, em particular
no que diz respeito aos projetos pedagógicos/ métodos de ensino das referidas escolas e sua
contribuição ao desenvolvimento da educação integral.
No conjunto de documentos doados, o Arquivo Pessoal da profa. Maria Nilde,
corresponde à sua vida profissional nos períodos em que atuou como orientadora pedagógica
nas duas classes experimentais instaladas no Instituto de Educação da cidade de Socorro; como
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educadora da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, participando da comissão
especial de elaboração do anteprojeto de lei para a criação dos Ginásios Vocacionais do Estado
de São Paulo; como coordenadora geral do Serviço de Ensino Vocacional (SEV), que funcionou
entre os anos de 1962 a 1969. Constam, ainda, o processo de sua aposentadoria em 1969, por
meio do Ato Institucional n. 5 (AI5), e manuscritos pessoais, pensamentos reunidos em um
diário (na forma de crônicas, cartas e poesias) que a própria autora nomeou de Crônicas do
Cárcere”, escrito no período que esteve presa (no DOPS- Departamento de Ordem Potica e
Social). Fazem, também, parte deste Arquivo, a documentação relativa ao período em que
prestou serviço para as Secretarias de Educação de o Paulo, Diadema e Rio Claro, na
concepção de projetos em educação popular.
Neste momento, a documentação recebeu higienização e acondicionamento
necessários e passa pelo processo de análise e classificação para elaboração de plano de
classificação. Corresponde a 32 duas caixas com, aproximadamente, 900 documentos entre
livros, periódicos, cartões postais, fitas k7 com entrevistas realizadas com ex-alunos e ex-
professores dos vocacionais, recortes de jornais, imagens, material didático produzido para
trabalhadores, cópias de documentos oficiais de diferentes unidades dos Ginásios Vocacionais
e do Serviço de Ensino Vocacional.
É importante ressaltar que foram localizados aproximadamente 800 documentos
relacionados ao ensino vocacional, cedidos por ex-professoras e diretoras das escolas,
distribuídos em diferentes arquivos que constituem o Acervo do CME: 1. Colão de
documentos da profa. Olga Bechara, período em que foi Orientadora Pedagógica do Ginásio
Vocacional de Americana, em 1962, e do Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha, entre 1963 e
1969; 2. Arquivo Pessoal do prof. Luis Contier, período em que atuou como diretor do Ginásio
Vocacional Oswaldo Aranha (1961 a 1968) e foi diretor do Serviço de Orientação Pedagógica
do Departamento de Educação do estado, promovendo a vinda de educadores franceses por
meio da Missão Francesa, e participando da elaboração do projeto das escolas experimentais;
3. Arquivo Pessoal da professora e diretora Edneth Ferrite Sanches, no período em que atuou
no Ginásio Estadual Vocacional Chanceler Raul Fernandes, instalado em 1962, na cidade de
Rio Claro (1963-1969); 4. Arquivo Institucional do Centro Regional de Pesquisas Educacionais
prof. Queiroz Filho (CRPE/SP), dentro da Divio de Aperfeiçoamento do Magistério (1963-
1969); 5. Arquivo Pessoal do prof. Laerte Ramos de Carvalho: corresponde a um doss
organizado pelo professor sobre o ensino vocacional e entrevistas com ex-funcionários do
Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha (1968); 6. Coleção de documentos doados pela professora
Dra. Angela Tamberlini, proveniente de suas pesquisas sobre o ensino vocacional no Estado de
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São Paulo, 1961-1969; 7. coleção de documentos doados pela profa. Dra. Esméria Rovai,
proveniente de suas pesquisas e do peodo em que foi professora atuando no ginásio de Batatais
e de São Paulo, 1961-1969; 8. coleção doada pela Associação dos ex-alunos dos Ginásios
Vocacionais (GVvive) que corresponde a filmes, publicações, exemplares dos projetos políticos
e pedagógicos do Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha (1961-1969); 10. coleção
Experimentações Pedagógicas, documentos provenientes do antigo serviço de documentação
da Biblioteca da FEUSP (1966-1969); 11. coleção de Teses e Dissertações sobre o ensino
vocacional defendidas, na própria Faculdade de Educação da USP, na Unicamp e PUC/SP
(1986-2011).
O desenvolvimento da pesquisa, a cargo das professoras pesquisadoras do CME-
FEUSP, Carmen Moraes e Doris Accioly e Silva, e da professora Angela Maciel de Barros
Tamberlini, da Universidade Federal Fluminense, contou, na época, com diferentes bolsistas
para o trabalho de organização, tratamento e análise das fontes, como Iomar Barbosa Zaia (pós-
doutoranda, bolsa FAPESP), Ronnie de Almeida Alves, (Bolsa PIBIB/CNPq 2014-2016), a
doutoranda Leticia Vieira (bolsa CNPq 2016- 2018), e, atualmente, Millena Franco (bolsa IC-
2018-2020 e bolsa Mestrado, CNPq (2021 2023).
Desde o início, o benecio da participação voluntária de ex-professores e ex-alunos
dessas escolas estudadas, como é o caso, entre outros, de Maria Claudia do Nascimento, aluna
da turma de 1962 da Escola Experimental de Socorro e de Luiz Carlos Marques, aluno da turma
de 1963 do Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha, e coordenador do GVive, associação de
amigos para a preservação da Memória das Escolas Vocacionais.
No plano da cooperação internacional, além do Professor Pere Solà Gussinyer, há a
colaboração da profa. Teresa Medina, da Universidade do Porto, com quem mantemos
igualmente relações de intercâmbio de pesquisa no campo das relações educação e trabalho
(educação de trabalhadores, educação de adultos e educação profissional, em perspectiva
histórica e sociológica) e, tendo participado, a convite da Linha de Pesquisa “Trabalho,
educação e movimentos sociais”, da Área de Concentração “Estado, Sociedade e
Educação”/ACESE, de atividades do Programa de s-Graduação da FEUSP, em 2017.
O contato com a documentação e os primeiros ensaios interpretativos propiciaram
alguns resultados iniciais: participação no IX Congresso Luso-Brasileiro de História da
Educação, em julho de 2012, com a apresentação do artigo elaborado por Moraes, Tamberlini
e Zaia, publicado nos Anais do evento, Os Ginásios Vocacionais do Estado de São Paulo:
Reconstruindo a História por meio de fontes primárias e secundárias que se complementam; e
a organização e apresentação da edição da tese de doutorado da Professora Maria Nilde
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Mascelllani, coordenadora do Serviço Vocacional, na forma de livro: “Uma pedagogia para o
trabalhador. O ensino vocacional como base para uma proposta pedagógica de capacitação
profissional de trabalhadores desempregados. O Programa Integrar CNM/CUT”13. O livro,
organizado pelo Centro de Memória da Educação da FEUSP em parceria com a entidade
Intercâmbio, Informação, Estudos e Pesquisas/IIEP, de São Paulo, é apresentado pela profa.
Carmen Moraes e pela professora Cecília Guaraná (ex-diretora do Ginásio Vocacional de
Americana), e foi publicado pela Editora Núcleo Piratininga de Comunicação/NPC (Rio de
Janeiro).
A construção do inventário dessas duas propostas educacionais Escolas Modernas e
Ginásios Vocacionais - que se contrapunham aos modelos hegemônicos de escolarização têm
possibilitado a discussão das formas de apropriação de estratégias educativas que circulavam
na sociedade brasileira, tanto no âmbito dos governos quanto no de grupos de trabalhadores, no
movimento operário e sindical, contribuindo para restituir à história educacional do período a
dimensão das disputas em torno de projetos pedagógicos diferenciados e a mobilização de
dispositivos que serviram a uma pluralidade de propósitos distintos e/ou antagônicos.
Em resumo, os levantamentos e análises realizados até agora permitem, em recorte
parcial e inicial, apreender as estratégias educativas anarquistas e as do Ensino Vocacional com
o objetivo de apontar a relevância do conjunto dessas experiências e indicar relações de
continuidade entre elas como formas escolares concorrentes àquelas que predominaram na
chamada “escola republicana”, definida pelas poticas governamentais de educação no Brasil.
Essas e outras hipóteses. problematizadas no decorrer da pesquisa em desenvolvimento, foram
apresentadas nas VII Jornadas Cientificas de la SEPHE e V Simpósio Iberoamericano:
Historia, Educação, Patrimônio Educativo, realizada em San Sebastián, País Basco, Espanha,
em 2016, e publicadas em livro organizado pelos professores P. Dávila e L. Naya, da
Universidad del País Vasco14.
Ao longo desses anos outras pesquisas foram organizadas pelos pesquisadores do
Centro de Memória da Educação, dando oportunidade para alunos de graduação e pós-
graduação desenvolverem materiais e tecnologias. Entre eles, o projeto que recebeu o nome de
13 MASCELLANI, M.N. Uma pedagogia para o trabalhador. O Ensino Vocacional como base para uma proposta
pedagógica de capacitação profissional de trabalhadores desempregados. O Programa Integrar CNM/CUT. Org. e
Apresentação, MORAES, C.S.V. Ed. SP: IIEP e RJ: Editora Nucleo Piratininga de Comunicação/NPC, 2010, v.
1, 279 p.
14 MORAES, Carmen S. V., ACCIOLY E SILVA, D. Estratégias educativas de trabalhadores e para trabalhadores
no Brasil. Um estudo comparativo: a Escola Moderna nº 1 e os Ginásios Vocacionais Noturnos. In: DÁVILA, P.;
NAYA, L. M. (Org.). Espacios y patrimônio histórico-educativo. 1ed.Donostia: Universidad del País Vasco e
Museo de la Educacion de la UPV/Erein, 2016, p. 277-292.
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Kit do Centro de Memória.15 Esse material tem como finalidade sensibilizar a comunidade
escolar para a necessidade de guarda e preservação dos materiais depositados nos arquivos
mortos das escolas e que se mostram significativos para a compreensão do funcionamento da
instituição de ensino e de suas práticas pedagógicas16.
Cabe destacar também, pela importância e repercussões alcançadas, o projeto “Material
didático para a preservação do patrimônio público documental paulista: kit do Centro de
Memória da Educação da Faculdade de Educação da USP”. Por meio desse projeto, financiado
pela FAPESP (2011-2013), coordenado pela Prof. Dra. Maria Cecília Cortez Christiano de
Souza e pela historiadora e arquivista Iomar Barbosa Zaia. Foram visitadas 182 escolas públicas
mais antigas do estado de o Paulo. A proposta não objetivou dessa vez a realização de uma
intervenção imediata, mas sim, a partir da análise dos dados levantados nas visitas, diagnosticar
prioridades de intervenção. Como prioridades, considerou-se, em cada escola, a quantidade e
qualidade de material acumulado e a fragilidade de seu suporte. Para tanto, foram levadas em
consideração observações quanto ao edicio escolar, seu arquivo permanente e histórico, seu
mobiliário, utensílios pedagógicos, sua biblioteca e/ou os livros que porventura ainda estejam
nos espaços da instituição de ensino, entrevistas com antigos professores e funcionários.
Em 2011, existiam no Estado de São Paulo 5.50217 escolas públicas estaduais, muitas
ainda ocupando prédios originais das últimas décadas do século XIX e início do XX, em sua
grande maioria, localizadas em cidades do interior do Estado de São Paulo. O projeto elegeu
182 escolas instaladas entre 1890 e 1942. Além disso, foram incluídas as Diretorias Regionais
de Ensino, pela sua significativa importância na guarda e recolhimento de documentos e peças
de antigas escolas públicas. Sobretudo depois da municipalização do ensino, as então
Delegacias passaram a guardar em seus arquivos e depenncias muitos documentos e peças
de antigas escolas. O mobiliário impressiona pela riqueza e quantidade cadeiras, armários,
15 Trata-se de material, elaborado por Iomar Zaia, que rne um jogo educativo O Arquivo Perdido; uma Revista
em Quadrinhos Em busca da memória escolar e um manual de procedimentos básicos com dicas para a
conservação preventiva do arquivo da escola, chamado de O acervo escolar: organização e cuidados básicos.
16 . MORAES, Carmen S. V., SOUZA, Maria Cecília C. de, ZAIA, Iomar B. As políticas públicas de preservação
da memória educacional e a contribuição da Universidade. Texto apresentado no IX Congresso Iberoamericano
de História da Educação Latino-Americana, novembro/2009. MORAES, Carmen S. V., SOUZA, Maria Cecília C.
de, ZAIA, Iomar B. A contribuição da Universidade para a preservação da memória educacional. In. Revista de
História. Dossiê Ensino de História. São Paulo: Departamento de História/FFLCH-USP, n. 164, p.373-391, jan-
jun. 2011.
17Informação fornecida via e-mail pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, Coordenadoria de Ensino
da Região Metropolitana da Grande São Paulo (COGSP), Coordenadoria de Ensino do Interior (CEI). Em 2016,
apesar da resistência do movimento estudantil, o governo fechou 3. 537 classes de ensino fundamental e 2. 444
classes de ensino médio, promovendo uma espécie de “reorganização silenciosa” na rede estadual (Cássio,
Crochik, Di Pierro, Stoco, 2016, p.1089 -1119).
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mesas, escrivaninhas, quadros e relógios. Retirados das escolas, atualmente decoram as salas e
os corredores de diversas Diretorias Regionais.
A repercussão do projeto motivou o desenvolvimento de relações entre o CME com
órgãos do estado relacionados com a educação e com arquivos históricos, motivando novos
projetos e parcerias promissores. Além disso, Margarida Felgueiras, da Faculdade de Psicologia
e Ciências da Educação do Porto, interessou-se em realizar convênio com o CME para a
adaptação dos materiais do “Kit nas escolas portuguesas.
A maior aproximação com os órgãos públicos fez-nos acreditar, inicialmente, que
poderíamos, em conjunto com as colegas de outras universidades paulistas, avançar na
construção de medidas que contribuíssem para a superação do maior obstáculo, que persiste
ainda hoje, o da ausência de uma legislação que regulamente a guarda das fontes documentais
nas instituições educacionais, situação que como foi mencionado - vínhamos denunciando de
modo recorrente. Uma das iniciativas mais urgentes e promissoras, e que seria o primeiro passo
para criar uma normatização do descarte e conservação dos documentos escolares, foi a de
constituir uma comissão constituída por representantes do Arquivo do Estado, Secretaria
Estadual da Educação, Centro de Referência do Professor Mário Covas, e Centros de Memória
das diferentes universidades públicas e particulares paulistas para a elaboração de uma Tabela
de Temporalidade, indispensável para a constituição dos acervos documentais educacionais.
No entanto, após a realização de algumas reuniões, a mudança do Secretário de Educação
(morte de Paulo Renato Souza e sua substituição por Maria Helena Castro) levou à interrupção
e suspensão dos trabalhos.
A respeito das dificuldades da situação e sobre a urgência da organização de uma
política pública de guarda documental, além de depoimentos à imprensa, ao jornal O Estado de
São Paulo, a equipe do CME escreveu artigos em revistas e livros, e tivemos a oportunidade de
debater em fóruns acadêmicos, como o IX Congresso Iberoamericano de História da Educação
Latino-Americana CIHELA em 2009 e o XII Encuentro Internacional de História de la
Educación, organizado pela Sociedade Mexicana de História da Educação, em 201018.
18 A esse respeito, ver MORAES, Carmen S. V. e ZAIA, Iomar B. . Arquivos escolares e pesquisa histórica: novas
fontes para o estudo do ensino técnico no Estado de São Paulo. In: NASCIMENTO, A; CHAMON, Carla S. (Org.).
Arquivos e História do Ensino Técnico no Brasil. 1ed.Belo Horizonte: Mazza Edições, 2013, v. 1, p. 47-73;
SOUZA, M. C. C. C. ; MORAES, CSV; ZAIA, I. B. A contribuição da universidade para a preservação da
memória educacional. Revista de Historia (USP), v. 0, p. 373-391, 2011. O Estado de São Paulo, 22/09/ 2008, p.
C8: A história das escolas públicas em risco, por Maria Rehder.
ISSN 2447-746X
Ridphe_R
DOI: 10.20888/ridpher.v7i00.16068
21
Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 7, p. 1-33, e021037, 2021.
O ACERVO DOCUMENTAL DO CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO: UMA RÁPIDA
APRESENTAÇÃO
Na Faculdade de Educação, entre o período de 1975 e 1989, os documentos que não
mais possuíam valor administrativo corrente ou que eram produto de pesquisas realizadas por
docentes da instituição ficaram sob guarda do serviço de documentação da Biblioteca da
FEUSP. Desativado esse serviço (1987), todos os seus documentos foram doados pelos
funcionários da Biblioteca, em 1994, ao recém-criado Centro de Memória da Educação/CME-
FEUSP. Incluem-se nesse conjunto documental, por exemplo, as fontes acumuladas pelo
Centro Regional de Pesquisas Educacionais (1956-1975) e coleções doadas por professores,
como os arquivos Luiz Contier, Jay Arruda Piza, República Brasileira: 1950-1980, Laerte
Ramos de Carvalho e Secretaria Municipal de Educação: 1970-1990.
Em 2005, o CME acolheu o Acervo do educador anarquista João Penteado (1877-1965)
e, em 2008, o de Maria Nilde Mascellani sobre as escolas vocacionais. Recentemente, em 2021,
recebeu a doação dos documentos pertencentes ao arquivo pessoal do prof. Celso de Rui
Beisiegel.
Ao longo de seus 30 anos de atividade, o CME recebeu documentos provenientes da
elaboração de teses e dissertações por professores da Faculdade de Educação e por alunos do
programa de pós-graduação, como o arquivo das Escolas Experimentais (1954-1997).
A partir de 1998, o CME/FEUSP começou a organizar sua massa documental com
base nos princípios arquivísticos para conservação e guarda. O Centro de Memória da
Educação/FEUSP conta hoje com, aproximadamente, 167.426 documentos. Podemos
classificar a documentação acumulada como Arquivos Pessoais, Arquivos institucionais,
Coleções provenientes de pesquisa e Coleções simples. Este último conjunto documental
integra coleções formadas a partir da reunião de documentos de uma mesma tipologia
documental, tais como: cadernos de alunos, diários de professores, relatórios, planos de
atividades etc.
Com o passar dos anos, atualizações de técnicas arquivísticas foram fundamentais para
o aprofundamento do trabalho com a variedade documental no seu espaço. Com o início das
atividades de organização e divulgação, novas doações foram sendo realizadas duplicando seu
acervo.
ARQUIVOS INSTITUCIONAIS