Estádios excludentes, torcedores invisíveis: um estudo discursivo de comunidades de torcidas lgbts no facebook

Resumo

A partir do instrumental teórico da Análise do Discurso materialista desenvolvida por Pêcheux, em diálogo com os Estudos de Gênero, este trabalho retoma o conceito de lugar de enunciação em Zoppi-Fontana (2017) para analisar práticas discursivas de resistência inseridas no campo digital. Nosso corpus de análise é composto pela identidade visual e por um recorte de postagens das páginas Palmeiras Livre, Galo Queer, Queerlorado e Bambi Tricolor, coletivos de torcidas LGBTs no Facebook, que em tomadas de posição na modalidade de identificação elaborada por Pêcheux (1977) como contraidentificação, resistem e opõem-se às políticas do silêncio (ORLANDI, 2007) e aos sentidos dominantes sobre LGBTs, mulheres e negros no futebol. Esse posicionamento produz tensões em um espaço que historicamente construiu o homem cisgênero e heterossexual como seu interlocutor legítimo. Assim, analisamos demandas políticas de representação e de resistência, provenientes de lugares de interdição histórica, que abrem brechas discursivas e produzem deslocamentos de sentidos, a partir dos quais reivindicam legitimidade de outras formas de subjetivação. Em nosso percurso, refletimos ainda sobre os contradiscursos com os quais essas comunidades são confrontadas ao questionar uma ordem discursiva heteronormativa, a partir dos quais analisamos efeitos de evidência, preconceitos e silenciamentos.