formidável de inspiração, uma arma cultural no combate presente (BENJAMN, 1991; LÖWY,
2005).
Segundo Benjamin,
O passado traz consigo um índice secreto que o impele à redenção. Pois não
somos tocados por um sopro do ar que envolveu nossos antepassados? Não
existem, nas vozes a que agora damos ouvidos, ecos de vozes que
emudeceram? (...) Se assim é, então existe um encontro secreto marcado entre
as gerações precedentes e a nossa. Então, alguém na terra esteve à nossa
espera. Se assim é, foi-nos concedida, como a cada geração anterior à nossa,
uma frágil força messiânica para a qual o passado dirige um apelo. Esse apelo
não poder ser rejeitado impunimente. O materialista histórico sabe disso (Tese
II) (BENJAMIN, 2005, p. 242).
Ao tempo do progresso, “feito à imagem e semelhança do espaço”, reduzido a uma linha
“absoluta, infinita”, Benjamin opõe o tempo da memória, da “rememoração orgânica”, que não
é homogêneo, mas que tem “plenos e vazios” (PÉGUY, C., apud LÖWY, 2005, p. 131). Como
observa Dosse (1998, p. 5), é no interior mesmo desta fratura, desta descontinuidade “que nasce
uma nova consciência historiográfica sobre a base de uma problematização possível da
memória pela história e da história pela memória”.
Nas teses de Benjamin aparecem duas preocupações inerentes ao ofício do historiador,
a questão da subjetividade e da memória na construção do conhecimento histórico. Na tese
XVII, ele afirma que a rememoração tem por tarefa a construção de constelações que ligam o
presente ao passado. Essas constelações, esses momentos arrancados da continuidade histórica
vazia, são “mônadas”, ou seja, “são concentrados da totalidade histórica saturada de tensões”.
Esses momentos constituem uma chance irruptiva, revolucionária, no combate – hoje – ao
passado oprimido, mas também, sem dúvida, ao presente oprimido.
É assim que Benjamin passa do tempo da necessidade para o “tempo dos possíveis”,
uma concepção do processo histórico que dá acesso a um vertiginoso campo dos possíveis
(DOSSE, 1998, p. 5), sendo as condições objetivas essas condições de possibilidade. E o que
significaria, hoje, essa “abertura da história”?
Para M. Löwy (2005, p. 150), no plano cognitivo,
[...] ela ilumina um novo horizonte de reflexão: a busca de uma racionalidade
dialética que, quebrando o espelho liso da temporalidade uniforme, recusa as
armadilhas da ‘previsão científica’ de gênero positivista e leva em conta o
clinamen rico de novidades, o kairos cheio de oportunidades estratégicas.
E, do ponto de vista político, a concepção aberta da história como práxis humana não
incita necessariamente o otimismo, considera a possibilidade da catástrofe, por um lado, e de