Resumo
A acumulação primitiva de capital compreende diversos fatores que possibilitaram o desenvolvimento do capital industrial como força autônoma. A ruptura na ordem social pré-capitalista europeia se deu a partir de um encadeamento de fatores sociais, econômicos, financeiros e políticos, que estabeleceram as condições necessárias ao desenvolvimento do capitalismo enquanto modo de produção historicamente definido. O problema tratado neste artigo refere-se ao papel específico que a dívida pública e a intervenção estatal pré-capitalista, por meio deste mecanismo financeiro, representaram no encadeamento e na constituição da acumulação primitiva. Nossa hipótese é que a dívida pública possibilitou: i) a mobilização e a transferência de massa de valores, potencializando a despossessão de propriedades; ii) o estabelecimento das condições creditícias e institucionais necessárias à conformação do sistema de crédito moderno capitalista; iii) a conformação espacial do capitalismo nos séculos XVIII e XIX, proporcionando a transferência de riqueza necessária ao desenvolvimento do capitalismo industrial britânico e estadunidense.
Referências
ANDERSON, P. Passages from Antiquit to Feudalism. London: New Left, 1974. [Ed. bras.: Passagens da Antiguidade ao feudalismo. São Paulo: Editora Unesp, 2016.]
ARRIGHI, G.; HUI, P.; RAY, K.; REIFER, T. E. Geopolítica e altas finanças. In: ARRIGHI, G.; SILVER, B. J. Caos e governabilidade no moderno sistema mundial. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora UFR, 2001.
BRUNHOFF, S. de. A moeda em Marx. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
BRUNHOFF, S. de. Estado e capital: uma análise da política econômica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1985.
CAMPOS, L. A crise completa: a economia política do não. São Paulo: Boitempo, 2001.
DOBB, M. A evolução do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1987.
DOBB, M. Uma réplica. In: SWEEZY, P. et al. Do feudalismo ao capitalismo. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. São Paulo: Centauros, 2002.
FERGUSON, N. A lógica do dinheiro: riqueza e poder no mundo moderno (1700-2000). São Paulo: Record, 2007.
FINE, Ben. Marx’s Capital. 3.ed. London: Macmillan, 1988.
GERMER, C.M. Credit money and the functions of money in capitalism. International Journal of Political Economy, v.27, n.1, Spring 1997, p.43-72.
GLEESON, J. O inventor do papel: a verdadeira história do pai das finanças modernas. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
GOLDSHEID, R. A sociological approach to problems of Public Finance. In: MUSGRAVE, R. A.; PEACOCK, A. T. Classics in the Theory of Public Finance. London: The Macmillan Company, 1958.
GROSSMANN, H. La ley de la acumulación y del derrumbe del sistema capitalista. Madrid: Siglo Veintiuno, 1979.
HARVEY, D. Os limites do capital. São Paulo: Boitempo, 2013
HILFERDIG, R. O capital financeiro. São Paulo: Nova Cultural, 1985.
HOBSBAWM, E. Como mudar o mundo: Marx e o marxismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
HOBSBAWM, E. Do feudalismo para o capitalismo. In: SWEEZY, P. et al. Do feudalismo ao capitalismo. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
ITOH, M.; LAPAVITSAS, C. Political Economy of Money and Finance, 1997 (mimeo).
LIANOS, T. P. Marx on the Rate of Interest. Review of Radical Political Economics, New York, v.19, n.3, 1987, p.34-55.
MARX, K. & ENGELS, F. A ideologia alemã – teses sobre Feuerbach. São Paulo: Moraes, 1984.
MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983.
MARX, K. Elementos fundamentales para la critica de la económia política (Borrador) 1857-1858. v.I e v.II. México: Siglo XXI Argentina, 1977.
MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Nova Cultural, 1991. (Seleção de textos de José A. Giannotti.)
MARX, K. O 18 Brumário e Cartas a Kugelmann. 4.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. v.I. São Paulo: Boitempo, 2013.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. v.II. São Paulo: Boitempo, 2014.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. v.III. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/DIFEL, 1981.
MARX, K. Teorias da mais-valia. v.III. São Paulo: Difel, 1985.
MERRIGTON, J. A cidade e o campo na transição para o capitalismo. In: SWEEZY, P. et al. Do feudalismo ao capitalismo. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
MONIZ BANDEIRA, L. A. Formação do império americano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
PREOBRAJENSKY, E. A nova econômica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
RICARDO, D. Princípios de economia política e tributação. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
RIST, Charles. Historia de las doctrinas relativas al crédito y a la moneda: desde John Law hasta la actualidad. Barcelona: Bosch, Casa Editorial, 1945.
ROBERTSON, R. M. História da economia americana. v.II. Rio de Janeiro: Record, 1979.
SMITH, A. A riqueza das nações. v.III. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
SWEEZY, P. et al. Do feudalismo ao capitalismo. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
SWEEZY, P. Uma crítica. In: SWEEZY, P. et al. Do feudalismo ao capitalismo. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
TAYLOR, Philip E. Economia de la hacienda publica. Madrid: Aguilar, 1960.
TRINDADE, J. R. Sistema de crédito e oferta global de capital de empréstimo. Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política, n.32, jun. 2012.
WRAY, L. Randall. Trabalho e moeda hoje: a chave para o pleno emprego e a estabilidade dos preços. Rio de Janeiro: Contraponto, 2003.
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2018 José Raimundo B. Trindade