Resumo
Tem-se o fascismo clássico por regime maximamente repressivo. Assim, como supor que o fascismo poderia se atualizar mediante o hedonismo e a desregulamentação? Mas tal é a tese precursora de Kubrick em Laranja mecânica (1971), um dos primeiros filmes a notar a reversão de termos e expectativas despertados pelo movimento de maio de 1968. Para determinar o novo fascismo, é necessário estabelecer as correspondências entre a estética da violência, inerente ao fascismo clássico e que reaparece no filme
de Kubrick sob a espontaneidade das gangues de rua, cujas ações fazem de cada noite uma nova Kristallsnacht (1938), e a realização do imaginário, sob sinais combinados de imediatismo e mascaramento, temas narcísicos e estritamente atuais. Assim, Laranja mecânica funciona, para Kubrick, como um laboratório. O que sintetiza em tal “ficção-científica-política”? Os efeitos da derrota da revolução política de 1968, o butim obtido pelo capital: o desmantelamento do Welfare State; a transformação do Estado em organização criminal e em simbiose com a mídia, a serviço do absolutismo do mercado.
Referências
BANAJI, Jairus. Fascism as a Mass-Movement: Translator’s Introduction. Historical Materialism, Londres, v.20, n.1, 2012, p.133-143.
FOUCAULT, Michel. Il faut défendre la société: cours au Collège de France (1975-1976). Ed. Mauro Bertani e Alessandro Fontana, sob a direção de François Ewald e Alessandro Fontana. Paris: Hautes Études/Seuil-Gallimard, 1997. [Ed. port.: É preciso defender a sociedade. Lisboa: Livros do Brasil, 2006.]
FOURASTIÉ, Jean. Les trente glorieuses ou la révolution invisible de 1946 à 1975. Paris: Fayard/Pluriel, 2011.
MARTINS, Luiz Renato. El triste fin del estado de bienestar: la parábola de Kubrick. In: PINCHEIRA, Iván et al. (eds.). Máquinas del saber, mecanismos del poder, prácticas de subjetivación. Actas de la 1a Jornada Transdisciplinar de Estudios en Gubernamentalidad/Núcleo de Estudios en Gubernamentalid de la Universidad de Chile. Santiago: Ediciones Escaparate, 2016. p.59-64.
PASOLINI, Pier Paolo. Il genocidio. Rinascita, 27 set. 1974. In: Scritti corsari. Milão: Garzanti, 1975. p.281-287.
PASOLINI, Pier Paolo. La prima, vera rivoluzione di destra. Tempo Ilustrato, 15 jul. 1973. In: Scritti corsari. Milão: Garzanti, 1975. p.24-30.
PASOLINI, Pier Paolo. Scritti corsari. Milão: Garzanti, 1975.
PINCHEIRA, Iván et al. (eds.). Máquinas del saber, mecanismos del poder, prácticas de subjetivación. Actas de la 1a Jornada Transdisciplinar de Estudios en Gubernamentalidad/Núcleo de Estudios en Gubernamentalid de la Universidad de Chile. Santiago: Ediciones Escaparate, 2016.
ROSENBERG, Arthur. Fascism as a Mass-Movement (1934). Trad. Jairus Banaji. Historical Materialism, Londres, v.20, n.1, 2012, p.144-189.
![Creative Commons License](http://i.creativecommons.org/l/by/4.0/88x31.png)
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2019 Luiz Renato Martins