Patrimonialização do caos: as ruínas da bahia de todos os santos
PDF

Como Citar

WAN-DALL JÚNIOR, O. A. Patrimonialização do caos: as ruínas da bahia de todos os santos. Proa: Revista de Antropologia e Arte, Campinas, SP, v. 7, n. 1, 2017. DOI: 10.20396/proa.v7i1.16525. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/proa/article/view/16525. Acesso em: 28 mar. 2023.

Resumo

Iniciadas na Europa oitocentista, práticas de tombamento de monumentos, edificações, conjuntos arquitetônicos e centros urbanos têm sido realidade de muitas das grandes cidades ocidentais, em processos contemporâneos comumente associados à espetacularização urbana e à gentrificação.
Esses processos, que agenciam a construção e a veiculação de imagens urbanas como mercadoria na lucrativa indústria do turismo global, causam impacto não apenas na paisagem, mas também no cotidiano e na economia de uma dada cidade, região ou nação, atingindo, de modo violento, grande parte da população, sua cultura e seus modos de vida. Em três partes, este texto pretende questionar a inexorabilidade da patrimonialização urbana, detendo-se no caso da então provinciana cidade da Bahia, mas também da moderna e, agora, contemporânea Salvador. Na primeira parte, sugere-se a patrimonialização como dispositivo de controle urbano e, portanto, como prática de poder social. Na segunda,
aponta-se os principais momentos e circunstâncias da patrimonialização dessa Bahia de Todos os Santos e as forças que aí atuam enquanto política pública. Por último, situa-se insurgências e biopotências que escapam aos processos patrimoniais, encontrando, na experiência
urbana contemporânea, outras possibilidades narrativas de uma alteridade em ruínas, cuja história é, apesar de tudo, sempre sobrevivente e, justamente por isso, habitante do caos como lugar de liberdade e emancipação criativa.
Deixando suspensas questões de conservação e restauro, paralelas ao debate aqui proposto, aponta-se a importância de questionar a supervalorização do patrimônio, situando alteridades e modos de vida que escapam aos discursos e práticas preservacionistas mais tradicionais.
Faz-se, assim, uma verdadeira apologia da preservação das cidades através das próprias ruínas que advêm da patrimonialização, no intuito de realizar o paradoxal sentido biopolítico inerente às visibilidades e invisibilidades que aí se encontram.


Palavras-chave> Patrimonialização. Bahia. Ruínas.
Dispositivo. Biopotência.

https://doi.org/10.20396/proa.v7i1.16525
PDF

Referências

AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a

vida nua. Trad. Henrique Burigo. 2. ed. Belo Horizontem:

Editora UFMG, 2010. (Vol. 1)

AMADO, Jorge. Bahia de Todos-os-Santos: guia de ruas

e mistérios. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

BAHIA. Governo do Estado; BAHIATURSA. Empresa de

Turismo da Bahia. Histórico. On-line. Disponível em:

<http://www.bahiatursa.ba.gov.br/institucional/historico>.

Acesso em: 24 set. 2013.

BAHIA. Governo do Estado; IPAC. Instituto do Patrimônio

Artístico e Cultural da Bahia. Termo de Referência: Plano

de Ação Integrada do Centro Histórico de Salvador. Salvador,

BAHIA. Governo do Estado; PELOURINHO CULTURAL.

Plano de Reabilitação do Centro Antigo. On-line.

Disponível em: <http://www.pelourinho.ba.gov.br/

plano-de-reabilitacao>. Acesso em: 12 mai. 2013.

BAHIA. Governo do Estado; Secretaria de Cultura; Escritório

de Referência do Centro Antigo de Salvador; UNESCO.

Organização das Nações Unidas para a Ciência

e a Cultura. Centro Antigo de Salvador: Plano de Reabilitação

Participativo. Salvador: Secretaria de Cultura,

Fundação Pedro Calmon, 2010.

BARROS, Manoel de. Livro de pré-coisas: roteiro para

uma excursão poética no Pantanal. 5. ed. Rio de Janeiro:

Record, 2007.

BENJAMIN, Walter. Pequena história da fotografia. In:

Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura

e história da cultura. Trad. Sergio Paulo Rouanet. 7. ed.

São Paulo: Brasiliense, 1994. (Obras escolhidas, v. 1)

BRASIL. Governo Federal; BNB. Banco do Nordeste do

Brasil S. A. Prodetur: ampliando as atividades turísticas

do Nordeste. On-line. Disponível em: <http://www.bnb.

gov.br/prodetur>. Acesso em: 14 mai. 2016.

BRASIL. Governo Federal; IPHAN. Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional. Centro Histórico Salvador,

Bahia. On-line. Disponível em:

iphan.gov.br/montarDetalheConteudo.do;jsessionid=F-

D02B497213F6111E706A15E2?id=17252&-

sigla=Institucional&retorno=detalheInstitucional>.

Acesso em: 1º jun. 2013.

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. Trad. Luciano

Vieira Machado. 3. ed. São Paulo: Estação Liberdade;

UNESP, 2006.

CURY, Isabelle (Org.). Cartas patrimoniais. 3. ed. Rio de

Janeiro: IPHAN, 2004.

DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos vaga-lumes.

Trad. Vera Casa Nova e Márcia Arbex. Belo Horizonte:

Editora UFMG, 2011.

FERNANDES, Ana; SAMPAIO, Antonio Heliodorio Lima;

GOMES, Marco Aurélio A. de Filgueiras. A constituição

do urbanismo moderno na Bahia, 1900-1950: construção

institucional, formação profissional e realizações.

In: LEME, Maria Cristina da Silva (Org.). Urbanismo no

Brasil – 1985-1965. São Paulo: Studio Nobel; FAUUSP;

FUPAM, 1999.

FOUCAULT, Michel. A vida dos homens infames. In:

Estratégia, poder-saber. Org. Manoel Barros da Motta.

Trad. Vera Lúcia Avellar Ribeiro. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 2003. (Ditos e escritos, IV)

_____. Em defesa da sociedade. Trad. Mana Ermantina

Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

_____. História da sexualidade: a vontade de saber. Trad.

Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque.

Rio de Janeiro: Edições Graal: 1988. (Vol. 1)

_____. Segurança, território e população: curso dado no

Collège de France (1977-1978). Trad. Eduardo Brandão.

São Paulo: Martins Fontes, 2008.

GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias

do desejo. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.

JACQUES, Paola Berenstein. Patrimônio cultural urbano:

espetáculo contemporâneo? Revista de Urbanismo e Arquitetura,

Salvador, vol. 6, nº 1, 2003, p. 33-39.

_____. Prefácio. In: JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das cidades.

Trad. Rejane Janowitzer. Rio de Janeiro: Casa da

Palavra, 2005, p. 9-12.

JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das cidades. Trad. Rejane

Janowitzer. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005.

_____. O processo de reflexividade. Revista de Urbanismo

e Arquitetura, Salvador, vol. 6, nº 1, 2003, p. 28-31.

NEGRI, Antonio. Cinco lições sobre Império. Trad. Alba

Olmi. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Além do bem e do mal.

Ou: Prelúdio de uma filosofia do futuro. Trad. Márcio

Pugliesi. Curitiba: Hemus, 2001.

RIBEIRO, Cláudio Rezende. “Documentação necessária”

e “Guia de Ouro Preto”: Lucio Costa e Manuel Bandeira

construindo a paisagem da recordação nacional. In: Espaços

narrados: a construção dos múltiplos territórios da

língua portuguesa. São Paulo: FAU/USP, 2012. p. 137-

[CD-ROM]

SAMPAIO, Antonio Heliodorio Lima. 10 necessárias

falas: cidade, arquitetura e urbanismo. Salvador: EDUFBA,

SANT’ANNA, Marcia. A cidade-atração: patrimônio e

valorização de áreas centrais no Brasil dos anos 90. In:

SANTOS, Afonso Carlos Marques dos; KESSEL, Carlos;

GUIMARAENS, Cêça (Org.). Livro do Seminário Internacional

Museus e Cidades, vol. 1. Rio de Janeiro: Museu

Histórico Nacional, 2004.

_____. A recuperação do centro histórico de Salvador:

origens, sentidos e resultados. Revista de Urbanismo e

Arquitetura, Salvador, vol. 6, nº 1, 2003, p. 44-59.

_____. Da cidade-monumento à cidade-documento: a

norma de preservação de áreas urbanas no Brasil 1937-

Salvador: Oito Editora, 2015.

SANTOS, Afonso Carlos Marques dos; KESSEL, Carlos;

GUIMARAENS, Cêça (Org.). Livro do Seminário Internacional

Museus e Cidades, vol. 1. Rio de Janeiro: Museu

Histórico Nacional, 2004.

SIMMEL, Georg. A ruína. In: SOUZA, Jessé; ÖELZE, Berthold

(Org.). Simmel e a modernidade. Trad. Jessé Souza

et al. 2. ed. Brasília: Editora UnB, 2014.

VIEIRA, Natália Miranda. Gestão de sítios históricos: a

transformação dos valores culturais e econômicos em

programas de revitalização em áreas históricas. Recife.

Ed. Universitária da UFPE: 2008.

WAN-DALL JUNIOR, Osnildo Adão. Das narrativas literárias

de cidades: experiência urbana através do Guia

de ruas e mistérios da Bahia de Todos os Santos. 2013.

f. il. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)

– Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal

da Bahia, Salvador, 2013.

_____. Experiência da noite: narração, historiografia e

produção de cidade. In: Programa e Caderno de Resumos

do XVI ENANPUR – Desenvolvimento, Planejamento

& Insurgências: Alternativas Contemporâneas no Espaço

Urbano e Regional, Belo Horizonte, 2015, p. 279.

_____. Experiência das ruínas. Ou: em busca dos mistérios

nas ruas de Salvador. Redobra, Salvador, ano 5, n.

, 2014a, p. 139-147.

_____. Jorge Amado e as Bahias de Todos os Santos: a

cidade de Salvador através do Guia de ruas e mistérios

(1945-1986). In: FRAGA, Myriam; FONSECA, Aleilton;

HOISEL, Evelina (Org.). Jorge Amado: Bahia de Todos-

os-Santos: guia de ruas e mistérios. 1 ed. Salvador:

Casa de Palavras, 2016, p. 63-89.

_____. Jorge Amado ou as ladeiras. In: JACQUES, Paola

Berenstein et al. Salvador, cidade do século XX: a partir

das memórias de Pasqualino Romano Magnavita. Redobra,

Salvador, ano 5, n. 14, 2014b, p. 89-154.

_____. Narrativas urbanas literárias como apreensão

e produção da cidade contemporânea: uma leitura do

Guia de ruas e mistérios da Bahia de Todos os Santos.

Redobra, Salvador, ano 5, n. 14, 2014c, p. 183-199.

Creative Commons License
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

Copyright (c) 2017 PROA Revista de Antropologia e Arte

Downloads

Não há dados estatísticos.