Resumo
De onde vem a “forma livre” surgida na Pampulha e marca registrada do “talento” brasileiro para a arquitetura moderna? Raízes do Brasil, publicado alguns anos antes, antecipava uma resposta para a origem de tal talento, que aflora, mas subjaz tal a face oculta dos donos da terra, também sob as formas monumentais de Brasília. Por que retornar ao mito de origem da dita “Cidade Nova”? O da cidade planejada para uma modernização sem conflitos, de que o mitificado governo JK (1956-1961) surge como paradigma? De que valeria evocar o mito de Brasília, ex-voto da cordialidade, quando a “Cidade Nova” aparece engolida por realidade oposta, a de um país de mega-aglomerações urbanas – vísceras do inferno a céu aberto, diante das quais o ato de planejamento da Nova Capital, de JK, parece momento efêmero e de exceção? Importa retornar hoje à origem de Brasília, se for para, ao se atravessar o mito da conciliação, aí se distinguir não a exceção, mas a presença de uma estrutura de raízes coloniais cujo poder ordenador permanece.
Referências
ANDRADE, Oswald de. “Manifesto da poesia pau-brasil”, Jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 18 de março de 1924, apud AMARAL, Aracy. Tarsila, anos 20. In: SALZSTEIN, Sonia (org.), Galeria de Arte do Sesi, São Paulo: Página Viva, 1997.
ANDRADE, Oswald de. “Manifesto antropófago”, apud AMARAL, Aracy. Tarsila, anos 20. In: SALZSTEIN, Sonia (org.), Galeria de Arte do Sesi. São Paulo: Página Viva, 1997.
AQUINO, Flávio de. “Max Bill critica a nossa moderna arquitetura – entrevista com Max Bill”, Revista Manchete, n.60, Rio de Janeiro, 13 de junho de 1953.
ARANTES, Otília B. F. “Lúcio Costa e a ‘boa causa’ da arquitetura moderna”. In: ARANTES, Paulo; ARANTES, Otília, Sentido da formação: três estudos sobre Antonio Candido, Gilda de Mello e Souza e Lucio Costa. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
COSTA, Lúcio. “O Aleijadinho e a arquitetura tradicional” (1929). In: XAVIER, Alberto (org.). Sobre arquitetura. 2a ed. Porto Alegre: UniRitter, 2007 (Edição fac-símile de Lucio Costa, Sôbre Arquitetura. XAVIER, Alberto (org.), Porto Alegre, UFRGS, 1962).
COSTA, Lúcio. Memorial descritivo do plano piloto de Brasília, projeto vencedor do concurso público nacional (1957). In: Sôbre Arquitetura, XAVIER, Alberto (org.), 2a ed., coord. por Anna Paula Cortez. Porto Alegre: UniRitter, 2007.
COSTA, Lúcio. “A arquitetura dos jesuítas no Brasil”, Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n.5, Rio de Janeiro: IPHAN, 1941, p.9-104. Re-editado em Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – 60 anos: A Revista, n.26, Rio de Janeiro: IPHAN/Ministério da Cultura, 1997, p.104-169.
BURTI, Sérgio e TITAN Jr, Samuel. Marcel Gautherot Brasília, com um ensaio de Kenneth Frampton. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2010.
GOMES, Geraldo. Arquitetura e engenho. Recife: Fundação Gilberto Freyre, 1998.
GOROVITZ, Matheus. “Sobre uma obra interrompida: o instituto de teologia de Oscar Niemeyer”. In: Minha Cidade, São Paulo, portal Vitruvius, ano 9, v.2, setembro de 2008. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/09.098/1877. Disponível online em 05/07/2011.
GUERRA, Abílio. O primitivismo em Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Raul Bopp: origem e conformação no universo intelectual brasileiro. São Paulo: Romano Guerra/Coleção RG Bolso 3, 2010.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 5a ed. Prefaciado por Antonio Candido. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
MARTINS, L. R. “De Tarsila a Oiticica: estratégias de ocupação do espaço no Brasil”, Revista Margem Esquerda/Ensaios Marxistas, n.2, São Paulo: Boitempo, novembro de 2003, p.153.
NIEMEYER, Oscar. Minha Arquitetura. Rio de Janeiro: Revan, 2000, p.24-9.
NIEMEYER, Oscar. “Como se tudo começasse outra vez”, O Estado de S. Paulo, 5/12/2002, p.C3.
NIEMEYER, Oscar. “Depoimento”, Revista Módulo, n.9, Rio de Janeiro, fevereiro de 1958, p.3-6.
OLIVEIRA, Francisco de. A navegação venturosa: ensaios sobre Celso Furtado. São Paulo: Boitempo, 2003.
PASTA JUNIOR, José Antonio, “Changement et idée fixe”. Centre de Recherche sur les Pays Lusophones, cahier n.10, Paris: Sorbonne Nouvelle, 2003.
PASTA JUNIOR, José Antonio, “Changement et idée fixe”. “O romance de Rosa: temas do Grande Sertão e do Brasil”. Centre de Recherche sur les Pays Lusophones, cahier n.4: La ville: exaltation et distanciation: études de littérature portugaise et brésilienne, sous la direction de Anne-Marie Quint, Paris: Sorbonne Nouvelle, 1997.
PASTA JUNIOR, José Antonio, “Changement et idée fixe”. “Singularidade do duplo no Brasil: a clínica do especular na obra de Machado de Assis”, Cahiers de la journée du cartel franco-brésilien de psychanalyse: le 1er. décembre 2002, Paris: Association Lacanienne Internationale, 2002.
PEDROSA, Mário “Reflexões em torno da nova capital”. In: ARANTES, Otília B. F. (org.), Acadêmicos e modernos: textos escolhidos, v.III, São Paulo: Edusp, 1995.
PINHEIRO, Israel. “Uma realidade: Brasília”, Módulo, n.8, p.2-5, junho de 1957, apud COSTA, Aline. “(Im)possíveis Brasílias: os projetos apresentados no concurso do plano piloto da nova capital federal”, dissertação de mestrado, orientação de Prof. Dr. Marcos Tognon, Campinas, Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas, 2002.
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. Coleção Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro. São Paulo: Publifolha, 2000.
RECAMÁN, Luiz. Oscar Niemeyer: forma arquitetônica e cidade no Brasil Moderno. Tese de doutoramento, orientação de Celso Fernando Favaretto, São Paulo, Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2002.
RECAMÁN, Luiz. “Forma sem utopia”. In: ANDREOLI, Elisabeta; FORTY, Adrian (orgs.). Arquitetura moderna brasileira. Nova York: Phaidon Press Limited, 2004.
ROMERO, José Luis, “La ciudad barroca”. In: La ciudad occidental: culturas urbanas en Europa y America. Buenos Aires: Siglo Véintiuno, 2009.
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2011 Luiz Renato Martins