ISSN 2447-746X Ridphe_R
DOI: 10.20888/ridpher.v7i00.15546
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Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 7, p. 1-16, e021007, 2021.
O mutirão de fandango, que ocorria com frequência nas comunidades tradicionais caiçaras
da Juréia, reduziu-se atualmente às comunidades do Grajaúna e Rio Verde, onde ainda exerce um
papel de educação popular potente, pois como salienta Brandão:
O saber da comunidade, aquilo que todos conhecem de algum modo; o saber
próprio dos homens e das mulheres, de crianças, adolescentes, jovens, adultos e
velhos; o saber de guerreiros e esposas; o saber que faz o artesão. [...] Os que
sabem: fazem, ensinam, vigiam, incentivam, demonstram, corrigem, punem e
premiam. Os que não sabem espiam, na vida que há no cotidiano, o saber que ali
existe, vêem fazer e imitam, são instruídos com o exemplo, incentivados,
treinados, corrigidos, punidos, premiados e, enfim, aos poucos aceitos entre os
que sabem fazer e ensinar, com o próprio exercício vivo de fazer. (BRANDÃO,
2007, p. 22).
O modo de vida caiçara fundamentado no mutirão de fandango perdurou com vivacidade
até meados da década de 1980, período que teve início na região da Juréia as investidas das
Unidades de Conservação da Natureza que se impuseram com pautas voltadas às políticas
ambientais de cunho racista.
Para efeito de conhecimento do período cronológico das comunidades caiçaras, Sanches
divide em quatros momentos intituladas de tempos. A saber: “O Tempo dos Antigos”, “O Tempo
da Caxeta ou o Tempo do Palmito”, “O Tempo da Nuclebrás” e o “Tempo da Ecologia”
(SANCHES, 2004, p. 59).
O TEMPO DOS ANTIGOS
A partir de meados da década de 1950, período caraterizado por Tempo dos Antigos, baixou
uma legião de grileiros na Juréia, Iguape/SP, com objetivo de açambarcar terras de caiçaras para
transformá-las em balneários especulativos. A maioria das famílias tradicionais foram vítimas
desse ímpeto capitalista que chegou com o empresariado interessado nas terras litorâneas para
obtenção do lucro fácil. Os doutores da cidade levavam o cartório nas casas dos caiçaras e
ludibriavam os anciãos que borravam o dedo na “almofadinha” onde consolidavam o ritual do
“preto no branco” passando aos grileiros as suas terras a preço de banana. Grande parte das famílias
caiçaras nunca receberam qualquer valor em dinheiro nesse processo violento de açambarcamento
especulativo do território caiçara.