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Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 7, p. 1-16, e021007, 2021.
QUEIMARAM NOSSA CASA NA JURÉIA!
Paulo Cesar Franco
Associação dos Jovens da Juréia (AJJ), Brasil.
pcfranco15@gmail.com
RESUMO
Este texto é uma narrativa a respeito das diferentes faces da atuação do poder colonial sobre as
comunidades tradicionais caiçaras da Juréia, Iguape, litoral sul do Estado de São Paulo. Instalado
no Brasil sob o pretexto da cristandade, o colonialismo perpassou os séculos e floresceu com vigor
na década de 1950 nas comunidades caiçaras sob a ação violenta das grilagens empreendidas pelos
especuladores imobilrios que usavam capangas a cavalo para intimidar os nativos e queimar suas
casas. No início dos anos de 1980, a roupagem colonialista se utilizou da estratégia militar para
acossar os caiçaras em seus territórios através da ameaça da implantação das usinas nucleares,
Angra 3 e 4 pela empresa Nuclebrás, convênio Brasil- Alemanha. A partir de meados de 1986 é
decretada a Estação Ecológica da Juréia sobre o Terririo Caiçara de onde expulsou, pelo cansaço,
dezenas de famílias para as periferias das cidades do Vale do Ribeira e Baixada Santista. As
queimadas das casas dos caiçaras pelos especuladores de terras não acabaram, atualmente a
Fundação Florestal continuidade na logística colonizadora destruindo as casas dos moradores
nativos da Juréia (Rio Verde e Grajaúna) e dissemina a narrativa de que essas populações o são
tradicionais. Enfim, mudou-se o forro do sofá, mas a estrutura colonial continua a mesma!
Palavras-chave: Comunidades caiçaras. Juréia (São Paulo). Colonialidade.
Para mim, tem sido sempre um mistério o fato de alguns homens se
sentirem gratificados pela humilhação de seus semelhantes (GANDHI).
INTRODUÇÃO
As comunidades tradicionais caiçaras do Grajaúna e Rio Verde estão situadas no município
de Iguape, na região do Vale do Ribeira, litoral sul do Estado de São Paulo. São populações nativas
que habitam o Terririo Caiçara, espaço litorâneo que se estende do Estado do Paraná até o Estado
do Rio de Janeiro. Nessa faixa, a partir do século XVI, começou a ser gestado o povo caiçara. O
encontro do invasor europeu com o indígena e posteriormente com o negro deu origem ao brasileiro
caiçara, pois conforme Ribeiro surgimos da confluência, do entrechoque e do caldeamento do
invasor português com índios silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e outros
aliciados como escravos” (RIBEIRO, 1995, p. 19).
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A partir do século XVII, por meio do rio Ribeira de Iguape, os colonizadores foram
adentrando mais planejadamente para o interior do continente em busca de ouro de aluvião que
eram encontrados nas margens dos rios. Em 1630 foi instalada em Iguape a Casa da Oficina Real
de Fundição de Ouro, onde foi fundido o primeiro ouro de aluvião em terras brasileiras (PEREIRA
JUNIOR, 2005, p. 26). Esse período, que ficou registrado na história de Iguape como o primeiro
ciclo econômico, atraiu parte da população, que realizava serviços ligados à extração do ouro,
trabalhos no porto marítimo e as primeiras construções de casas de taipas e de paredes de pedras,
para as redondezas da cidade.
O segundo ciclo econômico foi a produção do arroz que para o historiador Iguapense,
Roberto Fortes, foi
a fase econômica mais importante foi a do ciclo do arroz, que começou a
se firmar em fins do século XVIII e atingiu seu esplendor na primeira
metade do século XIX, quando capitalistas abastados ganharam
expressivos lucros com essa cultura. Nessa época, construíram-se os mais
imponentes casarões de pedra e cal que, até hoje, ornamentam a Praça da
Basílica e cercanias. (FORTES, 2000, p. 52).
Com as decadências dos ciclos econômicos, sobretudo da produção arrozeira que dispersou
os fazendeiros para outros estados, a população que dependia dos donos de engenhos foi se
deslocando para regiões afastadas do centro urbano onde encontravam terras férteis, rios com
abundância de peixes, encostas de morros e beiras de praia procias para a estabelecimento das
comunidades tradicionais caiçaras.
Conforme Diegues, os caiçaras vivendo no interstício da Mata Atlântica e do mar, estuários,
mangues, restingas e lagunas, usando seus recursos naturais para a reprodução de seu modo de
vida, construíram um terririo rico em diversidade biológica e cultural (DIEGUES, 2007, p. 17)
que permitiu a diversidade biológica e cultural do povo caiçara de modo que se consolidasse ao
longo dos séculos um modo social de organização conhecido por mutirão de fandango.
MUTIRÃO DE FANDANGO
O Mutirão de fandango, enquanto organização social, é “uma manifestação cultural popular
que reúne dança, música e possui regras estéticas definidas. Em cada localidade, entretanto,
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existem características específicas, criando assim uma realidade artística rica e variada”
(GRAMANI; PIMENTEL; CORREA, 2006, p. 21).
O mutirão de fandango começa quando o chefe de família define um corte de roça. O corte
de roça é o terreno que a família caiçara prepara para plantar a maniva da rama onde se formará
uma roça de mandioca. A família, por meio do chefe da casa, faz a derrubada das árvores usando
todo o conhecimento tradicional que é passado de geração para geração. Faz-se contato com a terra
em período de lua minguante e com o uso de uma foice derruba-se as árvores pequenas e na
sequência utiliza-se o machado para derrubar as árvores maiores. Vencido o corte da roça, ou seja,
a área a ser utilizada para o plantio da rama, todas as árvores são picadas cortadas em pedaços
bem pequenos para facilitar a queimada. Após quinze dias da derrubada é feito um aceiro em
torno da roça para o fogo o entrar na mata. Coloca-se fogo nas árvores picadas queimando as
folhas e os galhos menores restando os galhos maiores. Depois vem a coivara, ou seja, a retirada
dos galhos maiores que são depositados nas beiradas da roça para serem usados como lenha. Feito
todo o trabalho de limpeza do terreno, marca-se o mutirão para que os amigos venham ajudar no
plantio da roça.
Em pleno trabalho braçal, os cavadores vão abrindo as covas em ritmo rápido até o meio da
roça. Depois passam para o outro lado e repetem a cavação até chegar à outra extremidade onde se
conclui o trabalho.
Vários saberes são movimentados durante o processo do mutirão. Começando pela cavação,
a enxada usada para fazer as covas é diferente da que se usa para carpir. A enxada de carpir pode
ter os cantos (extremidade da enxada), ser pequena e o cabo além de ser mais longo pode ter uma
inclinação mais aguda. a enxada para cavar é preciso ser grande, sem cantos e com inclinação
mais leve. Esses detalhes, que parecem desprezíveis, são fundamentais na hora do trabalho. No
momento da cavação, por exemplo, a ausência dos cantos na enxada evita que o cavador machuque
seu companheiro no caso de a enxada bater numa raiz e ser desviada para o lado e atingir a perna
do parceiro.
Além dos saberes que se observam na cavação, também é possível verificar os saberes no
ato de plantar as manivas das ramas. Elas são pedaços da rama da mandioca são fincadas nas covas
onde brotam, mas para isso é necessário que sejam fincadas de “olho para cima”, ou seja, com a
ponta para terra e nunca o contrário senão não brotação. No final da tarde a roça se encontra
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cultivada completamente. O retorno para a casa do chefe de família é sempre com satisfação e
alegria pelo serviço realizado (FRANCO, 2015, p. 75).
Até meados da década de 1980, em algumas comunidades tradicionais, como era o caso da
Cachoeira do Guilherme, região conhecida por “Coração da Juréia” (MELO, 2000, p. 04), antes de
iniciar o baile de fandango pelo der falecido, Sátiro Tavares, era realizava a reza do mês, quando
as pessoas eram curadas com o uso de remédios obtidos das ervas medicinais da Mata Atlântica.
À noite acontecia o baile de fandango propriamente dito. Os violeiros tocavam e cantavam
as modas que falavam do cotidiano caiçara. As crianças aprendiam com os mestres o manuseio dos
instrumentos musicais que eram a viola fandangueira e a rabeca. As mulheres aguardavam no
banco o convite dos cavalheiros para irem dançar no meio do salão. Na cozinha, uma equipe
preparava o café da madrugada com as comidas típicas que eram compartilhadas numa mesa
comum. O ritmo envolvente do fandango seguia noite adentro e chegava até o amanhecer. No
clarear do dia, o chefe de família agradecia o trabalho coletivo e alguém anunciava novo mutirão
de fandango em outra comunidade vizinha.
FIGURA 01 - Mapa de localização da comunidade do Grajaúna e Rio Verde.
Fonte: Heber do Prado Carneiro.
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O mutirão de fandango, que ocorria com frequência nas comunidades tradicionais caiçaras
da Juréia, reduziu-se atualmente às comunidades do Grajaúna e Rio Verde, onde ainda exerce um
papel de educação popular potente, pois como salienta Brandão:
O saber da comunidade, aquilo que todos conhecem de algum modo; o saber
próprio dos homens e das mulheres, de crianças, adolescentes, jovens, adultos e
velhos; o saber de guerreiros e esposas; o saber que faz o artesão. [...] Os que
sabem: fazem, ensinam, vigiam, incentivam, demonstram, corrigem, punem e
premiam. Os que o sabem espiam, na vida que no cotidiano, o saber que ali
existe, vêem fazer e imitam, são instruídos com o exemplo, incentivados,
treinados, corrigidos, punidos, premiados e, enfim, aos poucos aceitos entre os
que sabem fazer e ensinar, com o próprio exercício vivo de fazer. (BRANDÃO,
2007, p. 22).
O modo de vida caiçara fundamentado no mutirão de fandango perdurou com vivacidade
até meados da década de 1980, período que teve início na região da Juréia as investidas das
Unidades de Conservação da Natureza que se impuseram com pautas voltadas às poticas
ambientais de cunho racista.
Para efeito de conhecimento do período cronológico das comunidades caiçaras, Sanches
divide em quatros momentos intituladas de tempos. A saber: “O Tempo dos Antigos”, “O Tempo
da Caxeta ou o Tempo do Palmito”, O Tempo da Nuclebrás” e o Tempo da Ecologia”
(SANCHES, 2004, p. 59).
O TEMPO DOS ANTIGOS
A partir de meados da década de 1950, período caraterizado por Tempo dos Antigos, baixou
uma legião de grileiros na Juréia, Iguape/SP, com objetivo de açambarcar terras de caiçaras para
transformá-las em balneários especulativos. A maioria das famílias tradicionais foram timas
desse ímpeto capitalista que chegou com o empresariado interessado nas terras litorâneas para
obtenção do lucro fácil. Os doutores da cidade levavam o cartório nas casas dos caiçaras e
ludibriavam os anciãos que borravam o dedo na “almofadinha” onde consolidavam o ritual do
preto no branco” passando aos grileiros as suas terras a preço de banana. Grande parte das famílias
caiçaras nunca receberam qualquer valor em dinheiro nesse processo violento de açambarcamento
especulativo do território caiçara.
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Meus pais foram timas desses grileiros que chegaram imponentes, bem vestidos e com
olhares de poder. O tempo foi breve para lançarem fogo na casa de meus pais. Começaram pelo
telhado de palha que rapidamente se alastrou pela moradia inteira. Em pouco tempo o lar deles
havia se tornado cinza. Tudo foi queimado em nome do lucro, da especulação, da ganância do
capital. “Do terreiro da nossa casa, eu enxergava minhas roupinhas arderem em meio as chamas
que devoravam nossa morada. É uma lembrança terrível daquele tempo de adolescente. Nós
seguimos desorientados para casa de parentes que nos acolheram” (PUPP, 2021). A pergunta era:
Para onde ir? A quem recorrer? Como superar a angústia da violência sofrida?
FIGURA 02 - Ilustração sobre três momentos históricos: Tempo da especulação imobiliária
(grilagens de terras); Tempo da Nuclebrás (ditadura militar) e Tempo da ecologia
(derrubadas das casas caiçaras).
Fonte: Wanderlei Ribeiro (DECO).
Partiram para longe, em busca de amparo nas casas de parentes no interior da Juréia. De
casa em casa, buscando um lugar para se estabelecer, não bastasse a violência sofrida pelos
especuladores, meus pais continuaram sofrendo devido ao falecimento de minha irmã de três anos
que se acidentou no fogo à lenha. Ela sofreu queimadura profunda e foi levada para um hospital na
cidade de Santos onde meus pais não tinham condições de acompanhá-la. Por lá, possivelmente
minha irmã foi sepultada como indigente! Suportar a perda de um lar e a perda de um ente querido
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fez dos corações de meus pais um território de sentimentos silenciados, calados! Este meu escrito
é, em parte, uma tentativa de desenterrar um grito calado de minha e, um suspiro abafado de
meu pai e uma angústia sem espaço para as vozes de meus irmãos...
Eu nasci na Juréia no ano 1973, período que meus pais haviam voltado para o território de
origem e estavam se reestabelecendo da rasteira sofrida pela grilagem que havia queimado a nossa
casa. Passado um tempo, começou a chegar a notícia da Usina Nuclear. Nova insegurança começou
a rondar o território caiçara. Iniciava-se uma nova onda de restrições, indefinições e medo... Com
os debates para implantação da Usina Nuclear na Juia apareceram os pseudo ambientalistas. Estes
foram e continuam sendo os piores açambarcadores dos caiçaras da Juréia, pois grande parte deles
continua encastelado no governo paulista e em instituições que defendem a superada ideia de
preservação da “natureza sem gente”.
Os ambientalistas chegaram sorrateiramente nas casas dos caiçaras pedindo cafezinho com
bolo de chuva. Entrevistavam os mais velhos e usavam o conhecimento tradicional para embasar
pesquisas científicas, mas não contemplavam o saber cultural como elemento integrante do
território tradicional. “Batiam nas costas dos caiçaras e pregavam a falaciosa retórica de que a
Juréia seria um Santuário Ecológico onde os caiçaras voltariam a viver em harmonia com a
natureza” (PRADO, 2020). Através dos sofismos distribuíam santinhos do Bom Jesus de Iguape
para convencer os nativos no processo de apoio ao movimento ambientalista que, ao longo dos
anos, se transformou num racismo ambiental
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que até hoje oprime e destrói as casas das famílias
tradicionais do Rio Verde e Grajna.
TEMPO DA ECOLOGIA
Com a implantação da Estação Ecológica da Juréia, em 1986, o Terririo Caiçara da Juréia
foi sobreposto por um modelo de Unidade de Conservação que expulsou centenas de famílias
tradicionais para as periferias das cidades do Vale do Ribeira e Baixada Santista causando a
definitiva perda da identidade dos mestres artesãos fandangueiros que herdaram saberes de
experiências de seus ancestrais. A narrativa de que os caiçaras viveriam num Santuário Ecológico
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Moradias foram demolidas em julho de 2019 pela Fundação Florestal de São Paulo, gestora de unidade de
conservação criada sobre território tradicional de comunidades caiçaras. Disponível em:
<https://www.socioambiental.org/pt-br/tags/Juréia>. Acesso em: 06/10/2021.
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serviu bem como uma narrativa persuasiva veiculada pelos emergentes pseudo ambientalistas do
capital.
A Estação Ecológica mais uma vez expatriou meus pais do Terririo Caiçara da Juréia.
Dessa vez eu estava junto e tinha 12 anos de idade. Fomos aos poucos silenciados em nosso próprio
lugar. Primeiro proibiram a nossa roça de mandioca, depois dificultaram a limpeza das trilhas, mais
tarde impediram a reforma das nossas casas e, por último, disseram que nós éramos estorvos e que
deveríamos deixar nossa casa novamente, pois eles iriam preservar a Mata Atlântica. Chegava o
tão odiado Tempo da Ecologia!
Até aqui dediquei-me ao registro de minha história de caiçara dentro da Juréia. Fiz isso com
objetivo de contextualizar minha experiência enquanto ser tradicional que ouviu de meus pais e
parentes e viveu a opressão dos poderosos, sob o uso de diferentes estratégias, para impedir que
vivêssemos em nosso território de origem, em nosso habitat natural. Por essa razão me reportei ao
título desse artigo intitulando-o “TESTEMUNHO: QUEIMARAM NOSSA CASA NA JURÉIA!
A colonização é semelhante a reforma de um sofá: muda-se o forro, mas a estrutura permanece e
mesma!”.
O processo da queima da casa dos meus pais na Juréia ainda não acabou. Continua
existindo... Por outros meios, os ambarcadores de caiçaras continuam desabitando,
COLONIZANDO os moradores tradicionais.
Em 2019, conforme foi amplamente divulgada pela mídia alternativa, pois a mídia “oficial”
está a serviço do poder, assistiu-se a criminosa destruição das casas dos moradores das
comunidades tradicionais do rio Verde e Grajaúna. Os casais Heber e Vanessa, Marcos e Daiane
tiveram suas casas friamente, e sem ordem judicial, destruídas pela Fundação Florestal que utilizou
a pocia para amparar a colonização em vez de proteger as famílias. Eles querem expulsar os
caiçaras para capitalizar o mar, a praia, a mata, a flora, a fauna. Eles fazem isso com o ímpeto
opressor dos colonizadores do século XVI. Eles fazem isso com os olhares dos grileiros da década
de 1950 que enxergavam no território caiçara a possibilidade do lucro. Eles fazem isso com os
olhares dos ditadores militares que viam na Juréia a possibilidade da implantação das usinas
nucleares. Hoje, eles continuam olhando para a Juréia com o ímpeto da privatização, da
possibilidade de empresas de seus interesses explorarem as essências do território que o caiçara
sempre preservou.