
ISSN 2447-746X Ridphe_R
DOI: 10.20888/ridpher.v7i00.15922
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Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 7, p. 1-62, e021008, 2021.
religioso conhecido também como a “Casa do Arco-íris -”, em deferência ao Nkici Hongolo
, santo
de Mãe Dango, divindade banta que corresponderia a Oxumaré na cosmogonia nagô. Há mais de
três décadas, ela é defensora e referência do chamado candomblé Angola, em Hortolândia, na
Região Metropolitana de Campinas. Essa prática religiosa de matriz banto, originalmente os
primeiros africanos a chegarem no Brasil, se distingue do candomblé Keto, de origem Yorubá, hoje
dominante no Brasil entre os praticantes candomblecistas. Mesmo nesse cenário, a prática do
candomblé Angola se disseminou em Campinas e região e ocupa lugar de destaque no horizonte
religioso e de resistência da cultura africana. Mãe Dango é, assim, uma das vozes mais importantes
dessa vertente e também uma reconhecida liderança comunitária, política e sua figura, nos eventos
que organiza e participa, agrega outras manifestações locais da cultura afro-brasileira.
Buscou-se, assim, construir uma narrativa audiovisual que, primeiramente, pudesse
oferecer visibilidade sobre esse tipo específico de candomblé, sobrevivente da diáspora, inscrito na
região de Campinas, que possui força religiosa, estética, cultural e política e é ainda pouco
(re)conhecido. Para isso, a recuperação dessa memória e, principalmente, o encontro entre a câmera
e Mãe Dango foi fundamental para o estabelecimento de uma partilha, via imagem, de
conhecimentos e formas de resistência da população negra de Campinas e seu entorno.
Consequentemente, imaginou-se a constituição de um ponto de vista que relacionasse essa cidade,
tradicionalmente vinculada à imigração europeia, aos negros que inscreveram e continuam a
realizar práticas culturais fundamentais para sua formação cultural.
Nos vários ciclos econômicos de Campinas (cana-de-açúcar, café, industrialização etc.), a
mão de obra migrante determinou a formação da classe trabalhadora. Nesse conjunto,
primeiramente os escravos de origem africana e seguidas levas de deslocamentos internos e de
estrangeiros foram necessários para construírem as riquezas da cidade. O interesse desse
documentário residiu em destacar aspectos particulares da cultura afro-brasileira desenvolvidos
nesse entorno urbano. Essa presença edificou um traçado cultural com manifestações culturais
originais e diversificadas como o samba de bumbo, vertente do samba rural paulista, o jongo, a
capoeira, as folias de reis etc. Em diálogo com a cultura popular, religiões de matriz africana
Nkices ou inquices são divindades africanas, trazidas e cultuadas pelos bantos que aqui chegaram já no século XVI
do período colonial. Outras divindades trazidas por africanos e cultuadas em terreiros são os orixás e os voduns.