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O trabalho dos profissionais do centro de material e esterilização do centro de atenção integral à saúde da mulher de Campinas-SP na perspectiva da engenharia do trabalho
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Palavras-chave

Ergonomia
Engenharia do Trabalho
Saúde

Como Citar

PIRINO, Bruna; YOKOYAMA YAMAZATO, Celton; BEZERRA GEMMA, Sandra Francisca. O trabalho dos profissionais do centro de material e esterilização do centro de atenção integral à saúde da mulher de Campinas-SP na perspectiva da engenharia do trabalho. Seminários do LEG, Limeira, SP, v. 15, n. 1, p. 44–47, 2024. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/eventos/index.php/leg/article/view/11758. Acesso em: 12 jun. 2025.

Resumo

O Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti, também conhecido como CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher), foi inaugurado em março de 1986 e consolidou-se como referência de ensino, pesquisa e assistência altamente especializada à saúde da mulher e do recém-nascido, atendendo através do Sistema Único de Saúde (SUS). Dentre os seus processos mais importantes e que exigem altíssima eficácia está o processo de esterilização, que ocorre no Centro de Material e Esterilização (CME), uma unidade de apoio técnico dentro do estabelecimento de saúde destinada a receber material considerado sujo e contaminado, descontaminá-los, prepará-los e esterilizá-los, bem como, preparar e esterilizar as roupas limpas oriundas da lavanderia e armazenar esses artigos para futura distribuição no hospital (Borges, s.d.). 

Deste modo, por meio do financiamento do Fundo de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (FAEPEX) (Processo nº 2432/23) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) (Processo nº 88887.905882/2023-00), este resumo tem como objetivo compreender os desafios da atividade dos técnicos de enfermagem e enfermeiras do CME do CAISM pela perspectiva da Engenharia do Trabalho com ênfase na Ergonomia da Atividade. 

A justificativa baseia-se pelo contexto do CAISM, no qual o CME assume uma função crítica na esterilização de equipamentos para procedimentos cirúrgicos e assistenciais das mulheres e de recém-nascidos, pois qualquer mal funcionamento durante esse processo pode ocasionar mal-estar, infecções ou óbitos dos pacientes. O método adotado para compreender a atividade dos técnicos e enfermeiras consiste na revisão bibliográfica de estudos do trabalho (Abrahão et al. 2009; Guérin et al. 2001; Braatz; Rocha; Gemma, 2021; Dejours, 2012; Medeiros, 2021) a partir Engenharia do Trabalho com foco na Ergonomia da Atividade associada a nove observações globais da atividade realizadas em 2024 (três com enfoque nas enfermeiras e seis com enfoque nos técnicos de enfermagem do CME do CAISM), por meio de ferramentas de registros fotográficos, anotações das verbalizações simultâneas (realizadas durante a atividade) e consecutivas (logo após o término da atividade) (Guérin et al., 2001). 

O processo de esterilização visa destruir, sobretudo, todas as formas de vida microbiana, com objetivo de prevenir infecções, dar segurança para pacientes e profissionais e promover maior vida útil aos materiais. A esterilização se baseia no tipo de material e no tipo de contaminação encontrada, e pode ser realizada por processos químicos ou físicos (CRQSP, 2023). Para entender como é o processo de esterilização, é necessário explicar a estrutura dos setores do CME: primeiro há recebimento e limpeza do material contaminado  (Expurgo), depois o material é embalado (Preparo) para posteriormente ser esterilizado em alta temperatura pelo maquinário (Autoclave) para ser estocado e distribuído para os setores do Hospital. O CME possui o horário de funcionamento entre 07h00 e 22h00 todos os dias e em três turnos (manhã - 07h00-13h00; tarde - 13h00-19:00, intermediário - 16:00-19:00) contendo uma enfermeira supervisora, quatro enfermeiras, uma para cada turno e uma folguista, e vinte e quatro técnicos (manhã - dez; tarde - dez; vespertino - quatro). Além disso, há a alocação de profissionais gestantes e profissionais com restrições físicas e mentais a fim de evitar o contato com o paciente, dinamizando as escalas. 

Diante deste cenário, a Engenharia do Trabalho auxilia a investigar, avaliar e melhorar os processos laborais, visando garantir condições seguras, saudáveis e eficientes para os trabalhadores. Abrangendo uma gama de disciplinas, como Ergonomia, segurança ocupacional, saúde no trabalho e organização laboral, esta área busca integrar conhecimentos técnicos e humanos para aprimorar o ambiente de trabalho (Braatz; Rocha; Gemma, 2021). Dentro do campo da Engenharia do Trabalho, a Ergonomia é utilizada para examinar e melhorar as condições laborais, levando em conta as habilidades e restrições físicas e mentais dos trabalhadores. Isso engloba desde o projeto dos postos de trabalho até o desenvolvimento de ferramentas e equipamentos com o intuito de reduzir os riscos de lesões musculoesqueléticas, fadiga, estresse e outros problemas de saúde vinculados ao trabalho (Braatz; Rocha; Gemma, 2021). 

Logo, a partir dos conceitos de trabalho prescrito e trabalho real, que são aspectos que se encontram dentro da Ergonomia, é possível compreender o que é o trabalho para analisar posteriormente a atividade dos profissionais do CME do CAISM. O trabalho prescrito refere-se às tarefas, procedimentos e instruções formalmente estabelecidos e documentados pela organização (Abrahão et al., 2009). No caso dos técnicos de enfermagem do CME são os Procedimentos Operacionais Padrão (POPs), os horários de recebimento dos materiais contaminados e de distribuição dos esterilizados, a RDC 15/2012 (Brasil, 2012) estabelecendo diretrizes para o processamento de produtos da saúde, os Informes estabelecidos entre a enfermeira supervisora, as enfermeiras dos plantões e os técnicos, dentre outros, enquanto que para as três enfermeiras dos três turnos há a divisão de tarefas acordada entre elas: realizar o inventário do estoque (turno da manhã), conferir o material respiratório (turno da tarde), gravar as pinças novas ou recebidas após o conserto (turno intermediário). Assim, o trabalho prescrito, que se relaciona à tarefa, representa aquilo que deve ser feito, ou seja, a maneira idealizada e planejada pelos gestores de realizar as atividades, considerando as melhores práticas, a segurança, a eficiência e a qualidade do processo produtivo (Guérin et al., 2001). 

Por outro lado, o trabalho real, referente à atividade, diz respeito à forma como as tarefas são de fato executadas no dia a dia, levando em consideração as condições reais do ambiente de trabalho, as demandas operacionais, as interações sociais, as habilidades dos trabalhadores, as restrições temporais, entre outros fatores (Abrahão et al., 2009). No caso dos técnicos, há a variação dos horários do recebimento e distribuição do material, posto que, apesar de haver horários fixos, o material pode estar em sala, ou seja, ainda sendo usado; a prioridade dos materiais de videolaparoscopia pela alta demanda e poucos materiais deste tipo disponíveis; as restrições que impedem que haja uma rotatividade de todos os técnicos entre os quatro setores e restrições temporárias (gestantes) que são alocadas somente ao Preparo; o tempo de experiência que varia de meses há mais de 15 anos, por exemplo. Nada obstante, as enfermeiras reajustam a escala conforme os afastamentos dos técnicos e o ingresso temporário das profissionais gestantes para trabalharem até entrarem de licença, atuam na assistência como técnicas pela ausência de reposição dos técnicos, mediam conflitos entre os funcionários e entre a demanda de outros setores, dentre outros desafios. 

Portanto, o trabalho real muitas vezes difere do trabalho prescrito devido a variabilidades e imprevistos que surgem durante a execução das atividades, por isso “trabalhar é vencer, preencher o hiato entre o prescrito e o efetivo”, sendo essa ponte é construída a partir da inventividade ou descoberta pelo sujeito que trabalha (Dejours, 2012, p. 25). Assim, para compreender o trabalho é necessário observar a atividade e conhecer as variabilidades intra e inter-individuais, ou seja, as singularidades do CME do CAISM e de cada um de seus profissionais (tempo de CME, cargo, sexo, altura, idade, regime de contratação) (Abrahão et al., 2009). Em relação aos profissionais, foi possível aferir a predominância do trabalho feminino entre os técnicos e absoluto entre as enfermeiras, um recorte de raça preta feito com base na autodeclaração com relação às técnicas e branca às enfermeiras, além do recorte de idade a partir dos 40 anos. Em decorrência disso, as questões futuras pairam sobre a relação de prazer, como o reconhecimento profissional e o cuidado indireto do paciente, e o sofrimento no trabalho, como o impedimento à plena realização de sua atividade pela falta de insumos, quebra constante dos equipamentos, ausência de reposição de profissionais (Medeiros, 2021). 

Palavras-chave: Ergonomia; Engenharia do Trabalho; Saúde.

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Referências

ABRAHÃO, J.; SZNELWAR, L.; SILVINO, A.; SARMET, M.; PINHO, D. Introdução à ergonomia: da prática à teoria. São Paulo: Blucher, 2009. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=3077617. Acesso em: 06 set. 2024.

BORGES LEITE, F. Central de material esterilizado projeto de reestruturação e ampliação do hospital regional de Francisco Sá. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/artigos/artigo_CME_flavia_leite.pdf. Acesso em: 08 mai. 2024.

BRAATZ, Daniel; ROCHA, Raoni; GEMMA, Sandra. Engenharia do trabalho: saúde, segurança, ergonomia e projeto. Santana de Parnaíba, SP: Ex-Libris Comunicação Integrada, 2021. 549 p. Disponível em: https://engenhariadotrabalho.com.br. Acesso em: 10 maio 2024.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n.º 15, de 15 de março de 2012. Dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 mar. 2012. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2012/rdc0015_15_03_2012.html. Acesso em: 9 set. 2024.

CAISM. Disponível em: https://www2.caism.unicamp.br. Acesso em: 06 mai. 2024.

CRQSP. A importância da esterilização de instrumentos na área da saúde. 2023. Disponível em: https://crqsp.org.br/a-importancia-da-esterilizacao-de-instrumentos-na-area-de-saude/. Acesso em: 09 mai. 2024.

DEJOURS, C. Trabalho vivo: trabalho e emancipação. Vol. 2. Brasília: Paralelo 15, 2012.

GUÉRIN, F.; LAVILLE, A.; DANIELLOU, F.; DURAFFOURG, J.; KERGULEN, A. Compreender o trabalho para transformá-lo: a prática da ergonomia. São Paulo: Edgard Blücher, 2001.

MEDEIROS, N. M.; SCHNEIDER, D. S. S.; GLANZNER, C. H. Centro de materiais e esterilização: riscos psicossociais relacionados à organização prescrita do trabalho da enfermagem. Rev Gaúcha Enferm., v. 42, e20200433, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200433. Acesso em: 07 mai. 2024.

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